Quem dispensa um pouco de ‘glamour’?

OPINIÃO01.08.202004:00

FINAL da Taça de Portugal sempre foi sinal de festa do futebol. Daí o Estádio Nacional ser insubstituível. Não é o melhor estádio do mundo, a não ser para os adeptos do Celtic, que continuam a vir em romaria celebrar o seu já longínquo título de campeões europeus, mas é um estádio com História e com o glamour próprio para uma final da Taça. Daí que de norte a sul do país, com a exceção persistente do FC Porto, por influência direta do seu presidente, todos os clubes se sintam honrados por estar numa final da Taça, no Jamor. Podiam ficar igualmente honrados por estar na final da Taça noutro estádio qualquer, mas isso não acontece. O Jamor tem outro encanto, outra patine, outro currículo histórico e cultural.

O Estádio faz parte de uma velha e pelos vistos desusada tradição de futebol honesto, de espetáculo do povo, de vencedores improváveis, que sempre ajudam a alimentar lendas e narrativas.

Desta vez, dizem que por causa do Covid-19, roubaram ao Jamor a sua festa anual. Não foi só por isso. A ideia de festa, infelizmente, não se cola a um Benfica-FC Porto, que continua a despertar demasiadas paixões e não menos demasiados ódios. Numa decisão supostamente salomónica, a escolha inédita de Coimbra para a grande final. Não podendo ser onde devia ter sido, pois que seja Coimbra, cidade com História e tradição de amores.

Mas há um problema evidente de falta de glamour e não sei quem por aí andará que possa emprestar algum a esta final tão, dele, necessitada.
Até agora, pelo que se tem ouvido e visto, tem sido uma monotonia, um jogo igual a qualquer outro, um clássico déjà vu, que não acrescenta nada à longa e bonita História dos clássicos. Pode ser que o jogo tudo consiga mudar e nos salve, a todos e ao futebol, desta apagada melancolia.  

SÉRGIO CONCEIÇÃO e Nélson Veríssimo também foram contagiados pela ideia de vulgaridade do momento. Cansados de emoções e trabalheiras numa época atípica e particularmente difícil, os dois treinadores das equipas finalistas apenas sentem, pela final da Taça de Portugal, o desejo óbvio de a ganhar. Têm, ambos, a noção da importância de se tratar da discussão de um título, embora não haja divergência no conceito pouco entusiasmante de não ser mais do que um título. Ora, que me desculpem, os dois, mas não é bem isso que a Taça merece. Saudades da sensibilidade tão especial de Quinito, que vestiu smoking e pôs um laço, quando, finalmente, na sua carreira, chegou a uma final da Taça no Jamor.

PINTO DA COSTA está a andar para trás. Antes, ao longo da sua longa e tumultuosa vida de dirigente de sucesso, não sabia perder, o que logo se viu que se tornava numa virtude competitiva; mas agora, também não sabe ganhar, e isso é visivelmente um bem dispensável defeito. Desde que o FC Porto se sagrou campeão e, apesar de haver um reconhecimento unânime de sentido de justiça, o presidente do FC Porto, talvez porque a festa tivesse sido socialmente pequena, porque condicionada pela pandemia, sempre que se refere à vitória no campeonato vem falar de uma conhecida marca de pastilhas para a azia, o que o torna demasiado parecido com Bolsonaro em matéria de publicidade de medicamentos. É estranho que não realce tanto a paixão de ver o seu clube ganhar como o gosto de ver o seu rival perder. O que não deixa de ser um preocupante sintoma de complexo de inferioridade, algo, que, aliás, o FC Porto não merece.