Remar unidos!...
Há mais de dez anos que tenho procurado discutir o tema da composição do capital social da SAD do Sporting, sem grande sucesso. Comecei por fazê-lo publicamente no Congresso de Santarém, onde, de resto, foi aprovada como recomendação uma proposta minha - o Conselho Directivo e a Administração da SAD devem encarar frontalmente a hipótese de alienação de parte do capital social da SAD, dentro dos parâmetros legais, procurando parceiros credíveis, tendo em vista a resolução dos problemas económico-financeiros desta e do clube fundador, e rumo ao futuro mais competitivo, nacional e internacionalmente.
Defendi esta proposta porque, para mim, nunca fez qualquer sentido a transformação do departamento de futebol em sociedade anónima desportiva que não fosse para aportar capital nacional ou estrangeiro. Contudo, como as recomendações do Congresso não são vinculativas, não foi sequer aberta a discussão. Viria a ser eu também que, uns anos mais tarde, introduzi o tema na campanha eleitoral de 2011, em que fui candidato a presidente do Conselho Directivo, defendendo, em coerência, a tese daquela recomendação, isto é, assumi o risco de defender ideias, que não é, a maior parte das vezes, o objectivo das campanhas eleitorais. Não se definem rumos, fazendo-se promessas que normalmente não são cumpridas. Por isso mesmo o Sporting chegou ao ponto a que chegou, sem que alguém se preocupasse em esclarecer o que pensa do assunto, tendo sido eu de novo a lançar o tema na campanha eleitoral de 2018, porque era o tempo exacto para ser discutido, dada a situação. Quase dois anos depois, não descortino - talvez por defeito meu - um rumo para o clube e para a SAD.
Felizmente, tanto eu, como muitos sportinguistas, muito preocupados com o futuro, tomaram a iniciativa, antes da pandemia, de organizar umas jornadas de reflexão sobre diversos temas, alguns fracturantes, onde as ideias se coloquem à frente das pessoas - www.sportingcomrumo.com.
É um debate de sportinguistas para sportinguistas, de todas e das mais variadas tendências, visando encontrar um rumo para o Sporting Clube de Portugal, que os una e os leve a remar no mesmo sentido: com esforço, com dedicação, com devoção, rumo à glória que tem sido apanágio da nossa história.
Não pretende ser um programa eleitoral de ou para quem quer que seja, mas um fórum efectivo de debate sereno e tranquilo, que encontre um caminho a trilhar por todos, um caminho onde possam convergir todos os outros por onde temos caminhado e que nos têm afastado do sucesso. Uma estrada onde caminhemos aprumados, com o passo contínuo e certo, olhando sempre de frente, sem desvios e sem alteração do ânimo e da vontade, pois só assim teremos solidez para vencer os inimigos e desafiar os adversários. Nos últimos anos temos caminhado aos baldões, saltitando a cada passo para um lado ou para outro, olhando-nos uns aos outros de lado, com gestos sem nexo e os ânimos sempre inflamados, num percurso enrodilhado que nos faz tombar ao primeiro embate. Como muitas vezes se diz - e com inteira razão - não remamos todos para o mesmo lado!
Não temos de continuar a bater-nos uns aos outros. Bater todos batem: batem os fortes quando ninguém lhes faz frente, e batem os fracos quando têm as costas quentes. Convencer é que é difícil, sobretudo, porque convencer sem razão ou autoridade, nem os fracos, nem os fortes. Temos, pois, de nos convencer uns aos outros do caminho comum a percorrer.
Os sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal pronunciam-se pela exigência de um verdadeiro movimento de salvação leonina que, pela grandeza dos seus ideais, pela honestidade dos seus processos e pelo nobre propósito de continuar um clube centenário, encontre um rumo, com a dignidade de sempre e integrado numa sociedade moderna.
A hora é para encontrar soluções concretas e imediatas, porque os sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal começam a ficar impregnados de corrosivos desinteresse e cepticismo, não acreditando senão em factos palpáveis e de transparência insofismável. Urge traçar com firmeza o rumo. Soou uma hora decisiva para a nação sportinguista. A um tempo de crítica dissolvente sobre o passado, tem de se seguir um tempo de realizações concretas. Não é mais tempo para lutas inglórias e passageiras, para discussões acaloradas, mas sem sentido, para ataques e destruições.
É tempo, sim, de trabalhar, de o leão se erguer na altivez da sua juba, de mostrar a sua força numa nova caminhada e uma fé inabalável no rumo que traçar, por ser o rumo de todos nós.
Por mim, tenho procurado contribuir com a minha quota parte e continuarei a faze-lo aqui e em qualquer outro lado onde reclamem a minha opinião e o meu modesto contributo, para esboçar as bases primordiais de um novo rumo. E para grande satisfação minha que, nestes últimos dias, vários sportinguistas têm também dado excelentes contributos, para o debate que importa fazer: Tomás Froes, no Record - Vejo o Sporting Campeão; Samuel Almeida, no Jogo - O debate que importa ter no Sporting; Miguel Poiares Maduro, no Record - Como superar o presidencialismo; Carlos Barbosa da Cruz, no Record - O futuro da SAD (1); Henrique Monteiro, em A BOLA, na sua coluna Leão à Solta ; Rui Calafate, no Record - Liderança carismática no Sporting (1). Podemos não concordar com tudo, mas é exactamente a diversidade de opiniões que enriquece o debate e ajuda a encontrar o rumo no essencial. Importa debater o que é importante, pondo de lado o acessório.
Uma conclusão se tira destes e de outros artigos: todos estão conscientes - e querem transmitir essa consciência - que o Sporting necessita de um rumo em diversos aspectos, designadamente, no que respeita à governance (estatutos) do clube e da SAD e à sustentabilidade desta, com foco na composição do capital. Em futuros artigos tenciono abordar as principais questões abordadas por aqueles meus prezados consócios nos artigos citados.
O debate que importa está lançado, e é de ideias e não de pessoas, sendo que as únicas em causa são as pessoas colectivas Sporting Clube de Portugal e a sua sociedade anónima desportiva e os seus superiores interesses.
É tempo de encontrar um rumo!
É tempo de criar uma onda verde nesse rumo.
É tempo de remarmos todos para o mesmo lado.
É tempo de REMAR UNIDOS!