Ramos em fogo

OPINIÃO04.08.202206:30

O que Gonçalo Ramos tem a ver com a Alice no País das Maravilhas (e com Roger Schmidt)

JÁ o tinha pressentido antes, mas sim, claro: depois dos seus três golos ao Midtjylland o que eu vi foi o Gonçalo Ramos a fugir, ainda enleante, do destino (mais triste e mais sombrio) que anda, algures, pelo capítulo 6 de Alice no País das Maravilhas. É, é mesmo aí - quando a Alice encontra o Gato e lhe solta, na encruzilhada, a pergunta pouco filosófica:
- Dizias-me, por favor, qual o caminho que eu devo seguir?
Chesire responde-lhe com a frase a transformar-se ela própria num destino (mais triste e mais sombrio):
- Isso depende bastante de para onde queres ir
e ouvindo de Alice (em displicência):
- Não me importa muito para onde…
o Gato atira-lhe, perentório:
- Então qualquer caminho serve!
O que é que isso tem a ver com o Gonçalo Ramos? Muito. Ou melhor: tudo. E com Roger Schmidt também. Com Roger Schmidt, Gonçalo Ramos deixou de viver a angústia (ou o desatino) de ter de jogar sem que se lhe desse o melhor caminho para onde ir (e sobretudo onde estar). Com Roger Schmidt passou a ser o jogador que (por instinto e esperteza) está onde deve estar com os pés em fogo (e a cabeça em esperteza), dando ao seu jogo maior grandeza (e mais golo), melhor golpe de asa (e menor pólvora seca). Com isso, vai-se-lhe soltando mais o craque que há em si sem que se veja o Gonçalo Ramos a perder-se na entrega ao seu jogo (e ao da equipa) ou a perder-se no desejo de o marcar (a flores em fogo). E, com isso, no jogo do Gonçalo Ramos deixou de se ver-se a Alice a cair no buraco e a encolher nesse seu destino (mais triste e mais sombrio…)
PS: No Florentino está, também a acontecer coisa parecia - simplesmente porque Roger Schmidt lhe ensinou depressa que, no futebol para se correr bem não é preciso correr-se muito, sobretudo quando um jogador tem o talento e a argúcia que ele tem para jogar onde está a jogar (e o talento e a argúcia são de mais para jogar no Getafe…)