Se não for chicotada psicológica, é o quê?
Wanda, Wanda Nara, agente provocadora
Hoje em dia não há atleta ou técnico profissional que não tenha o seu empresário. Mesmo que seja o paizinho, como sucede com Neymar, ou o mano, como se verifica com Guardiola.
Mauro Icardi tem 26 anos. Maxi López tem 35. São ambos argentinos, ambos avançados. E amigos. Até que uma jovem argentina chamada Wanda Nara trocou o segundo pelo primeiro. Quem quiser saber pormenores sobre como tal terá acontecido pode encontrar uma versão detalhada num livro intitulado ‘Sempre avanti’, o qual é uma autobiografia de Icardi, o segundo marido de Wanda. E o que é que isto interessa ao futebol? Bem, importa muito mais do que parece. Esta Wanda é uma mediática personalidade da vida social argentina, tendo sido, nomeadamente, dançarina, apresentadora de televisão e modelo. E agora também, ou principalmente, empresária ou agente de futebol. Nessa qualidade representa, entre outros, Mauro Icardi, seu cliente enquanto futebolista profissional. A importância pública que conquistou parece ser directamente proporcional à sua influência privada. As coisas chegaram a um ponto tal que Walter Sabatini, antigo diretor do Inter e agora na Sampdoria, declarou à Gazzetta dello Sport que «se o Icardi fosse meu jogador eu procurava namorado para a namorada dele para que ele pudessse prosseguir a carreira». Exageros, seguramente. Certo é que, na passada semana, Wanda Nara foi vista na capital gaulesa. E esta segunda-feira, último dia do período de transferências, o Inter de Milão oficializou a transferência de Mauro Icardi para o Paris Saint-Germain (PSG), em regime de empréstimo por uma época, finda a qual os parisienses também poderão exercer uma opção de compra, por verba não divulgada, mas que deverá rondar os 70 milhões de euros. Desde Abril de 2013 no Inter, o argentino disputou cerca de 210 partidas e marcou 124 golos vestido de nerazzurro, tendo chegado a capitão da equipa milanesa. Todavia, em Fevereiro deste ano foi-lhe retirada a braçadeira, em resultado de críticas públicas a diversos jogadores do Inter feitas por (quem haveria de ser?) Wanda Nara.
Janus&Judas
Mas afinal de contas que FC Porto é este? Como é possível a mesma equipa jogar, vencer e convencer na Luz e depois (não falemos já, portanto, do desaire ante os barcelences e do desastre perante os russos) jogar e vencer o Vitória Sport Club nos precisos termos em que tal se verificou?
Certo é que a equipa parece ter duas caras, como Janus. Mas este, que até era venerado pelos romanos como o deus dos começos, não sabia nada de futebol.
Mais: foram muito poucas as vezes em que me senti tão embaraçado por uma vitória como a última, ainda por cima em casa. Falsa como Judas.
Dilemas, causas e resultados
Como gostam de dizer os ciclistas, o importante é meter o passo. E as excelentíssimas direções dos clubes, ou as ilustríssimas administrações das sociedades, que disputam a principal Liga doméstica assim estão a fazer: apenas quatro jornadas disputadas e já por três vezes estalou o chicote psicológico. Ou não. Sim, é público e indesmentível que, de facto, já mudaram três misteres mas, curiosamente, ou até talvez não, por causas e modos outros que não as chamadas chicotadas psicológicas. Ou porque não são chicotadas, ou porque não são psicológicas, ou porque não são nem uma coisa nem outra. Mas se não são aquilo que se diz que são, então são exactamente o quê? Não há uma resposta única nem unívoca. Só uma análise casuística o poderá apurar. É como a morte: todos temos uma e só uma que espera por nós, do mesmo passo que nunca há duas vidas iguais. Voltando ao ponto controvertido: se não for chicotada psicológica, então o que é? Bem, teoricamente, em tese, poderá ser uma de entre as seguintes distintas tipologias: i) vergastada psicadélica; ii) tortura sociológica; iii) cacetada antropológica; iv) qualquer outra pancada semiótica em geral. A não ser que… a não ser que se trate ainda de outra coisa com diversa natureza. E essa é determinável pela escolha resultante do dilema ora enunciado: quando se despede um treinador ao fim de três ou quatro jornadas, dois caminhos se abrem - ou o treinador é incompetente, caso em que é inepto para a função, ou é competente, caso em que não pode ser culpabilizado. Na primeira hipótese, se o treinador é incompetente a culpa primeira só pode ser de quem o contratou e não soube escolher alguém competente. Na segunda via, sendo o técnico capaz, então incompetente não pode deixar de ser quem o demite.