Sardinhas e tubarões
Venham lá o Lille e a Juventus. Bayern, City e Liverpool só nos quartos de final, OK?
HÁ coisas difíceis de explicar. Falemos de Raul de Tomás, o bom do RDT. Chegou ao Benfica, em 2018, como dólar norte-americano e saiu, pouco depois, como rupia indonésia. Agora, dois anos depois, volta a ser dólar norte-americano. Leva oito golos na La Liga pelo Espanhol; marca, assiste, cobra livres, é o coração dos catalães. De quem foi a culpa pela sua má passagem pelos encarnados? Do jogador? Do treinador? Do clube? Dos dirigentes? De Bruno Lage certamente que não. Quem conseguiu coabitar Jonas com Seferovic e ainda juntar-lhe João Félix está livre de culpas. Talvez tenha sido inadaptação. RDT deu-se bem em Madrid, Córdoba, Valladolid e Barcelona e mal em Lisboa. Sardinha ou tubarão?
A que dar mais mérito? Ao talento de Nuno Mendes, Gonçalo Inácio, Tiago Tomás, Matheus Nunes, Pedro Gonçalves, Bragança Essugo, Nazinho e Gonçalo Esteves ou a Rúben Amorim? A Diogo Costa, Fábio Vieira, Vitinha, Francisco Conceição, João Mário, Diogo Leite, Bruno Costa, Romário Baró e Fábio Silva ou a Sérgio Conceição? A Gil Dias, Paulo Bernardo e Gonçalo Ramos ou a Jorge Jesus? São os meninos que aparecem ou os treinadores que os fazem aparecer? É complicado explicar. Por mim, numa tese especulativa, vou sempre pelos jogadores. Claro que ficar com Matheus Nunes abdicando de João Mário é mérito do treinador. Tal como apostar em Diogo Costa quando se tem (apesar de lesionado) Marchesín. Ter sardinhas lusas e apostar em sardinha estrangeiras é que não faz sentido.
COMO explicar o falhanço de Seferovic em Barcelona, o erro clamoroso de André Silva com o Monchengladbach ou o golo de baliza aberta que Pedro Gonçalves não marcou frente ao Boavista? No fundo, se pensarmos bem, todos encontraremos falhas assim nas nossas profissões. Escreve-vos o homem que, um dia, escreveu que Eusébio era angolano. Nunca fui tubarão, mas já fui sardinha.
HÁ algo que não entendo. Se Sporting e Benfica podem defrontar o Lille, para quê preferir jogar com Liverpool, Bayern ou City apenas para que, já que é para cair, caiam com um tubarão e não com uma sardinha. Meus caros, passando a sardinha jogarão, de certeza, com um tubarão. E se forem eliminados pela sardinha, não serão massacrados pelo tubarão. Preferem ter 50 por cento de hipóteses de ganhar mais 10,5 milhões de euros ou apenas cinco? Além disso, quando se relembra que o Benfica dos anos 60 jogava com tubarões como Real Madrid, Barcelona, Milan, Inter ou Man. United, esquecemo-nos de que, para lá chegar, teve de eliminar sardinhas como Hearts, Norrkoping, Aris Bonnevoie, La Chaux-de-Fonds, Dudelange. Será que, há 60 anos, no dia do sorteio, Eusébio e companhia preferiam jogar primeiro com o Real Madrid ou com o Hearts? Posto isto, venha lá o Lille. E a Juventus.