Raul José de Tomas Mourinho

OPINIÃO02.02.202022:36

O futebol é engraçado. Tal como a vida. Ora estamos bem, ora estamos mal. Li uma das maiores filosofias de vida num livro dum monge budista: «Tudo passa.» Ganhámos o Euromilhões? Isso passa. Estamos doentes? Isso passa. Estamos felizes porque nos mudámos para uma casa nova? Isso passa. Estamos desolados porque a namorada nos deixou? Isso passa. Tudo passa. Rigorosamente tudo. Claro que há coisas que demoram a passar. Mas tudo acaba por passar. Há filosofias ainda mais drásticas. Como a de um anarquista: «A vida é uma m... e depois morremos.» Não deixa de fazer sentido.

Lembrei-me destas duas filosofias (talvez baratas, é certo) a propósito, para já, de Raul de Tomas. Estava no Rayo Vallecano a marcar golos atrás de golos. Mas tudo passa. E veio para o Benfica. Deixou de marcar golos. E não deixou de marcar golos durante um ou dois dias. Não. Prolongou-se. E parecia não passar. Mas passou. Agora está no Espanhol a marcar golos (quase) atrás de golos. Até sempre? Não. Um dia, vai passar. E voltaremos a lembrar-nos do Raul de Tomas do Benfica. E assim sucessivamente.

Há uns meses (poucos, é certo) começávamos a falar, entre dentes, do princípio do fim de Cristiano Ronaldo. Tudo acaba, enfim, por passar, como diz o velho monge budista. Os golos de Ronaldo, porém, não paravam de acontecer. Entre 2002 e 2020 (sobretudo entre 2008 e 2019) eram golos atrás de golos. E muitos à espera que tudo passasse. Mas não passou. Ele continuou a marcar. No Manchester United, no Real Madrid e na Seleção Nacional. Até que foi para a Juventus. Ai, agora é que tudo vai passar, pensaram muitos. Não passou. Pareceu passar, mas não passou. Até que entrámos em 2019/2020. E, aí por volta de novembro, alguém se lembrou de adaptar a também velha máxima anarquista: «A vida de goleador foi bela, mas acabou.» E muitos de nós pensaram o mesmo. Tudo passa. E passou. Passou a má fase e regressaram os golos. Agora, são 19 em 19 jornadas. Nada mau, hem, nada mau.

Outro de quem já se antevia o fim: José Mourinho. Tudo passa, sim. Passou a Champions de 2004, passou a Champions de 2010, passou a Taça UEFA de 2003, passou a Liga Europa de 2017. Entrou no Tottenham há dois meses e meio. Passou a equipa do 14.º lugar para o 5.º em 13 jornadas garantindo 23 pontos. Mais pontos, neste período, apenas Liverpool (39) e Manchester City (26). Ontem bateu o City e Guardiola e entregou ainda mais o título ao Liverpool de Klopp. O treinador alemão é agora (justamente) o número 1. Mas vai passar. Tudo passa.