Quem ganha o clássico?... Eu sei lá!

OPINIÃO08.02.202001:05

ACREDITEM, nada me irrita mais do que aquela pergunta de inteligência zero: «qual vai ser o resultado do clássico?» Pior ainda quando parecem esperar de mim uma resposta científica, justificando a expectativa com um suposto elogio: «você, que é um homem do futebol, diga lá quem vai ganhar?» Eu esforço-me sempre por tentar explicar que não sou um homem do futebol. Sou um jornalista que há muitos anos acompanho e observo o jogo, o que significa ter suficiente experiência para não dar respostas cegas para ouvintes surdos. O futebol é o que é, precisamente, por ser impossível ir além de uma aposta, de um vaticínio, de uma suposição, quando se fala de um jogo...antes do jogo. Por isso, nem eu, nem ninguém, a começar pelo Sérgio Conceição e pelo Bruno Lage fazem ideia de quem vai vencer. Esperanças, sim, cada qual tem a sua, mas não mais do que isso.

DITO isto, que é o essencial, há sempre ângulos de especulação sobre um jogo grande, o que o torna ainda maior, o que alimenta o banquete das discussões. Julgo que um dado interessante é o estatístico. Aquele que desperta os números da história dos resultados do clássico e aquele que se baseia em números mais recentes, do tipo: «em dezanove jogos do campeonato, o Benfica ganhou dezoito e perdeu um.» É, de facto, um currículo invejável, mas que arrefece quando se acrescenta: «mas essa derrota única foi sofrida na Luz e adivinhem qual foi o adversário? Pois, o FC Porto!» Sabemos todos que as estatísticas, em futebol, explicam mais o passado do que o futuro. Não vale a pena torturar os números, nem as pessoas com isso. O que se pode é lembrar que nem FC Porto, nem Benfica têm conseguido, nos tempos mais recentes, aquilo a que se poderia chamar o esplendor na relva. Pelo contrário. Basta ver os dois últimos encontros: o Benfica merecia ter perdido com o Famalicão, na Luz; e o FC Porto engasgou-se em Viseu, com um futebol com a insustentável leveza do granito. Ou seja: as duas equipas chegam ao momento essencial do confronto num estado de desmazelo. Uma grande mudança nesse estado até acabaria por soar a estranho. Se, de repente, o Marega ou o Gabriel aparecessem no auge das suas competências e forças, seria legítimo pensar-se que teriam caído no caldeirão da poção mágica do Astérix. E não ponham na minha cabeça ideias que eu não tive, nem ponham na minha bocas palavras que eu não disse.

POBREZINHO, muito pobrezinho, mesmo, tem sido o clássico em matéria de mind games. Acho que o FC Porto, que costumava ter mais engenho e arte na matéria, até porque Pinto da Costa aproveitava sempre estes momentos especiais para treinar a sua elogiada veia irónica, anda agora mais interessado em apanhar ratos azuis do que em fazer piadas com um jogo, mesmo quando o adversário é o Benfica. Além do mais, a vida não corre divertida no Dragão e as notícias sobre processos judiciais também não ajudam e já foram, de resto, colocadas no quadro de honra das desestabilizações. Poder-se-á dizer que, aí, FC Porto e Benfica estão empatados, porque também surgiram novas notícias de suspeitas sobre a transparência das múltiplas transações de passes de jogadores, a somar ao caso dos emails, mas estas são notícias que afetam sempre mais os que já andavam afetados. Por isso, há menos folclore antes do grande jogo, há menos ruído, há menos provocações e, assim, há menos ambiente de clássico. Não é necessariamente mau, mas é diferente.