Senhor Professor Eduardo Barroso, Meu Bom Amigo 

OPINIÃO29.07.201801:56

Há precisamente quinze dias partilhámos, aí  na Praia do Alvor, um frango assado e umas batatas fritas. Diria  que com sal a mais.  Após   a minha vista - sim só a minha visão ! - o ter  acompanhado  no seu ousado mergulho na água, ao que escutava bem fria,  desse singular e bonito naco do seu Algarve . Que tão bem conhece desde a sua infância. Ali estão parte das suas incríveis memórias, também dos seus primos e primas, as arribas  que agora  assustam, a areia que sempre atrai, as ondas que seriamente motivam.  Na noite anterior  no - na ? - Restinga saboreámos umas lulas do outro mundo, umas ameijoas  deliciosas  e mais uma vez brindámos à vida!  Como o nosso comum e querido amigo Joaquim sempre nos  motiva . Há oito dias ,  quase que em simultâneo , tenho, temos, a notícia do seu problema de saúde, do sinal de alerta do seu coração.  Na verdade o  nosso  Amigo  Joaquim ligava a dar nota da crise surgida, da urgência necessária , das cautelas exigidas, das restrições a impor . E da Colômbia, quase de um dos  outros lados do mundo o Manel, com a sua voz bem sentida de séria preocupação  , perguntava pelo Eduardo e solicitava informações permanentes . Esta semana encontrei um livro de Eça de Queirós , de 1939, que nos leva às suas ‘Cartas Familiares e Bilhetes de Paris’. Não são os excluídos ‘Maias’ mas são sempre parágrafos bem deliciosos.  Que nos levaram a esta carta ! E bem ao lado deparei com um livro que o Eduardo me,  nos ,  ofereceu , em que a propósito de uma justa homenagem ao Professor João Pena  proclamava,  e bem, que valeu a pena a criação e a excelência do Centro Hépato-Bilio-Pancretático e de Transplantação. Valeu e vale  bem a pena. Estas palavras que  aqui , com toda a simplicidade lhe deixo,  são uma exaltação à vida, um reconhecimento à sua amizade , um agradecimento à sua contínua -e de toda a sua querida Família com especial referência a sua amada Esposa - deferência, um cumprimento à sua permanente disponibilidade. Bem o sei e bem o senti.  Em diferentes e  difíceis momentos.  Partilhámos largos momentos  em múltiplas  segundas feiras . Cada um de nós defendia o clube da nossa paixão. Por vezes deixámos a razão ser tolhida pela excessiva paixão. Mas nunca, nunca mesmo, o Eduardo, o Manel e eu  deixámos de nos cumprimentar no final de cada programa. Nunca mesmo. E continuámos a jantar na Tia Matilde,  às claras e sempre com vontade de nos abraçar com sentimento. Mesmo que circunstâncias que o tempo  conhecerá  nos tivessem separado , nunca permitimos  que o prolongamento nos deixasse. Como sabe temos o nosso jantar marcado para o arranque da Liga e o pato com arroz e a sopa de peixe esperam por nós. Como espera por nós  o  jantar  no Restinga em Julho de 2019. É que , Eduardo,  a nossa partilha vale a pena! Vale mesmo. Sei bem que num jantar com o Eduardo e com o Joaquim eu tenho direito a apenas cinco por cento do  total  da  conversa . E resigno-me ! Mas sei que aprendo imenso. Aprendo a sentir a vida. A saudar a vida. A ter a consciência, em definitivo, que a vida é um encontro saudável entre o eu e o tu. E , no final e afinal, esse encontro leva-nos ao nós! E é este nós que eu, hoje e aqui, enalteço. Quero, queremos, continuar a aprender consigo. Na sua agora bem motivadora  Fundação   e com e no livro que nos vai proporcionar lá para o final deste ano. Com a   imensa  alegria do avô - verdadeiro pai com mel - a pegar ao colo da sua Vera e nos embalar nessa contagiante ternura .   Quero , queremos, continuar a escutar estórias de vidas mas, permita-me, algumas estórias do meu Benfica. Que muitos de nós, benfiquistas, desconhecemos. Mas que o Eduardo nos proporciona com a certeza que o silêncio  é um vínculo de  total fidelidade.  Quero,  queremos, o seu registo acerca  de Bruno de Carvalho, dos múltiplos candidatos, da realidade atual do Sporting, do futuro-próximo do seu clube de coração e , digo, por vezes, motivando uma sua excessiva paixão. Quero, queremos, saber novidades do Jorge Jesus, incluindo, agora, o seu percurso próximo - futuro (?) na Arábia Saudita.  Quero,   queremos,  ter o privilégio das suas confidências e das suas experiências, da sua doação e da sua persuasão, da sua vontade  e da sua sinceridade, do seu talento e do seu prazer. Deixando as dores para as costas.  Sem hérnias … Quero, queremos, continuar a sentir que o Eduardo consegue ver grandes penalidades com cores e que o seu VAR tem dias em que a perfeição não é total.  Quero,  queremos, ouvi-lo acerca do Porto, dos seus amigos portistas e portuenses e ambos temos a cortesia intensa para escutarmos o nosso comum amigo Joaquim a pedir o seu JB com cinco pedras de gelo! Sabendo eu que estive a um passo do penta e que o Eduardo também ficou bem contente por o meu Benfica não ter somado um título ao tetra  alcançado.  E percebi, percebemos, a alegria contagiante entre dois cirurgiões de excelência do nosso sistema de saúde e , também, do Serviço Nacional de Saúde (SNS) .  E sabendo tudo isto quero, queremos, continuar a escutar a sua voz, por vezes o seus gritos: Calem-se! E essa fulgurante inteligência não permite o silêncio. Implica uma intensa vontade de viver. De  ir a Alvalade sempre na busca de um sonho a concretizar. De uma vitória a alcançar. De uma conquista que também seja fruto das falhas dos vencidos. E sendo a vida, a nossa vida, variedade quero, queremos, dizer-lhe, hoje e aqui, que não permitiremos que nos deixe de nos impressionar, de abraçar, de telefonar, de convidar. Desde  já  o jantar,  neste  Agosto, na Tia Matilde. Decerto com as necessárias cautelas.  Depois uma visita ao e no Penedo, num dia em que o nevoeiro não perturbe  uma vista deslumbrante  para um singular verde sintrense que é total património da Humanidade. E para o ano, nesta mesma altura, uma nova visita ao - ou à? - Restinga  com a certeza que para mim as lulas já estão requisitadas e para o Eduardo o pregado , sem sal, já estará  notificado. E permita-me meu querido Eduardo que me aproprie das suas palavras naquele livro de homenagem justa ao Professor João Pena. Ai escreveu o Eduardo: «Cada um é como é. Eu prefiro a sua inteligência, competência , determinação e também o seu grande sentido de humor». É também tudo isso que prefiro, que  preferimos . Que  lhe reconheço, que lhe reconhecemos Eduardo. E estas singelas palavras, qual singela carta familiar - se o permite ! - servem para, desejando um bom regresso desse susto algarvio, lhe dizer o que quanto  lhe agradeço, lhe agradecemos. Lhes agradecemos. A  si e a sua querida, vasta  e unida Família. Sentimos, queremos, desejamos, ambicionamos continuar a brindar: À VIDA .
Aceite um forte, amigo e fraterno abraço do Fernando  Seara