Presidente do 40

Presidente do 40

OPINIÃO04.07.202306:30

Os rivais invejam o Benfica por lhe reconhecerem condições para continuar a ganhar: tem mais dinheiro, paga melhor e pode contratar grandes jogadores

O primeiro ano de Roger Schmidt serviu para arrumar a casa e libertar o Benfica de uma pequena multidão de vulgaridades que muita despesa gerava e nenhuma qualidade acrescentava. Foi um trabalho bem feito e com resultados notáveis. Finalmente, comemorou-se a conquista do título 38 e na Liga dos Campeões, apesar de um plantel em construção, os quartos de final deram chama à ambição de Rui Costa de recuperar o estatuto europeu que colocou a águia no patamar reservado aos melhores do mundo.

A temporada desportiva vindoura vai ser ainda mais difícil, porque os adeptos querem e a história do clube obriga. De aí que o grau de responsabilidade exija contratações feitas com critério e que privilegiem fatores que não se esgotam no preço, motivo pelo qual se entende o esforço feito em Di María e na sua aquisição por uma época, apesar da idade. Sobra talento, virtuosismo, prestígio, currículo e um valor incomensurável que se traduz na relação afetiva entre a família encarnada e o profissional. O campeão do mundo argentino é um daqueles jogadores de excelência que, mesmo perdendo em capacidade de decisão nos relvados, representam fontes generosas de riqueza para quem os consegue contratar e que extravasam os limites do acordo laboral.

S E o Benfica pode, faz. Se os outros não podem, paciência. Apesar da algazarra da paróquia do futebol luso, a verdade é que, nos últimos dez anos, o Benfica foi seis vezes campeão nacional, o FC Porto três e o Sporting uma. Uma realidade que colide com as duas décadas anteriores de domínio portista, consequência de sucessivas gestões de má memória, desde a saída tumultuosa de Jorge de Brito, a que se seguiram Manuel Damásio e, sobretudo, Vale e Azevedo. O que significa que o Benfica se reabilitou completamente das malfeitorias sofridas e que quase o deixaram a pão e água.

Manuel Vilarinho pegou no leme e impediu que o barco se afundasse. Luís Filipe Vieira dotou-o de meios modernos e preparou-o para navegar em alto mar. Rui Costa, o terceiro presidente neste século, vai definir-lhe o rumo. O futuro começa agora. As lutas que foi preciso travar para recuperar a dignidade que outros tentaram espezinhar. Hoje, os rivais invejam o Benfica não só por vê-lo ganhar, mas também por lhe reconhecerem condições para continuar a ganhar. Porque tem mais dinheiro, paga melhor e pode contratar grandes jogadores. É a força do prestígio, que resistiu a todas as vicissitudes. Por isso, mais responsabilidades para Rui Costa. Se este ano foi duro, o próximo sê-lo-á mais e o seguinte mais ainda. Porque a nação benfiquista, unida como nunca a vi, quer que ele seja o presidente do título 40.


VILLAS-BOAS MAL SUCEDIDO

A NDRÉ VILLAS-BOAS aproveitou a participação num congresso em Matosinhos sobre gestão e liderança para enviar recados a Pinto da Costa, com quem anda desencontrado, e afirmar que a «situação económica do FC Porto está cada vez pior». Um aviso de quem acredita que um dia poderá suceder-lhe na presidência, não se sabe é quando, porque uma coisa é querer, outra é poder.

Com o próximo ato eleitoral marcado para abril de 2024 a ocasião foi boa para marcar terreno, mas não sei se teve algum sucesso. Primeiro, porque duvido que Villas-Boas tenha a influência que julga ter na família portista. Segundo, porque enquanto Pinto da Costa ocupar a cadeira da presidência ainda não se enxerga Villas-Boas com arcaboiço para o tirar de lá.

O antigo treinador do portistas tem esse desejo, não o esconde, mas parece que só irá endurecer o discurso e radicalizar posições quando estiver absolutamente seguro de poder arriscar o passo em frente sem receio de dar dois trás para não cair. Não sei se isso acontecerá  enquanto Pinto da Costa tiver saúde para pensar pela sua cabeça.

V ILLAS-BOAS procurou um aliado improvável ao revelar a sua preocupação com o contrato de Sérgio Conceição, o qual devia ter sido renovado a seguir à eliminatória com o Inter. E não foi porquê? «Essa é uma pergunta que todos os portistas gostavam de ver respondida. Para quando? Porque não avança? Será que o próprio não quer ? Onde estão as respostas a essa pergunta?», declarou, em mal sucedida tentativa de lançar grãos de areia numa relação que parece sólida e capaz de resistir a mais um ano de convivência cordial.

É verdade que não há sinal dos 50 milhões que, segundo o administrador Fernando Gomes, deviam ter entrado no clube até à meia-noite do dia 30 de junho. Não há dinheiro, mas há contas por pagar e falta a confirmação que os adeptos querem ouvir: Sérgio Conceição fica. Aquele voo mágico no Algarve foi ideia de sábio…