Primeiras contas
1 - O Benfica terminou, com alívio, e com algum brilho diga-se, esta primeira fase da sua difícil entrada em cena da nova época, forçado a acumular três jornadas do campeonato, com um derby pelo meio, com quatro jogos de qualificação para a Champions, de importância financeira e desportiva decisiva. Saiu desse ciclo praticamente incólume, apenas com o empate caseiro frente ao Sporting a não poder ser considerado um bom resultado, mas compensado na mesma jornada pela inesperada derrota do FC Porto frente ao Guimarães, em pleno Dragão.
Na Grécia, frente a um PAOK que lhe era claramente inferior, o Benfica entrou completamente desnorteado e precisou da ajuda dos deuses do Olimpo para não ir ao tapete logo de entrada. Mas depois, a perder por 1-0, num banal canto e na primeira vez que rematou à baliza, fez golo e, logo a seguir, um penalty estupidamente oferecido pô-lo a ganhar e outro penalty, daqueles que raramente são marcados, acabou com a eliminatória. Foi daqueles jogos em que tudo o que podia correr bem, correu bem. O que torna ainda mais difícil compreender a má disposição e o azedume de Rui Vitória no final do jogo. Talvez as suas palavras fossem para consumo interno (só podiam), mas, mesmo assim, estranha-se que, em lugar de alegria e satisfação, só lhe tenham saído da boca recriminações e recados carregados de veneno, sem destinatário certo. É, infelizmente uma característica muito habitual nos treinadores portugueses, aqui ou lá for a, como ainda recentemente se viu com José Mourinho: uma má disposição à flor da pele, uma constante guerra contra moinhos de vento, uma incapacidade genética de entenderem o papel de uma imprensa livre e saudavelmente critica. Enfim, feitios…ou estratégias.
2 - Com Benfica e Porto na fase final da Champions, o panorama europeu das equipas portuguesas desanuviou um pouco, no lento deslizar dentro do ranking da UEFA - este ano já acentuado pela eliminação precoce do Braga da fase de grupos da Liga Europa (sendo que o Aves já era esperado). E a roda da fortuna foi favorável a ambos: ao FC Porto, reservando-lhe a única das equipas acessíveis do pote 1 e poupando-a a algumas das temíveis do pote 3; ao Benfica, não o poupando ao Bayern, mas deixando-o bem colocado para disputar o segundo lugar com as outras duas, não ocorrendo um apagão humilhante como o da época passada. Se ambos conseguirem entrar em cena com um empate contra os seus adversários alemães - o Benfica na Luz, o FC Porto no teatro mágico de Gelsenkirchen - será um grande passo, pontual e anímico em direcção ao pote seguinte dos milhões. Mas já lá estão garantidos 43 para o Benfica e 50 para o FC Porto, o que cava uma substancial diferença de condições competitivas para o Sporting - a pagar a factura do jogo do Funchal na última jornada e da desvairada desestabilização da equipa levada a cabo por Bruno de Carvalho.
3 - A janela de transferências do Verão fechou-se e o FC Porto conseguiu segurar todos os seus jogadores mais ameaçados: Alex Telles, Felipe, Brahimi, Aboubakar e Marega. Depois há mais uns que se diziam muito desejados mas de que nunca se viram reais desejos ou ofertas de aquisição. E depois há os outros, que ninguém cobiça. Qualquer treinador de bancada com um mínimo de experiência, consegue distinguir uns dos outros: basta olhar para o campo, não uma, mas sim duas, três, cinco vezes. Tenho pena que Mikel tenha sido emprestado ao Vitória de Setúbal, mas ao menos fica perto da vista e espero que se tenha salvaguardado a possibilidade de o recuperar em Janeiro, assim Sérgio Conceição o entenda.
Entraram, tal como ele pedia (mas menos do que ele pedia e a equipe precisava), um lateral esquerdo, um tal de Seu Jorge, e um médio, Bazoer, vindo do Wolfsburg - ambos por empréstimo e, felizmente, ambos sem cláusula de compra obrigatória (sinal dos tempos). Tudo visto e revisto, e socorrendo-me do site Transfermarket, o FC Porto acabou a época de transferências do Verão gastando 33,8 milhões em compras e realizando 65 milhões em vendas, fruto dos 22 milhões, cada, das vendas de Ricardo e Dalot e dos surpreendentes 12 milhões da venda de Willy Boly para o Wolverhampton. Ou seja, acabou com um saldo positivo de 31,2 milhões, bem à frente dos 8,3 milhões do Sporting ou dos 4,1 milhões do Benfica. Mas na rubrica aquisições, as contas do FC Porto estão inflacionadas já que, compreendendo todo o ano de 2018, incluem as infelizes compras de Janeiro - sobretudo Waris, vindo do Lorient, e Paulinho, vindo do Portimonense e já emprestado á proveniência, ambos comprados por 7 milhões e cujo valor de mercado, segundo a Transfermarket, não vai além dos 2 milhões.
Tudo resumido e concluído, não será muito arriscado dizer que entre o prémio de entrada na Champions e o saldo de transferências da época de Verão, o FC Porto inicia a temporada com um balanço positivo de 80 milhões de euros. Daria para outras ambições na formação do plantel, não se desse o caso de haver fundadas suspeitas de que a situação financeira da SAD ser bem pior do que se imagina e do que aquilo que é tornado público.