Quem vai ser o funcionário do mês?
Por vingança em relação ao que disse Jorge Jesus, espera-se que o guarda-redes do Benfica faça, agora, questão de vir a ser o funcionário do mês
HÁ empresas que costumam eleger o funcionário do mês. Nunca percebi se essa distinção envolvia prémios monetários. Provavelmente, em alguns casos, sim, em outros, não. Sei que não é, sequer, uma norma portuguesa. Pelo contrário, vi mais vezes esse quadro de honra de funcionários no estrangeiro e, em especial, nos hotéis, onde surgem, em destaque, a fotografia do contemplado, sorrindo de felicidade e de orgulho, por ter sido escolhido como o melhor.
Da justiça ou da injustiça desses reconhecimentos saberão os que conhecem a casa por dentro. Várias serão as razões, umas que se prendem, realmente, com a competência, outras que se prendem com a solução de um problema particularmente complicado e ainda outras diversas, que até se podem prender com o rapaz ou rapariga que foi mais fiel ao patrão.
Nas equipas de futebol, para efeitos mais mediáticos que outros, há o hábito de eleger o melhor. Uma tradição que pela sua banalidade já pouco é levada a sério, sempre com base na apreciação subjetiva dos comentadores, alguns, sobretudo nos canais televisivos, que transmitem os jogos em direto, sempre com pressa de despachar a coisa para entrar a horas a publicidadezinha que é o que dá o sustento e, por isso, na linha de hierarquias está em primeiro lugar do que o espectador.
Jornais, rádios, televisões escolhem os melhores de tudo. Em cada jogo, em cada jornada, em cada mês, em cada ano e, às vezes, em cada século, sendo que o milénio é tempo de mais para servir de medida de tempo ao jogo bretão que apenas vai em pouco mais de um século de vida.
De repente, sem que nada o fizesse prever, surgiu uma polémica no futebol português. Ora, o futebol português é conhecido pelas suas polémicas raras, daquelas que são tão bizarras que só mesmo no futebol português são possíveis.
A polémica consiste no facto da maioria dos comentadores dizerem que o homem do jogo no Benfica-PSV tinha sido o guarda-redes Vlachodimos. Mas Jorge Jesus não estava de acordo. A todas as defesas que os entusiásticos comentadores, no auge da adrenalina do relato do jogo, consideravam soberbas, colossais, impossíveis, extraordinárias, gigantescas, memoráveis, num deslifar infinito de adjetivos, Jorge Jesus chamou defesas normais. Com esta aparente displicência em relação ao trabalho do seu keeper, Jesus parecia querer dizer: «Só faltava que o Vlachodimos tivesse deixado entrar uma daquelas bolas. Se acontecesse, a isso se chamaria um frango!»
Daqui surgiu a polémica que tem abafado as notícias do dia. A maioria acha que Jorge Jesus não concorda que o guarda redes tenha sido o melhor, porque seria o mesmo que concordar com o facto do Benfica ter ganho o jogo por causa do guarda-redes e não por causa dele, o treinador. Não, para Jorge Jesus o melhor, ou seja, o empregado do jogo, foi Morato, um jovem brasileiro que teve de aguentar a exiguidade de centrais da equipa, que tem pontas de lança como Xangai tem habitantes, mas que não tem centrais para apoiar um sistema em que têm de jogar três ao mesmo tempo.
Entretanto, a questão principal deixou de ser a de sabermos quem foi o melhor do jogo, mas a de sabermos o que terá levado Jorge Jesus a dizer que não foi Vlachodimos, mas sim Morato, o melhor em campo. O que nos dirige, desde logo, a atenção para essa não menos importante questão de tentarmos perceber como é que Vlachodimos acolheu mais esta aparente desconsideração do seu treinador. Não se sabe, mas espera-se, agora, que, por vingança, Vlachodimos faça questão de vir a ser o funcionário do mês.
Vlachodimos brilhou contra o PSV
APRENDER NOVOS NOMES DE CLUBES
Paços de Ferreira é um nome que pela primeira vez terá sido lido por milhões de ingleses, quando olharam surpreendidos o resultado com o Tottenham: 1-0. Ainda não saberão, sequer, como se pronuncia mas irão estar atentos para o jogo da segunda mão. Claro que não serão tantos os que leram o nome de Santa Clara, mas, sobretudo, os sérvios terão achado estranho que uns rapazes das ilhas atlânticas tenham vencido o Partizan de Belgrado. Por cá houve palmas de circunstância para a graça. O devido valor fica, entretanto, adiado.
ONDAS DE VERÃO ONDAS DE OUTONO
Tinham razão os técnicos de saúde que já há alguns meses nos diziam que teríamos de aprender a viver com o vírus. Nessa altura achávamos que era exagero e bastava chegar ao número mágico de 70 por cento de vacinados. Seria a imunidade de grupo! Afinal não é bem assim. Fala-se agora em 90 por cento e, mesmo assim, não quer dizer que o vírus não sobreviva a tanta vacina. Neste mês em que os portugueses meteram o País em férias, e se banham nas ondas suaves do mar, já se fala dos perigos da onda do outono.