Se o Porto ainda fosse Porto
Pinto da Costa fez, ainda em Braga e no balneário, a única coisa que podia fazer: segurou Sérgio Conceição, assegurando total confiança no treinador que ainda há duas semanas comparara a José Maria Pedroto - totalmente ciente, decerto, das implicações que essa comparação lhe traria no futuro, fosse ele mais ou menos distante. Fica a faltar saber, agora, o que esse voto de confiança significa exatamente para quem, nos gabinetes do Dragão, permitiu que o FC Porto se transformasse naquilo que foi nesta semana que intervalou a última jornada da primeira volta do campeonato (que deixou a equipa a sete pontos do líder Benfica) e a final da Taça da Liga perdida para o SC Braga.
Não pode dizer-se, convenhamos, que aquilo a que assistimos nos últimos dias seja propriamente inédito. Talvez, é verdade, o julgássemos impensável nos tempos em que o FC Porto (e por inerência Pinto da Costa) vivia em absoluto fulgor, numa sequência de vitórias sem comparação em Portugal. Mas, já se sabe, nada dura para sempre. E numa altura em que Pinto da Costa (e por inerência o FC Porto) começa - e não é de agora, sejamos francos... - a dar sinais de uma fragilidade sem precedentes o FC Porto vai-lhe atrás, como sempre se suspeitou que fosse quando a altura chegasse - e percebeu-se que chegaria a partir do momento, e já lá vão alguns anos, em que se confirmou a indisponibilidade de Pinto da Costa para deixar que outro pegasse nos destinos do clube.
Lá terá, o presidente portista, as suas razões. Tem, até, o direito de pensar que, depois daquilo em que transformou o FC Porto, apenas sairá quando ele decidir ser altura de sair. É certo que, por gratidão mas não só, os sócios lhe permitam e, em última instância, lhe perdoem a teimosia. Mas a verdade é que todas as opções têm um preço. E o FC Porto está, por estes dias, a pagá-lo.
Sejamos claros: seria impensável, se Pinto da Costa (e por inerência o FC Porto) ainda fosse aquilo que era, assistirmos àquilo que assistimos esta semana. É verdade que a equipa de futebol atravessa um momento delicado e isso, num clube com a tradição ganhadora como é o FC Porto, traz sempre ondas de choque nem sempre fáceis de controlar. Mas a verdade é que os dragões já passaram por momentos delicados antes. Vários. E nunca vimos nada sequer parecido com o que aconteceu na última época ou nos últimos dias.
O líder da claque a colocar em causa o treinador que o presidente, ainda há umas semanas, comparara a José Maria Pedroto? Das duas uma: ou alguém, nos gabinetes do Dragão, lhe deu autorização para isso - o que seria péssimo sinal para a liderança de Pinto da Costa -, ou Fernando Madureira fê-lo pela sua cabeça - o que, convenhamos, daria azo a leituras ainda mais abrangentes sobre quem, efetivamente, manda hoje no FC Porto.
Por não estar disposto a esperar, por já ter percebido tudo ou, pura e simplesmente, por recusar-se a ser metido no meio de uma guerra que nada tem a ver consigo, Sérgio Conceição decidiu dar um murro na mesa. Talvez já o quisesse ter dado na conferência de imprensa que antecedeu a final da Taça da Liga quando o questionaram sobre as declarações do líder da claque, mas vendo-se disso impedido por alguém sentado ao seu lado fê-lo na flash do final do encontro de Braga, onde está sozinho com um jornalista e ninguém o pode impedir de dizer o que quer dizer. E o que disse abriu uma ferida que, apesar das prontas garantias de união (transmitidas por canais não oficiais, primeiro, e oficiais depois) está longe de sarar. Sim, Sérgio Conceição ficará, provavelmente até ao fim da época. Mas e o resto? Esperemos. Na certeza de que deixar tudo na mesma será prolongar, já percebemos, um clima de paz podre que não prenuncia nada de bom para o futuro do FC Porto.