Rúben Dias/Gonçalo Ramos
RÚBEN DIAS deixa o Benfica e vai para o Manchester City a troco de 55 milhões de euros, mais Otamendi. É, olhe-se para ele como se olhar, um excelente negócio para o Benfica, tendo em conta dois pormaiores: os tempos de excecionais dificuldades que os clubes portugueses atravessam em consequência das quebras de receitas originadas pelo Covid-19 e, naturalmente, o afastamento precoce da Champions, que teria, sabia toda a gente e sabia Jesus, de ser compensada com a venda de jogadores. E olhando para o plantel do Benfica, percebia-se que Rúben Dias seria um alvo demasiado apetecível para que fosse possível Vieira resistir à investida de um clube como o Manchester City - que quando quer, como sabemos, leva. €55 milhões, com ou sem Otamendi, por Rúben Dias, em especial nas circunstâncias atuais (no Mundo e nas águias...) tem de ser visto como um bom negócio.
Há, é claro, outras questões que se podem discutir. A principal, a que mais irritação causou na oposição, prende-se com uma certa incoerência entre o discurso de Vieira há uns anos e aquilo a que os benfiquistas estão a assistir esta época. Porque com a saída de Rúben Dias vai-se a última bandeira da formação, já que o central era o último resistente a titular de uma geração de ouro made in Seixal. Não é, propriamente, uma novidade, sabia-se que o regresso de Jesus marcaria uma mudança de paradigma na Luz, sustentada no fortíssimo investimento realizado até ao momento para satisfazer as exigências do novo treinador. Convém, ainda assim, dizer que não é, esta situação, culpa de Jesus. Rúben Dias era indiscutível e só saiu porque não havia alternativa; Florentino, que saiu uns dias antes, já não jogava o ano passado com Bruno Lage, o treinador que o lançara na época anterior; e Ferro, que ainda está no plantel, deixou em 2019/2020 mais dúvidas que certezas e viu, também ele, a titularidade ameaçada por Jardel ainda na era Lage. Aquilo que o Benfica está a viver será, até, normal. Porque, em qualquer clube do Mundo com equipas de formação, há gerações e gerações. E nenhum jogador merece estar na equipa principal só porque foi formado no Seixal. Dizendo melhor: essa condição não chega para justificar a aposta de Jorge Jesus. Importante é que o contrário também não aconteça, ou seja, que um jogador não seja riscado pelo treinador porque foi formado no Seixal e não numa qualquer academia do Brasil, da Argentina, do Uruguai ou da Alemanha. Tem de ser, sempre, uma questão de talento. E desde que assim seja, nada a apontar a ninguém. É, como se costuma dizer, futebol.
Dito isto chegamos, pois claro, a Gonçalo Ramos, um jovem de 19 anos que tem brilhado na equipa B dos encarnados, já depois de ter dado nas vistas na Youth League e de se ter apresentado à maioria dos benfiquistas marcando dois golos em pouco mais de dez minutos na equipa principal. Não sei se Jorge Jesus lhe dará, ou não, oportunidades na equipa principal em breve. Das palavras do treinador depreende-se que não, que Gonçalo Ramos terá de esperar. É lá com Jesus, que até não se tem cansado de pedir mais um avançado. Há quem concorde e quem discorde com a opção. Os que concordam dizem, à boca cheia, que Gonçalo Ramos terá de crescer, talvez até sendo emprestado, para depois voltar à Luz um jogador feito. É uma teoria, como outra qualquer. A minha, por exemplo, é que se todos os jogadores fossem tratados assim o Benfica não teria vendido João Félix por €120 milhões. Ou Rúben Dias por 55. Voltaríamos ao tempo em que um Bernardo Silva sairia por €15 milhões para uns anos depois se perceber que, afinal, valia 100. Quando se tem talento pode crescer-se em casa, desde que sejam dadas oportunidades para perceber, pelo menos, se o melhor é, de facto, sair e regressar. Decidir sem experimentar é que não é nada.