Sérgio Conceição é grande!
Esta vitória na Taça foi mais um título para o treinador do FC Porto, mas também ele sonha com proezas maiores, na senda de Artur Jorge e Mourinho
O FC Porto conquistou a sua 18.ª Taça de Portugal e terminou em festa uma temporada futebolística notável, à qual faltou, apenas, um desempenho europeu mais afirmativo, que não foi mau, sublinhe-se, mas emergiu a ideia de ter desaproveitado excelente oportunidade para voltar a marcar presença numa final, e ganhá-la. Sérgio Conceição teria esse objetivo em mente, mas razões mais fortes se levantaram e foi preciso tomar decisões quando percebeu que o combustível não dava para chegar a todas as frentes.
Fiel ao princípio sagrado de jogar sempre para triunfar, o treinador portista jamais admitirá que se sentiu condicionado por eventual limitação de recursos humanos nas opções que tomou, mas daqui a não sei quantos anos, se alguém se lembrar, esta dúvida eterna continuará a alimentar interessantes e animadas conversas, principalmente no seio da família portista. Nem é preciso trazer para cima da mesa o processo do goleador que nunca chegou, mas é legítimo imaginar o que poderia ter sido esta época se o mercado de janeiro não tivesse sido tão severo para o treinador do dragão. Ninguém gosta de perder as suas peças mais valiosas, sobretudo a meio da viagem.
Sérgio Conceição está de parabéns, tal como os seus jogadores e todos os seus colaboradores. De certeza que vai continuar a sua missão no FC Porto, não por imperativos contratuais mas por me parecer muito intensa e genuína a ligação que o prende a Pinto da Costa. Creio que as ténues reticências que deixa escapar quando é abordado sobre a sua permanência são meros instrumentos de defesa, face a surpresas desagradáveis que têm sido frequentes no passado recente e das quais se quer proteger.
No essencial, deve pretender melhorias no plantel e ter a garantia superior de não ser confrontado com inevitabilidades comprometedoras, tal como sucedeu este ano, com a saída de Luis Díaz para o Liverpool. É um receio justificado e ao qual o presidente deu resposta hábil, em cerimónia realizada no museu, ao recordar que vai fazer anos que ele e Sérgio Conceição, «sem papel nem caneta», assinaram um compromisso que «dura e durará» para concretizar os sonhos que tem na cabeça.
Esta vitória na Taça foi mais um título para o treinador do FC Porto, mas também ele sonha com proezas maiores, na senda de Artur Jorge e José Mourinho, e também de André Villas-Boas. Um desejo que gostaria de concretizar ao serviço do dragão. Não é fácil, nunca pode ser fácil de alcançar tamanha ambição, mas, «tendo todos os sonhos do mundo», os impossíveis diluem-se na insubmissa força de acreditar e o treinador de um clube que neste século XXI já conquistou duas Ligas Europa, uma Liga dos Campeões e uma Taça Intercontinental sente-se obrigado a reclamar o melhor deste mundo.
Conceição é um treinador fantástico, até na personalidade mal compreendida, ora insolente e rebelde, ora respeitosa e amável. Deve moderar-se nos excessos de cada vez que perde, o pior dos seus pecados. Exagera, descontrola-se, mas também é verdade que os adeptos de emblemas rivais, ao criticarem-no como criticam, gostariam de o ver do seu lado. «Este grupo foi o melhor que tive. Foi humilde para perceber por que não ganhámos no ano passado», declaração de grande líder e de grande pessoa, endereçando ao coletivo todos os méritos pelo sucesso.
SCHMIDT E O TESTE
R OGER Schmidt chega hoje a Lisboa, mas, para que conste, Erik ten Hag, campeão dos Países Baixos ao serviço do Ajax e contratado pelo Manchester United, já está em Inglaterra, assistiu este domingo ao jogo com o Crystal Palace e, como afirmara há uma semana, nem tirou férias de modo a começar a preparar a época do seu novo clube e acertar detalhes em relação ao plantel.
De Cristiano Ronaldo espera que marque golos, disse. Confessou ter altas expectativas, mas exige o mesmo do grupo, que vai ser obrigado a dar o melhor todos os dias, porque, para ele, «ser bom não chega». Os adeptos do United gostaram do que ouviram, com certeza, um discurso de exigência feito por alguém que quer «colocar o clube no lugar que merece» e promete um «futebol fantástico».
Terminado o campeonato neerlandês, Ten Hag saudou os adeptos do Ajax e comunicou que iria começar «trabalhar intensamente para finalizar o staff e planear o plantel do United». Tudo normal.
No PSV, e no mesmo dia, Roger Schmidt recusou-se a abordar o tema Benfica («não vou falar de outro clube neste dia»), anunciou que iria passar algum tempo com os seus jogadores, provavelmente uma comemoração de final de época, e só depois iria pensar no futuro. Sinal de quem ainda teria alguma dúvida por esclarecer. Tudo normal também, e mais normal ficou depois de se saber que Rui Costa testou positivo ao Covid-19 no sábado seguinte ao jogo com o Paços de Ferreira, o que me leva a pensar que o treinador alemão foi imediatamente informado do resultado da testagem ao presidente encarnado e da necessidade de cancelar o programa até nova ordem, de aí as suas respostas fugidias sobre o assunto. Como a ingenuidade ainda não paga imposto, quero convencer-me que deve ter sido assim...