Profissão e arte

OPINIÃO20.03.202106:00

A ordem pela qual aparecem as regras e se desrespeitam. Fazer e criar.

Afrase é do pintor espanhol Pablo Picasso: «Aprende as regras como um profissional, para que possas quebrá-las como um artista.»
Custa-me analisar aquelas exigências académicas à volta dos treinadores de futebol, que cursos têm e como tal lhes afeta, ou não, a carreira, particularmente nos casos bem-sucedidos, como o de Rúben Amorim. Sou sensível ao que dizem os mais intransigentes, que lembram que para exercer a profissão é necessário estar certificado, por razões claras: para se poder assumir a responsabilidade pelo que se faz; para merecer melhores oportunidades de trabalho. Como negar isto? Quanto mais técnica a profissão, mais faz sentido. Ninguém é engenheiro sem a matemática.
Em todo o caso, há outras profissões que, no exercício, seguem por outros caminhos. Desde logo, a minha. Conheço muitos jornalistas que não sabem escrever uma notícia. Não sabem, ponto final. Não sabem as regras. Não sabem escrever. E, no entanto, têm outros méritos dentro da profissão, a dedicação, as fontes, a atenção aos detalhes, o espírito inquisitivo, valências que, na verdade, tenham ou não eles formação na área, vieram sempre mais deles, daquilo que são, do que dos outros, daquilo que lhes foi ensinado.
O futebol tem disto: uma sabedoria própria. O que aprenderá Amorim nos cursos de treinadores que não saiba já?
Poderá ser isto uma forma de separar o profissionalismo da arte, procurando ir ao encontro do que dizia Picasso? Será que quem sabe fazer algo sem que lho tenham ensinado é mais artista do que os outros? E será que quem aprendeu e estudou até ao fim é apenas um profissional e nunca poderá ser um artista?
Uma coisa me parece estar a ficar clara: Rúben Amorim é mais artista do que profissional. Desrespeitou as regras primeiro, para as aprender depois. E isso, respeitável ou não, é admirável.
Há fazer e há criar.