Proibido dormir na forma

OPINIÃO02.07.201904:00

Se o Benfica entrar  na próxima época à sombra do sucesso da época transata é um engano. Sábias palavras que Bruno Lage quis transmitir aos seus jogadores, em mensagem pública  emitida pelo canal do clube  no dia do regresso ao trabalho.
«Quem deixar de treinar-se com a intensidade desejada, quem deixar de correr e jogar em equipa» fica sem espaço, por não ter mentalidade para representar  emblema  que pretende sublinhar a sua afirmação nacional e internacional através de dois grandes objetivos:  conquistar o bicampeonato (38.º) e reforçar o seu estatuto europeu.    
No momento presente suscita fraco entusiasmo  qualquer discussão em que o tema central seja o de questionar  a estabilidade do Benfica, que o coloca em plano mais elevado. É uma evidência, em contraposição aos dois históricos rivais e únicos candidatos a competirem com ele pelas conquistas mais importantes:
FC Porto - Ainda não se livrou do controlo financeiro da UEFA. Debate-se com notórias dificuldades para reconstruir um plantel  que defenda a honra do clube.  Substituir, em simultâneo,   jogadores com a qualidade de Felipe, Éder Militão, Herrera e Brahimi é complicado,  mas também  há dois anos, de um bando de renegados, Sérgio Conceição  formou um grupo profissional e de tal maneira disciplinado e forte que se sagrou campeão. O que me leva a deduzir  que o campeonato  que se segue será um cópia deste, e do anterior:  dragão e águia a lutarem pelo título  até á ultima gota de suor.  
Sporting - Novo treinador,  a dar boa conta do recado, que veio de alta escola e que, para sua proteção, deve rapidamente  comunicar sem intermediários. Não precisa dizer muito, tão somente perceber  o que lhe perguntam  e responder  o essencial.  A dúvida maior é Bruno Fernandes.  A sua eventual permanência fará enorme diferença. Com ele, o leão passa de candidato estatístico a candidato efetivo. Com o beneplácito da história: foi campeão em 1970, em 1980 e em  2000. A terminação em zero dá-lhe sorte e a próxima época acaba em 2020. Nunca se sabe…

OBenfica situa-se em patamar superior, mas nada de lhe foi oferecido, trabalhou muito para lá chegar sob a judiciosa e lúcida liderança de Luís Filipe Vieira.  Sei que  há quem embirre por, frequentemente,  trazer à colação a importância da figura presidencial no  longo e complexo processo de recuperação do emblema da águia, mas é a pura das verdades.
É o campeão em título, tem sido diligente nos trabalhos de casa e previdente na projeção do futuro.   Além disso, usando  linguagem militar, passa a ser absolutamente proibido dormir  na forma e a primeira advertência deu-a Bruno Lage  com sublime clareza: mais exigência, mais intensidade, mais alegria, mais equipa.  
O que aconteceu em  2010 deve estar gravado  na memória  de todos os benfiquistas como exemplo a não repetir.  Foi o primeiro ano de Jesus, em campeonato decidido na última jornada devido ao fantástico desempenho do SC Braga, que ficou em  segundo, então treinado por Domingos Paciência. Os festejos foram de arromba e as vaidades infindas, de tal maneira que nem tempo houve para preparar a época seguinte e  que viria a corresponder a um trambolhão de todo o tamanho: o Benfica foi despromovido a vice,  ficando a 21 pontos (!) do FC Porto. Uma vergonha de que só  viria a recompor-se quatro anos mais tarde.

OSeixal reabriu as portas  e leio em  A BOLA que os encarnados voltam ao mercado para contratarem  «um atacante móvel que também possa jogar como extremo». Só agora? O jornalista Rui Miguel Melo revela no seu trabalho que o Benfica já estava preparado para o fim da carreira de Jonas, mas contava segurar João Félix por mais um ano.


A prioridade incide, pois,  em  descobrir  o substituto do ‘jovem 120 milhões’.  É normal,  mas, por outro lado,  escapam notícias sobre outras situações igualmente determinantes para a imposição do tal Benfica ousado que pretende reocupar o lugar que foi seu  entre a elite europeia  e mundial.  Um Benfica apto física e mentalmente para se bater  em todas as frentes.  Não se fala, ou fala-se  pouco,  de alternativas para as laterais esquerda e direita, duas posições deficitárias: Grimaldo pode não sair, mas o seu historial clínico dá que pensar,  e André Almeida vale pela sua inesgotável disponibilidade.


A aquisição de outro guarda redes parece também  em banho Maria, ou é impressão minha. Vlachodimos, de 25 anos, é um jovem em crescimento. Denota inibições no jogo aéreo, a jogar com os pés e fora dos postes, o que não é pouco, mas para resolver esses e outros problemas é que existem  equipas técnicas com especialistas nas diversas áreas do treino. Apesar do apreciável cumprimento  do grego, o Benfica  continua à  procura de ‘um guarda redes de renome’.  De renome?  Enfim, se a questão é essa, procure…   Se me é permitida a opinião, porém, direi a que questão é outra e reside  em  descobrir um  clone de Jonas.  Mesmo com a dor nas costas, a falta que ele irá fazer!...