Senorise Perry
Senorise Perry, 27 anos, era só outro jogador de futebol americano até ter chegado este ano aos Bufallo Bills e escolhido a camisola 32, assim reanimando uma assombração, qual filme de terror no qual o monstro não morre garantidamente no final, empurrando as incertezas para a sequela de menor qualidade. Aquele 32 não era usado nos Bills desde OJ Simpson, um dos mais celebrados atletas da América.
O número desaparecera entre más memórias em 1994 no início do julgamento do século, como lhe chamaram, quando OJ foi acusado de assassinar a ex-mulher, Nicole Brown, e um amigo dele, Ronald Goldman, talvez amante de Nicole. Houve um circo jurídico em direto na televisão durante ano e meio, com discussão de provas sangrentas e comportamentos suspeitos. E os Bills nunca souberam o que fazer à camisola. Não a retiraram em homenagem, porque não o tinham feito antes; e não o ousaram no decurso sensível do julgamento. Um 32 morto-vivo - não retirado, logo não morto; não usado, logo não vivo.
OJ seria inocentado dos homicídios de forma controversa, porém mais tarde preso por roubo e rapto, até à libertação em outubro de 2017. Entrevistado há dias disse que «a vida está boa» e achou «compreensível» que Senorise queira o 32. Aquele número dá que pensar: se lembra o famoso passado desportivo, não esquece o infame passado forense.
No que toca a terrores que voltam elejo invariavelmente a história de It, de Stephen King, como a preferida, na qual o palhaço Pennywise volta a cada 27 anos para se saciar de medos e memórias assustadoras. Entre o ano do início do julgamento de OJ e a escolha porventura amaldiçoada de Senorise passaram-se não 27 mas 25 anos. Dois anos, portanto, impedem o acaso, uma coisa nada tem a ver com a outra. É só uma camisola 32. Mesmo a sonoridade dos nomes é trivial coincidência, é tudo devaneio, claro: Perry, Senorise; Pennywise.