Sem espaço para Muller

OPINIÃO09.03.201903:00

Nunca compreendi onde joga Thomas Muller. Não sei se é médio, 10, extremo direito ou esquerdo, segundo avançado ou ponta de lança. Já atuou em todas estas posições, pois claro, em todo o caso em nenhuma me pareceu vê-lo verdadeiramente a desempenhá-la. Elucidou o próprio um dia quando lho perguntaram: «Ich bin ein Raumdeuter». «Eu sou um intérprete do espaço».

Assim se patenteou e se definiu sem posição; o que é distinto do futebolista livre de posição, note-se, do artista com autonomia para jogar onde quer. Muller parece-me a variante futebolística daquela coisa complicada a que os astrofísicos chamam antimatéria, conceito que jamais me fará sentido.

Esta semana o selecionador germânico Joachim Low, num ímpeto de reorganização da seleção nacional, assim como quem arruma a sala à pressa porque estão a chegar as visitas, afastou Muller (e Boateng e Hummels, que me interessam menos) da Mannshaft. Aos 29 anos. Para sempre! Muller não entendeu. Nem eu.

Se o futebol total dos holandeses (e dos espanhóis catalães) se caracterizou pela fluidez de posições (para abrir espaços) e de tarefas (para estimular a criatividade), Muller representa (melhor do que outros)  execução alternativa. Se holandeses e espanhóis catalães (sobretudo Xavi) procuravam a abertura ou o jogador solto para passar a bola, Muller busca a zona livre para uso próprio. Não ocupa nenhum espaço, antes aparece nos que estão vagos. É como um Xavi sem bola. Muller move-se no campo como se sentisse que ele próprio é a bola. Teria sido pelo menos uma vez reconhecido como o melhor do Mundo se, tal como naquele jogo infantil de futebol humano, pudesse entrar a correr para dentro da baliza e com isso contar golo.