Rui Costa, Roger Schmidt e a coerência
Na maioria dos nossos clubes, há demasiados interesses a mexer na panela do plantel. No Benfica, é tempo de ser virada essa página
AFINAL, há mesmo outro. E nem pode dizer-se, do ponto de vista do Benfica, que sejam dois amores, já que um deles é mais desamor que outra coisa qualquer. Esta dupla personalidade encarnada, traduzida numa mesma equipa que é tanto capaz de passar em grande estilo pela Arena Spartak, Estádio Philips, Camp Nou, Anfield ou Alvalade, e hipotecar o campeonato nacional na Luz, ao ceder 15 pontos a Portimonense, Sporting, Gil Vicente, Moreirense, Vizela e Famalicão, deve ser analisada em profundidade, porque só através da identificação do problema poderá chegar a resolução do mesmo. Tapar o sol com uma peneira não ajudará o Benfica, e, por mais que a turma da Luz se sinta (justamente, diga-se) prejudicada por arbitragens muitas vezes hostis, as verdadeiras causas do insucesso deverão ser encontradas noutra latitude.
É tempo de o Benfica construir um plantel que corresponda exclusivamente a argumentos de ordem desportiva, enterrando de vez a lógica de plataforma de negócios que tem imperado de alguns anos a esta parte. Rui Costa, que não esteve nas decisões iniciais da temporada que agora está a chegar ao fim, será responsabilizado, para o bem ou para o mal, pelas escolhas feitas para 2022/23, que terão o seu cunho.
Recuemos ao início desta crónica e à dupla personalidade da equipa de Nélson Veríssimo: o Benfica é forte a defender baixo e a contra-atacar, e fraco a jogar em ataque continuado, e essa é uma circunstância que penaliza irremediavelmente uma equipa que em 90 por cento das ocasiões é convidada a mandar no jogo.
Daí que o plantel careça de profunda remodelação, de forma a entrar em linha com as ideias do novo treinador, admirador confesso do futebol de ataque e da pressão asfixiante. Se quiser ter sucesso, Rui Costa - sem comprometer o equilíbrio das finanças - deve garantir a coerência entre o modelo de jogo de Roger Schmidt e os jogadores que lhe serão postos à disposição. Poder-se-á perguntar se não é sempre assim. Devia ser, mas a resposta é não. Entre nós, na maior parte dos clubes, há demasiadas pessoas e demasiados interesses a mexer na panela do plantel, criando produtos híbridos, que normalmente agradam mais aos empresários e afins do que aos treinadores. No Benfica, é tempo de ser virada essa página.
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