Rui acertou no arquiteto

OPINIÃO25.10.202206:30

Li em A Bola que Conceição ficou impressionado com a elevação de Schmidt. Graças a Deus!, mas o que desarmou o treinador portista foi a indiferença do colega alemão

S OBRE o clássico no Dragão pouco ficou por dizer. Uma vitória indiscutível do Benfica, suportada não só pelos indicadores estatísticos que colocam a equipa de Roger Schmidt em inequívoca vantagem mas também por aquilo que o espectador pôde testemunhar em direto, ao longo de noventa e tal minutos de elogiável entrega dos jogadores de ambos os clubes.  
Foi um clássico rijo, disputado com elevado sentido profissional por todos os atores. Ah!, mas com onze contra onze outro galo cantaria, argumentarão os adeptos portistas. Provavelmente, sim, ou não, ninguém tem a resposta, porque a história de um jogo conta-se pelo que foi e não pelo que cada um desejaria que fosse.
Este clássico desalinhou em relação à tradição recente que, no últimos dez anos, assinala uma superioridade portista evidentíssima, só por duas vezes (2015 e 2019) contrariada pela águia.
O FC Porto tem imposto a sua força nas duas frentes, a norte e a sul, dado que, no mesmo período,  exerce, igualmente, claro domínio em confrontos realizados no Estádio da Luz, para desconsolo do universo benfiquista. É nesta tendência negativa que Rui Costa quer colocar um ponto final e, certamente, foi esse desígnio que o levou a escolher Roger Schmidt  para arquiteto da mudança.
O treinador alemão não faz milagres, mas pensa pela sua cabeça, e pensa de maneira diferente. Como  nada tem a ver com as nossas desavenças, começou a ganhar o clássico mesmo antes dele começar, ao deslocar-se ao banco do adversário para cumprimentar o treinador do FC Porto. No final, com a mesma elegância e ‘sentido de estado’, tentou idêntico procedimento com a equipa de arbitragem, embora neste caso só com  permissão para felicitar os auxiliares na medida em que o chefe de equipa estava ocupado a ouvir o que o treinador portista, acompanhado da sua escolta, tinha para lhe dizer, quase de certeza a inscrever o 20.º castigo no seu currículo. Apregoa que não gosta de perder, mas haverá alguém que goste?

L I em A BOLA que Sérgio Conceição ficou impressionado com a elevação de Schmidt. Graças a Deus!, mas o que desarmou o treinador portista foi a indiferença do colega alemão quanto ao medonho ambiente no Dragão. Antes e depois, encarou a situação com a normalidade de quem liga pouco a estas minudências paroquiais. Fê-lo através de um discurso tranquilo e coerente, apenas focado num único objetivo: ganhar. Sem gritos nem ameaças e sem desconsiderar jornalistas, como fez Conceição em mais uma cena para lamentar, sem se lhe atribuir importância. É o costume.  
Ainda a propósito deste clássico, David Neres reclamou golo no lance (90+2) em que Diogo Costa terá parado a trajetória da bola sobre a linha de baliza. No Chelsea-Manchester United, no dia seguinte, aconteceu uma situação muito parecida, mas, no instante, o árbitro validou o golo que deu o empate ao United. A tecnologia foi decisiva. Por cá, ainda se fazem contas ao investimento.


LUGAR DE RÚBEN JÁ É NAMORADO

A CEITAR a derrota e reconhecer os méritos do adversário é uma virtude que no futebol português ainda se pratica muito pouco, embora, de uma forma envergonhada, gente jovem e menos comprometida com hábitos antigos vá dando sinais de mudança, reveladores de  uma análise mais lúcida e arejada sobre um  jogo de futebol, por mais agrestes que sejam as rivalidades e determinantes as consequências dos resultados.  
Vamos fazendo o nosso caminho, isso é certo, sem necessidade de declarações que extravasem o que a prudência aconselha, como as que o treinador do Casa Pia nos presenteou depois de ter sido derrotado em Alvalade.
O leão entrou mal no jogo e deu  avanço ao opositor, mas depois do intervalo tudo se transformou. Rúben Amorim viu os seus homens explodirem de indignação e  Filipe Martins assistiu resignado ao afundamento dos seus jogadores.
Normalíssimo, o que se entendeu mal foi o discurso estranho, quase subserviente, do treinador casapiano, na conferência de Imprensa.  Na primeira parte, disse, «com os movimentos do Morita, conseguiram desmontar-nos» e a «vitória assenta inteiramente bem ao Sporting». A seguir: «Chegámos ao intervalo a ganhar (…), mas com o Sporting claramente superior.» Para rematar,  «fomos competentes dentro das nossas limitações» ,  porque, sublinhou,  numa correnteza de pontos de exclamação, «muitos querem desvalorizar o Sporting, mas é uma equipa com valor». Fantástico. Amorim não faria melhor…  
Aceitar a derrota e reconhecer os méritos  do Sporting ficou bem a Filipe Martins, mas não era preciso exagerar. Se for a última época de Rúben Amorim ao serviço do leão, como parece, pode ser que, na hora de procurar sucessor, Frederico Varandas tenha em consideração esta nobre e desinteressada atitude.
Mais uma, digo eu. Outra, que me recorde, tem  mais de três anos, em abril de 2019, 28.ª jornada da Liga, num Feirense-Benfica, em que, como é vulgar dizer-se, pôs a carne toda no assador em nome sabe-se lá de que interesses. Ele deve saber. Perdeu e foi despromovido nessa época. É o futebol que temos…