Rafa e o imensamente sublime

OPINIÃO02.12.201800:36

Rafa demorou muito tempo a aquecer. Entrou no Benfica no verão de 2016, pouco depois de se ter sagrado campeão da Europa por Portugal, por ter jogado um minuto frente à Áustria. E foi aquecendo. Aqueceu, aqueceu, aqueceu, por vezes voltou a esfriar, depressa voltou a aquecer. E aqueceu, aqueceu, aqueceu. Aqueceu tanto que, quando se encontrava frente aos guarda-redes adversários, falhava sempre o remate. Havia Salvio, Zivkovic, Cervi, Gonçalo Guedes, além dos goleadores Jonas, Mitroglou e Jiménez. E Rafa jogou pouco e aqueceu muito: 1098 minutos na liga e apenas dois golos. Na segunda época, continuava a haver Salvio, Zivkovic, Cervi e (não havendo já Gonçalo Guedes) havia ainda os jovens João Carvalho e Diogo Gonçalves, além dos goleadores Jonas e Jiménez. Rafa continuou a jogar pouco e a aquecer muito: 1214 minutos na liga e apenas três golos. Até que Rafa se fartou de aquecer. Salvio, Cervi e Zivkovic mantinham-se no plantel, apareceu ainda João Félix, mas o corpo de Rafa estava em ebulição.


E como qualquer corpo em ebulição, dilatou. Dilatou tanto que passou a ser quase imprescindível para Rui Vitória. Excluindo a deslocação do Bessa, esteve em todos os jogos do Benfica para a Liga. E é o avançado mais utilizado pelos encarnados na Liga: 629 minutos, 5 golos. Sim, não é erro: 5 golos. É o melhor marcador da equipa com os tais 5 golos, mais um do que Pizzi e Jonas. Ninguém pedirá a Rafa que seja o melhor marcador do Benfica no final da época. Talvez lhe peçam que marque mais golos (muito mais) do que nas duas primeiras épocas de águia ao peito. Os benfiquistas exigir-lhe-ão, sim, que coloque sempre em campo a sua arma mais poderosa: a velocidade. Não há no Benfica jogador mais rápido do que Rafa. Serão raros, nas 18 equipas da Liga, os que o igualem em velocidade pura. Claro que futebol não é atletismo, nem sequer uma prova de 100 metros. Mas ser explosivo ajuda imenso. E se Rafa continuar a afinar (cada vez mais) o pé, ainda estará a tempo de ser um caso sério no futebol português.

Caso sério na Liga dos Campeões é, como se sabe desde há dezenas de anos, o FC Porto. Onze vezes presente nos oitavos de final nas últimas 16 épocas (2003/04, 2004/05, 2006/07, 2007/08, 2008/09, 2009/10, 2012/13, 2014/15, 2016/17, 2017/18 e 2018/19), três em que chegou aos quartos de final (2003/04, 2008/09 e 2014/15) e uma em que venceu a prova (2003/04). Falhou apenas por quatro vezes: ausente em 2010/11, caindo na fase de grupos em 2005/06, 2011/12, 2013/14 e 2015/16. Chegar de novo aos quartos de final seria sublime. Mas imensamente difícil. Ou difícil. Mas imensamente sublime.