Salvador insiste no título

OPINIÃO31.07.201804:05

Clube, cidade e região, três bagos da mesma romã ou três expressões do mesmo rosto, mas todos Braga, fortemente unidos na consecução de um desígnio comum, que é o de se assumirem como a  quarta força do futebol português. Uma realidade que  nem de prova necessita. Está reconhecida, apesar de ciumeiras bolorentas, normalmente maquilhadas de rivalidades regionalistas quando, na verdade, não passam de estéreis tentativas para ocultarem sinais de incomodidade por parte de quem se sente ficar para trás.

Na primeira época de Paulo Fonseca, recordo-me que, antes da aparição pública aos adeptos, o Sporting de Braga organizou uma cerimónia recatada, para o tecido empresarial, familiares e amigos. Foi esse o propósito, explicaram-me: agitar sensibilidades, captar aderentes e fazer progressos seguros, sem exuberância, nem vaidade despropositada, sendo certo que, já nessa altura, ninguém o poderia criticar se se tivesse deixado inebriar por algum deslumbramento. Mas não deixou!  O que demonstra  que as coisas não avançam ao sabor do vento, mas sim subordinadas ao respeito por  um rumo, por um projeto, por um objetivo.

Nesse convívio privado no verão de 2015, alguém disse, e eu  escrevi, que o Braga, na senda do Barcelona, do FC Porto ou do Athletic Bilbao, em que os nomes dos clubes e das cidades e regiões que representam se entrelaçam com benefícios para todas as partes, estava a dar os primeiros passos de uma longa caminhada sem fim à vista, sabendo-se, porém, que, entretanto, há  esse objetivo por alcançar, o qual, dito e redito com a firme convicção de quem nele muito acredita,  deve ser levado a sério: SC Braga campeão nacional ate 2021, ano do centenário do clube.

O mais espantoso da história é que o presidente António Salvador creio que adormece e acorda a pensar no título. Sonha com ele.  Não apenas hoje, desde há uns bons quinze anos quando foi eleito pela primeira vez.

No seu consulado, o Braga ganhou uma  Taça Intertoto (2009), uma Taça de Portugal (2016) e uma Taça da Liga (2013). Quando chegou, em 2003, a equipa arfava nas funduras da classificação. Com ele, registam-se duas situações  abaixo dos  padrões normais  - 9.º (2013/2014) e  7.º (2007/2008) -, em contraposição às temporadas restantes, a saber:  5.º (2008/2009 e 2016/2017), 4.º (2004/2005, 2005/2006, 2006/2007, 2010/2011, 2012/2013, 2014/2015, 2015/2016, 2017/2018), 3.º (2011/2012) e 2.º (2009/2010). Ou seja, o clube estabilizou e definiu o quarto lugar como posição de referência.

No quadro europeu, contrariando céticos e estatísticas,  conquistou o estatuto de finalista de competição europeia, em Dublin, que perdeu para o FC Porto, em 2011. A partir de aí tornou-se passageiro frequente na Liga Europa  e experimentou as benfeitorias da Liga dos Campeões (2010/2011 e 2012/2013).

O somatório de resultados, além de notável, é esclarecedor, o trabalho árduo e competente também, assim como a inabalável  firmeza e a indómita força de acreditar de Salvador.

Com ele, o Braga perdeu a timidez e proclamou a sua grandeza  desportiva e social. Resolveu  descer à cidade, foi ter com o seu povo na celebração do Dia do SC Braga e a resposta  do cidadão bracarense ano após ano é cada vez  mais intensa e abrangente. Na noite do último sábado, ninguém contou as presenças, mas garantem-me que foram mais de 20 mil. Quase faltou rua para acolher tanta gente, em inequívoca demonstração de que a mensagem está a ser compreendida. 

A propósito, escreveu o jornalista António Casanova, no título da sua reportagem  (A BOLA, edição de  domingo, págs. 24 e 25), que o «Sonho do título está a ganhar forma real».

Goste-se ou não da figura ou do estilo, António Salvador é um presidente especial. Discreto, embora tremendamente determinado  nas metas que traça, alcançáveis, assim os jogadores se capacitem de que um jogo são onze contra onze. O resto é com ele, na organização interna, na estabilidade profissional e nas condições de trabalho ao nível dos melhores. Além de revelar um talento muito seu na arte de negociar. Aliás, quem assina a guia de marcha  de Rafa Silva a troco de €16 milhões merece que nos curvemos à sua passagem.

É capaz de ver mais longe. Se o seu Braga vai ser campeão ate 2021 não sei, mas sei que se a cidade e a região quiserem tanto como ele  é bem provável que o seja.

Nota - Li em A BOLA que a Juventus quer capturar já o campeão europeu sub-19 Trincão. A Sky Itália fala em proposta de sete milhões de euros. Deve ser suficiente para Salvador sorrir. Com outro tanto far-se-á negócio.