Rabiots e Ronaldos no planeta Ten Hag
O Manchester United entrou há muito numa espiral negativa, em que tudo se une para que não responda em campo e, muito, fora deste
TEN HAG sabia ao que ia quando decidiu deixar o conforto do Ajax, onde construiu segunda equipa de enorme qualidade, e aceitou o desafio gigantesco que era o atual Manchester United. Se não há dúvidas do risco que significaria, para o treinador, falhar em Old Trafford, também é verdade que o casamento fazia sentido porque aproximaria o clube de um modelo que tem funcionado para alguns rivais, assente na pressão alta, contrapressão agressiva e na alternância do ataque posicional com transições letais.
Os red devils entraram há muito numa espiral negativa, em que tudo se parece unir para que não respondam em campo e, também e muito, fora deste. É um círculo vicioso. Os resultados tiraram a equipa da órbita da Liga dos Campeões e perdeu-se internamente ainda a cultura de vitórias. Se a política desportiva sempre deixou a desejar na era Glazer, agora, com os fracassos acumulados, é ainda mais difícil convencer recrutas de qualidade superior. Sem poder contratar nomes como De Ligt, De Jong ou Antony, por exemplo, o United tem de contentar-se com Lisandro, um Eriksen que já não sonhava com estas andanças e, eventualmente, Rabiot, que a Juventus, também a atravessar a sua própria crise, quer despachar. Até Ronaldo, que ainda poderia ser o pólo aglutinador da reconstrução, não se contenta com o presente e contribui para o estado de convulsão. Sem ter mais opções devido à lesão de Martial e ao mercado agonizante, Ten Hag entregou-lhe uma titularidade, que face ao regresso tardio provavelmente não merecia. Pior, fê-lo com o português de estatuto abalado entre os companheiros, após tantas notícias a sublinhar o quanto desesperadamente deseja abandonar o barco. Se o técnico não consegue explicar completamente a presença no onze do capitão 87 milhões Maguire ou de Shaw, entre outros, também o planeta que agora habita terá perdido a força gravitacional que o aproximava dos gigantes do sistema.
OSporting conseguiu a vitória mais expressivo entre os três grandes, porém nem por isso os leões não passaram por dificuldades na construção na receção ao Rio Ave, tal como aconteceu com FC Porto e Benfica, respetivamente diante de Vizela e Casa Pia. A resistência dos vila-condenses durou menos tempo, e os leões souberam capitalizar essa mesma vantagem graças a uma ligação que promete, entre Trincão e Pedro Gonçalves. Fantástico o 3-0, já depois de Matheus Nunes ter sublinhado o quanto o seu futuro não passa a curto prazo por Portugal. Foi o triunfo do modelo, todavia com forte acento tónico no virtuosismo dos homens da frente. Já o Benfica sentiu bastante a falta do virtuoso Neres, o que obrigou Roger Schmidt a ter de precipitar a ativação da solução Bah, depois de Gilberto ter colocado em campo todas as limitações que tem (e que apenas disfarça) com bola, e que constrangiam a equipa na largura e no ganhar da profundidade. Gonçalo Ramos manteve o registo goleador, Rafa apareceu a espaços e assistiu, todavia foi Florentino quem confirmou crescimento com exibição de excelência a todos os níveis, em má tarde para os criativos. Por fim, Sérgio Conceição teve de abdicar do plano inicial ao intervalo e só uma bola parada fez quebrar a réplica vizelense, que até teve as suas oportunidades para marcar.
ESTRANHO Barcelona este, penalizado pela confusão de ideias. Uma manta de retalhos de tecido de alta costura, porém incapaz de vestir com bom gosto uma equipa que gosta de se mostrar simples, mas elegante.