Quase um ordenado mínimo

OPINIÃO12.08.201804:28

1 - A Liga portuguesa arrancou na passada sexta-feira no Estádio da Luz e a sua primeira jornada termina, em razão de imperativos dos exclusivos da televisão , apenas amanhã em Portimão. O jogo foi transmitido pela BTV. Os outros pela SportTV. Quase todos os jogos - com exceção dos jogos do Funchal e de Santa Maria da Feira - foram  e serão   em  diferentes horários , o que permite um funcionamento em pleno do VAR  , na bonita Cidade do Futebol. O Benfica mostrou na primeira parte frente ao Vitória de Guimarães que a reconquista - da Liga! - é possível . E o fervor que explodia das bancadas evidenciava que a fé é imensa e intensa. É legítimo o sonho! E com Jonas o sonho cresce e acresce ! Mas o mesmo Benfica nos últimos minutos da partida evidenciou algumas fragilidades que, decerto, terão sido entendidas como oportunidades para a devida e sagaz ponderação técnica. Na primeira parte houve momentos de nota artística e com Pizzi a fazer, com brilhantismo, três continências de encantar e de embalar. De embalar para um difícil e complexo jogo na próxima terça-feira na parte asiática de Istambul e face a um adversário que mostrou na passada terça-feira, principalmente na primeira parte, alguma ratice em razão da grande experiência de alguns dos seus jogadores. Mas do jogo de sexta-feira ficam as confirmações de Gedson e Vlachodimos, a sagacidade de Salvio e a raça de Grimaldo. E a convicção que Ferreyra vai marcar e vai mostrar  tudo o que vale! A Liga Nos aí está. Agosto após Agosto recomeça o sonho de cada um de nós. Em que a paixão, por vezes, e bem (!), vence a razão. Em que ambicionamos largos momentos de prazer e poucos instantes de dor. Em que desejamos sempre vencer mas sabemos, desde o saudoso Senhor Artur Semedo, que «o Benfica nunca perde, de vez em quando é que não ganha»! É com este sentimento que semana após  semana  vibramos e sofremos, exaltamos e justificamos, apreciamos e motivamos. Sabendo, sempre, que somos legitimamente treinadores de bancada e árbitros pela televisão! E ,assim, sendo VARs caseiros construímos acrescidas justificações  e criamos irrelevantes substituições. Já que na nossa catedral só queremos  a exaltação do nosso Deus! Já que o Outro, o de Verdade, nos perdoa estes pecados que também nos dão VIDA!

2 - A Senhora da Graça é uma das etapas míticas de qualquer Volta a Portugal. Nesta edição oitenta foi, ontem, a etapa rainha. Aquela subida é um momento de verdade, de demonstração de capacidade e de força, de reconhecimento da resistência e da excelência, da constatação da tenacidade e, também, da sagacidade. Ali, após duras etapas, foi um importante momento de decisão. E com uma adesão popular que só confirma que a Volta é do Povo. Que vibra e empurra. Que motiva e estimula. Com a vitória de ontem Raúl Alarcón tem a Volta na mão. E a derradeira amarela para vestir. Com a certeza que o seu grande patrocinador não deixará de sorrir. De sorrir de alergia e de justo contentamento. E este Amigo aqui está para lhe enviar o abraço apertado de parabéns!       

