Semear ventos, colher tempestades...
A sentença proferida na última sexta-feira, que condenou a FC Porto SAD e um funcionário ao pagamento de dois milhões de euros, mais juros, ao Benfica, representou a primeira resposta dos tribunais ao caso dos emails. Outras se seguirão. Tal como tenho feito até aqui, manter-me-ei fiel ao princípio de acreditar na Justiça, que tem tempos e modos muito próprios, que devem ser respeitados.
Não obstante, algumas coisas, relevantes, que resultaram da sentença tornada pública há três dias, merecem análise, comentário e cuidada ponderação.
A primeira, irrefutável, é a circunstância de vários emails roubados ao Benfica terem sido truncados, alterando-lhes o sentido, de forma deliberada, pensada e criminosa. Se, no entender de quem o fez, as provas contra o clube da Luz eram tão esmagadoras, porquê este comportamento?
E, a reboque desta circunstância, surge uma pergunta, inevitável, de longo alcance: O FC Porto revê-se nesse comportamento, subscreve os atos de quem, segundo o juiz, praticou uma «omissão nitidamente dolosa, cirúrgica e inteligente», que «desvirtua totalmente o sentido dessa comunicação»? Porque, ainda citando o acórdão, «esta deturpação seletiva do texto é pior do que uma mentira, pois, essa é facilmente posta em causa, a deturpação é bem mais difícil de detetar e nunca porá em causa a primeira impressão já criada.»
A segunda tem a ver com os limites que foram ultrapassados, o mais evidente, o da violação da privacidade das comunicações, uma das bases de confiança na vida em sociedade, seguindo-se a evidente concorrência desleal e, para terminar, a mais soez de todas, a intrusão na vida privada, de que Domingos Soares Oliveira e a família foram as principais vítimas. Mas será bom lembrar que há outros processos a correr, movidos por quem se sentiu ofendido, alguns deles baseados em emails adulterados, que em breve saltarão para a ribalta...
Só em nome de uma estratégia feita de desespero é possível conceber que valesse tudo, de forma tão despudorada.
Os próximos capítulos apontam para a entrada em cena da Liga de Clubes, Federação Portuguesa de Futebol, CMVM, Autoridade da Concorrência e investigação criminal, num processo multifacetado e definidor do futuro, a que a UEFA não ficará alheia...