Professor Marcel em exame
Sobre o dérbi de hoje não há segredos. É crucial para o Sporting no sentido de poder lutar por um segundo título na época, na final do Jamor. É crucial para o Benfica no sentido de poder lutar por um título no Jamor e manter o ímpeto numa altura em que a equipa parece acusar algumas dificuldades. A diferença é que o Sporting, se não conseguir suplantar o rival, fecha a loja e fica a lutar pelo 3.º lugar até ao final da época, que jamais poderá ser considerada um desastre tendo em conta a terrível conjuntura pós-ataque à Academia que enfraqueceu extraordinariamente a equipa. O Benfica, mesmo se for eliminado, ainda luta em mais duas frentes: o Campeonato, que lidera, e a Liga Europa. Não vale a pena fazer grandes projeções sobre o que pode acontecer logo. É um dérbi decisivo: ponto. Tudo pode acontecer. Podemos apontar ligeiro favoritismo ao Benfica por algumas razões óbvias: porque é mais forte; porque tem jogado melhor; porque tem um plantel claramente mais forte, com muitas e boas alternativas para a realidade doméstica; porque venceu o Sporting com clareza nos últimos dois confrontos. Também podemos sublinhar que esse Benfica do início de fevereiro (4-2 em Alvalade, 2-1 na Luz) parecia bem mais pujante, assertivo e devastador do que este que venceu com grandes dificuldades o Tondela na Luz, no 50.º jogo da época. Julgo que há jogadores do Benfica a acusar cansaço, desgaste (também se nota nos do FCP) e que a equipa perdeu parte da fluidez, escorreiteza e contundência que transformaram Bruno Lage num caso de estudo ao fim de dez jogos (o décimo foi a tal vitória na Turquia com um Benfica B de babies». O dérbi será sempre importante para o Benfica. Se ganhar assegura o Jamor e reforça a moral para o duríssimo mano a mano com o FCP. Se for eliminado, é menos um título que pode ganhar [lembre-se que o Benfica, ao contrário do SCP e do FCP ainda está a zeros nesse capítulo]… sendo que a confiança não sairá reforçada, com certeza.
Para o Sporting, o dérbi será sobretudo importante para Marcel Keizer, o treinador holandês que foi aposta pessoal do presidente Varandas e cujo trabalho está muito longe de recolher a unanimidade no universo sportinguista. Não se nota evolução no jogo da equipa, que continua a ser previsível e pouco empolgante, à imagem do discurso monótono e desapaixonado deste holandês (no sentido de não transmitir emoção, entusiasmo, crença); e, quanto a nós mais grave, não se nota em nenhum jogador do Sporting melhoria ou evolução diretamente imputável ao treinador - como visivelmente acontecia com Jorge Jesus, por exemplo. É verdade que o SCP teve um belo mês de março (quatro vitórias em quatro jogos… mas sem nenhuma exibição de encher o olho, atenção) e estará porventura numa situação mais estável do que aquela em que se encontrava quando perdeu dois jogos seguidos com o rival. É verdade que o SCP tem menos alternativas e parece ter perdido os golos de Bas Dost pelo caminho. Mas tem o génio e os golos de Bruno Fernandes do seu lado. Aliás, é graças a um golão de livre na Luz daquele que é, de longe, a grande figura do Campeonato, que os leões ainda estão a apontar ao Jamor. Se chegar lá, a posição de Keizer, já vencedor da Taça da Liga numa final four com os 4 grandes, sairá no mínimo reforçada. Se o SCP sofrer uma terceira desilusão seguida com o velho rival… creio que a continuidade de Keizer poderá ser equacionada, mesmo contra a vontade presidencial.