3 - Em Sernancelhe na passada quarta-feira a simpatia foi uma constante e com um vinho espumante que merece, sempre, outra revisitação. Mas ali  ou em Boticas, em Viseu ou em Setúbal, na Serra da Estrela ou na Senhora da Graça sentimos a Volta na sua plenitude. O povo, o povo nunca a abandona. Qualquer que seja a composição do   pelotão, as seus cores e os seus nomes  de referência. A Volta e as suas bermas têm magia e têm costumes. Salvo quando, como ontem, a Volta passa à porta de alguns numa consentida invasão da sua aldeia. Como a do Barreiro, em Mondim de Basto. Mas ali na Volta que nos apaixona está um povo que respeita as idades. Lá estão as cadeiras para os mais velhos. À frente, no limite das bermas daquelas estradas que merecem ser visitadas e sentidas com toda a calma, estão as e os mais velhos. Que já viram muitas Voltas, muitos ciclistas, muitas equipas, muitas marcas, muita publicidade. E, depois, atrás, na relva ou no que resta dela, as mantas para as brincadeiras dos mais novos. Ali naquele espaço que cada ano se repete  todos se juntam à espera dos trabalhadores das pernas: os avós e os netos. E, no meio, os filhos e os pais. E num instante as sirenes da GNR, e dos seus homens e mulheres do trânsito, sinalizam a urgência do aplauso, do reconhecimento do esforço imenso dos ciclistas e a rápida busca visual do camisola amarela. E ali ficam aplaudindo todos, e, não se espantem, cada vez com mais força. Os últimos são mais incentivados, mais estimulados, mais motivados. E só com a passagem do carro vassoura se começa a desmontar a tenda já que a merendeira está quase vazia. E a manta, bem abanada e bem dobrada , é guardada para a próxima Volta. Mas, no final, ainda fica para partilhar o pequeno naco do singular queijo da Serra, a bola de bacalhau que é divinal, as cavacas da Lapa que são deslumbrantes, a broa de milho deliciosa e o resto do vinho espumante ou caseiro que nos refresca a mente e encoraja a alma. E aqueles parceiros, como nós, que temos o privilégio de sermos convidados para aquele banquete que se repete ano após ano, temos de agradecer tais momentos. É também isto que faz com que a tribo do ciclismo seja um tribo única, uma tribo que nunca desiste, uma tribo em que cada Volta é sempre um recomeço. É o prazer da corrida, o prazer da comida, o prazer das  deslumbrantes paisagens, o prazer da companhia. Sempre  fraterna.  Todos, mais velhos ou mais novos, de Fafe ou de Loulé, homens ou mulheres, qualquer que seja o pelotão e a sua composição, nunca se cansam. Nunca mesmo. Por isso a Volta  Portugal é um evento único. Hoje, esta tarde, mais uma edição termina. Com o reconhecimento do e ao vencedor e a certeza que ela foi, uma vez mais, uma Volta que nos mostrou imagens únicas do nosso Portugal e a força singular do ciclismo. Para o ano voltarei. Voltaremos. Com o agradecimento à organização pelo acolhimento e pela simpatia e este ano a Sernancelhe pela hospitalidade. Com a certeza de que voltaremos aqui no tempo da castanha!

4 - O mundo é feito de mudança. Já cantava o imortal Poeta e já o sentimos nós os fiéis adeptos/clientes/consumidores do futebol em Portugal. A dispersão dos exclusivos televisivos de futebol em Portugal implica que cada fiel consumidor gaste, esta época, quase um ordenado mínimo se quiser ver os principais jogos das mais relevantes competições.  Sem falarmos nos  canais  em aberto teremos  de contratar três operadores. A SportTV para as nossas Ligas e outras competições  nacionais, Liga inglesa, Liga italiana, por ora Liga alemã e , agora, e em direto, a Liga chinesa, entre outras menos importantes. Depois a NOWO - Eleven Sports - se quisermos acompanhar a Liga dos Campeões - com a exceção de sete jogos da Liga dos Campeões que serão transmitidos pela TVI -, a Liga espanhola, a Liga francesa, a liga belga e a liga escocesa. E, naturalmente a, a BTV, em razão dos jogos na Luz do Benfica. Um ordenado mínimo custa o futebol sentado e no sofá! Por ora deixo os factos. Que vão aos bolsos dos clientes/consumidores. E que levarão muitos a ver nos rossios de ontem os jogos dos seus clubes do coração e levarão, outros, a mecanismos de substituição para acompanharem, também a cores, as suas paixões. O mundo, este mundo, é mesmo feito de mudanças. Como disse John Kennedy «a mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente, irão com certeza perder o futuro»! E o futuro, neste âmbito, é bem incerto!