Schmidt entrou a ganhar
Na primeira fila da plateia, Rui Costa, o presidente, e Lourenço Pereira Coelho, o administrador. Atentos, mas discretos, como deve ser, sempre
BENFICA e Sporting abriram as suas academias e deram início, ontem, ao programa de preparação da temporada futebolística de 2022/2023. Uma inocente coincidência de datas que não mereceria qualquer registo não se desse o caso de, tomando como referência o calendário da UEFA, os encarnados entrarem em competição, e com muito da época em jogo, logo nos primeiros dias de agosto, enquanto os leões só terão de o fazer um mês mais tarde. Neste sentido, a primeira conclusão a extrair é a de que um terá começado tarde de mais e o outro demasiado cedo. O plantel do Vitória de Guimarães, por seu lado, deu início ao trabalho há uma semana, e percebe-se, na medida em que no próximo mês de julho estará obrigado a participar na segunda pré-eliminatória da Liga Conferência. Portanto, cada clube com as suas dificuldades e para as quais será preciso dar as respostas adequadas.
O Benfica regressou à actividade esta segunda-feira porque assim foi decidido. Se bem, se mal os resultados dirão, mas a questão central terá menos a ver com a data em si e mais com a aparente distanciação do treinador alemão contratado, o qual, não sei se por mentalidade ou se por deficiente informação acerca dos hábitos da freguesia, só agora resolveu enfrentar os jornalistas. Acabou o campeonato holandês e partiu para férias, depressa interrompidas devido a superiores interesses que o trouxeram a Lisboa acompanhado de Lourenço Pereira Coelho, no essencial para tirar fotos, dar abraços, distribuir simpatia e voltar a desaparecer de vista até à passada sexta-feira, sabendo que tem uma multidão de jogadores para gerir e um plantel para emagrecer.
ADMITO que Schmidt possua invulgar poder de observação e seja capaz de, com o mínimo de rigor, identificar os praticantes que nada acrescentam e reclamar profissionais competentes, dedicados e que saibam respeitar a camisola da águia. Se perguntarem ao adepto comum, aquele que sofre por amor ao clube e nada tem a ver com os chamados movimentos de reflexão, que apenas fazem barulho movidos por interesses mal escondidos, a escolha nem sequer será difícil desde que haja mesmo vontade de mudar.
O senhor Roger Schmidt não carrega apreciável currículo, mas isso pouco importa. Detém atributos que lhe foram valorizados por Rui Costa, e isso é suficiente, desde que olhe para o Benfica e veja na sua história e na sua grandeza quanto precisa para abrir as portas da fama e elevar-se a treinador da elite mundial. Se o conseguir, significará que foi capaz de recolocar a águia na rota das grandes conquistas.
Na sua primeira conferência de Imprensa em solo luso, o resultado foi muito animador. Revelou invulgar à vontade em falar sobre futebol e, principalmente, boa preparação. É verdade que os inimigos se esgotaram em vulgaridades em vez de se focarem em temas pertinentes, de acordo com a curiosidade de quem se interessa pelas coisas do futebol, que seriam muitos, do meu ponto de vista, mas essa distração em nada embacia o desempenho do treinador alemão, que foi admirável.
Muito bem disposto, foi preciso e conciso nas respostas, embora esclarecedor. Foi igualmente surpreendente na destreza em desarmar qualquer foco mal intencionado através de um sorriso demolidor. A todos os problemas que lhe foram colocados contrapôs soluções em estudo e quanto ao passado recente não poderia ter sido mais claro ao afirmar que foi contratado para tratar do futuro.
Acerca de uma pergunta de alguma sensibilidade, colocada pelo jornalista João Farinha de A BOLA TV, quanto à escolha de Javi Garcia para a equipa técnica, informou ter sido uma sugestão do clube. No entanto, considera-o boa pessoa e deu realce ao facto de ter sido grande jogador. Disse que o conheceu apenas há algumas semanas, mas a primeira impressão foi top. Assunto ultrapassado.
PARA sair em ombros, nada melhor do que o convite feito aos adeptos para irem ao Estádio da Luz, no próximo domingo, e assistirem ao treino aberto. Para quê? «Para nos acompanharem e estarem com a equipa», sublinhou.
No resto, a expressão «quem ama o futebol, ama o Benfica» veio para ficar. Schmidt entrou a ganhar e se mantiver este espantoso poder de comunicar e jamais deixar de sorrir, quando arranhar a língua portuguesa para um relacionamento próximo com os adeptos, se os resultados o ajudarem, prevejo que depressa se torne num caso de sucesso. Será muito fácil os benfiquistas gostarem dele, desde que lhes retribua com vitórias, como é óbvio.
Em concreto, o novo treinador do Benfica nem sequer foi apresentado. Dito de outra forma, apresentou-se, ele próprio, acompanhado por Ricardo Lemos, tanto quanto julgo saber o novo responsável pela comunicação do futebol profissional. E bem, porque se há áreas em que a águia tem andado a voar baixo, a da política comunicacional é uma delas.
Na primeira fila da plateia, Rui Costa, o presidente, e Lourenço Pereira Coelho, o administrador. Atentos, mas discretos, como deve ser, sempre.