Senhor Professor Eduardo Barroso, Meu Bom Amigo
Há precisamente quinze dias partilhámos, aí na Praia do Alvor, um frango assado e umas batatas fritas. Diria que com sal a mais. Após a minha vista - sim só a minha visão ! - o ter acompanhado no seu ousado mergulho na água, ao que escutava bem fria, desse singular e bonito naco do seu Algarve . Que tão bem conhece desde a sua infância. Ali estão parte das suas incríveis memórias, também dos seus primos e primas, as arribas que agora assustam, a areia que sempre atrai, as ondas que seriamente motivam. Na noite anterior no - na ? - Restinga saboreámos umas lulas do outro mundo, umas ameijoas deliciosas e mais uma vez brindámos à vida! Como o nosso comum e querido amigo Joaquim sempre nos motiva . Há oito dias , quase que em simultâneo , tenho, temos, a notícia do seu problema de saúde, do sinal de alerta do seu coração. Na verdade o nosso Amigo Joaquim ligava a dar nota da crise surgida, da urgência necessária , das cautelas exigidas, das restrições a impor . E da Colômbia, quase de um dos outros lados do mundo o Manel, com a sua voz bem sentida de séria preocupação , perguntava pelo Eduardo e solicitava informações permanentes . Esta semana encontrei um livro de Eça de Queirós , de 1939, que nos leva às suas ‘Cartas Familiares e Bilhetes de Paris’. Não são os excluídos ‘Maias’ mas são sempre parágrafos bem deliciosos. Que nos levaram a esta carta ! E bem ao lado deparei com um livro que o Eduardo me, nos , ofereceu , em que a propósito de uma justa homenagem ao Professor João Pena proclamava, e bem, que valeu a pena a criação e a excelência do Centro Hépato-Bilio-Pancretático e de Transplantação. Valeu e vale bem a pena. Estas palavras que aqui , com toda a simplicidade lhe deixo, são uma exaltação à vida, um reconhecimento à sua amizade , um agradecimento à sua contínua -e de toda a sua querida Família com especial referência a sua amada Esposa - deferência, um cumprimento à sua permanente disponibilidade. Bem o sei e bem o senti. Em diferentes e difíceis momentos. Partilhámos largos momentos em múltiplas segundas feiras . Cada um de nós defendia o clube da nossa paixão. Por vezes deixámos a razão ser tolhida pela excessiva paixão. Mas nunca, nunca mesmo, o Eduardo, o Manel e eu deixámos de nos cumprimentar no final de cada programa. Nunca mesmo. E continuámos a jantar na Tia Matilde, às claras e sempre com vontade de nos abraçar com sentimento. Mesmo que circunstâncias que o tempo conhecerá nos tivessem separado , nunca permitimos que o prolongamento nos deixasse. Como sabe temos o nosso jantar marcado para o arranque da Liga e o pato com arroz e a sopa de peixe esperam por nós. Como espera por nós o jantar no Restinga em Julho de 2019. É que , Eduardo, a nossa partilha vale a pena! Vale mesmo. Sei bem que num jantar com o Eduardo e com o Joaquim eu tenho direito a apenas cinco por cento do total da conversa . E resigno-me ! Mas sei que aprendo imenso. Aprendo a sentir a vida. A saudar a vida. A ter a consciência, em definitivo, que a vida é um encontro saudável entre o eu e o tu. E , no final e afinal, esse encontro leva-nos ao nós! E é este nós que eu, hoje e aqui, enalteço. Quero, queremos, continuar a aprender consigo. Na sua agora bem motivadora Fundação e com e no livro que nos vai proporcionar lá para o final deste ano. Com a imensa alegria do avô - verdadeiro pai com mel - a pegar ao colo da sua Vera e nos embalar nessa contagiante ternura . Quero , queremos, continuar a escutar estórias de vidas mas, permita-me, algumas estórias do meu Benfica. Que muitos de nós, benfiquistas, desconhecemos. Mas que o Eduardo nos proporciona com a certeza que o silêncio é um vínculo de total fidelidade. Quero, queremos, o seu registo acerca de Bruno de Carvalho, dos múltiplos candidatos, da realidade atual do Sporting, do futuro-próximo do seu clube de coração e , digo, por vezes, motivando uma sua excessiva paixão. Quero, queremos, saber novidades do Jorge Jesus, incluindo, agora, o seu percurso próximo - futuro (?) na Arábia Saudita. Quero, queremos, ter o privilégio das suas confidências e das suas experiências, da sua doação e da sua persuasão, da sua vontade e da sua sinceridade, do seu talento e do seu prazer. Deixando as dores para as costas. Sem hérnias … Quero, queremos, continuar a sentir que o Eduardo consegue ver grandes penalidades com cores e que o seu VAR tem dias em que a perfeição não é total. Quero, queremos, ouvi-lo acerca do Porto, dos seus amigos portistas e portuenses e ambos temos a cortesia intensa para escutarmos o nosso comum amigo Joaquim a pedir o seu JB com cinco pedras de gelo! Sabendo eu que estive a um passo do penta e que o Eduardo também ficou bem contente por o meu Benfica não ter somado um título ao tetra alcançado. E percebi, percebemos, a alegria contagiante entre dois cirurgiões de excelência do nosso sistema de saúde e , também, do Serviço Nacional de Saúde (SNS) . E sabendo tudo isto quero, queremos, continuar a escutar a sua voz, por vezes o seus gritos: Calem-se! E essa fulgurante inteligência não permite o silêncio. Implica uma intensa vontade de viver. De ir a Alvalade sempre na busca de um sonho a concretizar. De uma vitória a alcançar. De uma conquista que também seja fruto das falhas dos vencidos. E sendo a vida, a nossa vida, variedade quero, queremos, dizer-lhe, hoje e aqui, que não permitiremos que nos deixe de nos impressionar, de abraçar, de telefonar, de convidar. Desde já o jantar, neste Agosto, na Tia Matilde. Decerto com as necessárias cautelas. Depois uma visita ao e no Penedo, num dia em que o nevoeiro não perturbe uma vista deslumbrante para um singular verde sintrense que é total património da Humanidade. E para o ano, nesta mesma altura, uma nova visita ao - ou à? - Restinga com a certeza que para mim as lulas já estão requisitadas e para o Eduardo o pregado , sem sal, já estará notificado. E permita-me meu querido Eduardo que me aproprie das suas palavras naquele livro de homenagem justa ao Professor João Pena. Ai escreveu o Eduardo: «Cada um é como é. Eu prefiro a sua inteligência, competência , determinação e também o seu grande sentido de humor». É também tudo isso que prefiro, que preferimos . Que lhe reconheço, que lhe reconhecemos Eduardo. E estas singelas palavras, qual singela carta familiar - se o permite ! - servem para, desejando um bom regresso desse susto algarvio, lhe dizer o que quanto lhe agradeço, lhe agradecemos. Lhes agradecemos. A si e a sua querida, vasta e unida Família. Sentimos, queremos, desejamos, ambicionamos continuar a brindar: À VIDA .
Aceite um forte, amigo e fraterno abraço do Fernando Seara