Semana 2 - Alberto

OPINIÃO22.03.202003:00

1 - Estamos em emergência. O Estado e nós todos. Com o Presidente Marcelo a declarar, o Governo a concordar e a Assembleia da República a esmagadoramente autorizar este estado de emergência. E percebendo todos que importa que toda a classe política, nacional e europeia, entenda, rapidamente, que os tempos que vivemos são momentos para sobreviver e não instantes para refletir em excesso. Diria, mesmo, que há conceitos que vão ser varridos do quotidiano como o défice, as contas certas, até, certo tipo de direitos adquiridos. O estado de emergência pode levar a diferentes estados de necessidades e, estes, vão derrubar muitas certezas que julgávamos certas! E, nesta mudança emergente, também vai entrar o desporto, mesmo que alguns, numa consciência que incomoda, o julguem relativamente imune às drásticas e dramáticas consequências que esta paragem bruta da economia vai desencadear. Mas a essência é a vida vivida. E esta exige que o Joaquim e o Eduardo, os José(s) e o Vítor, a Benedita e a Isabel, a Nádia e a Helena, continuem a ser, ainda mais, os nossos heróis e as nossas heroínas, como médicos e médicas que se entregam,  com intensa alma  e um imenso coração, à sua missão de curar doentes e salvar vidas. Como importa ler - e reler! - as lúcidas e sábias palavras do Doutor Adalberto Campos Fernandes ontem no Expresso! Mas cada um de nós, que é um ser que se não repete, tem de continuar a sorrir e a abraçar, a trabalhar e a conversar, a falar e a tropeçar, a amar e a dar-se. Sem que deixemos de tropeçar nas incertezas que o mundo suscita. A única certeza que tenho é que não tenho certeza alguma! Como se a Natureza não nos julgasse e nos lembrasse, e bem, e nestes complexos momentos, e lendo Lamberto Maffei - no seu Elogio da Lentidão - que «não conseguimos voar ou correr na savana ou morar nas profundezas do mar, traços peculiares de outros animais». Moramos aqui, com este vírus em coroa, com esta economia em crise e com este medo que nos assusta. Mas sem capitularmos, já que a esperança convive com a confiança, a solidariedade com a responsabilidade, a compaixão com a motivação. Como as canções que saem e ecoam das varandas ou as múltiplas partilhas que aproximam amigos e vizinhos, avós e netos, pais e filhos. Tudo em coroa, mesmo, contra o vírus!

2 - A FIFA e a UEFA suspenderam as suas competições. E bem. Não há nem condições objetivas nem subjetivas - aqui, e por excelência, para a devida proteção de todos os atores desportivos, maxime dos praticantes  - para a continuidade de campeonatos, ligas, torneios, exibições, manifestações desportivas. E também as apostas pararam e as audiências televisivas no que respeita á informação dispararam, mas sem que haja, com dramas certos, publicidade que as acompanhe! Entretanto, e com uma normalidade que assusta, a tocha olímpica  chegou a Tóquio, o que levou a uma pausa nipónica - a presença de centenas de populares que aguardavam a passagem deste símbolo olímpico - no necessário e permanente combate ao Covid-19! Mas o que se sente e pressente é que alguns querem estes jogos na data prevista e muitos desejam - já que o mundo dos atletas está de pernas para o ar - o seu adiamento. Com a consciência que não haverá condições justas - justas! - para a  qualificação final dos cerca de cinquenta por cento de atletas que legitimamente procuram o acesso, por indiscutível mérito desportivo, a umas das provas mais emblemáticas de cada percurso desportivo. A pandemia põe em causa o princípio da igualdade da preparação e, logo, põe em causa o indispensável mérito desportivo. Uma das essências de uma Olimpíada. A que acresce agora de uns Jogos Paralímpicos!

3 - Nestes dolorosos e dramáticos tempos o futebol, e o seu específico mundo e a sua relevante indústria, tem de ceder lugar à solidariedade. Como bem assumem a FPF e a Liga Portugal!! O que importa é salvar vidas, proteger bens e salvaguardar empresas. Agora o que importa é a VIDA - VIDA VIVIDA - e nada interessa acerca de cores clubísticas, ponderações de classificações ou perturbações de afirmações. O futebol e todas as outras modalidades sabem bem que os tempos do futuro próximo exigirão reflexões profundas, ajustamentos sérios e, até, outros comportamentos. O que vale é, mesmo, a palavra solidariedade e, aqui, o Benfica - honrando a sua história! - merece um vivo e sentido aplauso pela doação - em articulação com as Câmara e a Universidade de Lisboa - de um milhão de euros para a compra de equipamento destinado ao SNS! Sim, para este extraordinário Serviço Nacional de Saúde! Como, em outro e idêntico prisma, o empresário Vítor Magalhães, também Presidente do Moreirense, ou o Sporting de Braga - entre outros clubes e SAD´s - em similares doações, e, em particular, de indispensáveis ventiladores. O futebol sabe ser solidário. E o Presidente Fernando Medina não deixou de dizer que «é uma atitude muito importante do Benfica para todo o País e para toda a comunidade».  Haja, aqui, verdadeiro contágio!

4 - Nestes momentos há exemplos que importa evidenciar. Na semana passada foi o Tó Rique que continua, no Hospital de Viseu, e nas suas urgências, a salvar por vidas. Ele e tantos e tantas outras (os)! Mas hoje falo do Alberto, um bem pequeno empresário do ramo da restauração. O seu simpático e acolhedor restaurante tem sido, nos últimos anos, a minha cantina. Transmontano puro veio para Lisboa para lutar pela vida. Subiu a pulso. Com muito esforço, verdadeira abnegação e total dedicação. Assumiu a gerência, em parceria, de um restaurante real e numa afirmativa cave. Serviu alguns dos homens que, neste momento, assumem, com energia e sagacidade, a liderança de importantes poderes executivos e que saudamos. Ali, na cave sempre real, comeram as pataniscas de bacalhau, o bife de atum ou o arroz de polvo. Ou, também, o de pato ou um majestático bife na pedra. Ao mesmo tempo o futebol levou-o à Associação de Futebol de Lisboa e ao seu Conselho Técnico. Agora está fechado. Por exigências da emergência. Mas ele, o Alberto, sabe bem que tem de resistir. Tem que, como rijo transmontano, acreditar que daqui a um mês voltarmos a conviver - eu e o irritante João, o Dr. Alberto e o Paulo, o Zé Luís e o Nuno, o Dr. João e o Dr. Francisco, o Bruno e o Carlos, o Pedro e o Manuel, a Ana Rita e a Fernanda, entre tantos e tantas outras(os) - e diremos, em verdadeira e solidária coroa, ao vírus que muito condicionou e perturbou,  que «a esperança é um empréstimo que se pede à felicidade». E nós ali, naquela cave real, nunca esquecemos, mesmo nesta pausa forçada, as palavras de Confúcio: «Todos os homens se nutrem, mas poucos sabem distinguir os sabores!» E todos nós, nos nossos diferentes restaurantes e pastelarias, acreditamos que este vírus, em coroa, apenas nos vai perturbar umas semanas. E que, daqui a pouco, depois decerto dos primeiros dias de abril, voltaremos, ali, ao prazer da comida. Prazer que nunca acaba por cansar. Nunca mesmo! Força Alberto!