Portugal: único totalista do séc. XXI

OPINIÃO21.11.201803:00

Um golo em cima da hora de Virgil van Dijk, central do Liverpool, apurou a renovada Holanda para a final four da Liga das Nações em Portugal e causou o primeiro fracasso da campeã mundial em título, a França; que se juntou assim à Alemanha (péssimo ano de 2018: apenas uma vitória em sete jogos!), à Espanha, à Itália, à Bélgica (3.º no último Mundial) e à Croácia (vice campeã mundial) na lista dos pesos pesados que falharam a qualificação para a fase final da nova competição da UEFA. O golo de Virgil também teve um significado muito especial para a Portugal, que passa a ser a ÚNICA seleção europeia totalista em todas as fases finais desde a viragem do milénio. Presente em 5 Mundiais, 5 Europeus e no primeiro final four da Liga das Nações, que decorrerá entre 5 e 9 junho de 2019 no Porto e em Guimarães, Portugal reforça a posição na elite do futebol europeu e mundial. A Alemanha não falhava uma fase final desde o Europeu de 1968 (Itália), a Espanha desde o Euro 1992 (Suécia),  França desde o Mundial de 1994 (EUA) e a Itália, bom, a Itália vai na segunda ausência consecutiva (já não estivera no Mundial da Rússia).

No séc. XXI, Portugal além de não ter falhado uma tem ido quase sempre longe. Lembre-se: no Europeu foi campeão em 2016, finalista em 2004 e semifinalista em 2000 e 2012. No Mundial foi semifinalista em 2006 e atingiu os oitavos em 2010 e 2018. Na Taça das Confederações foi semifinalista em 2017. E agora atinge (pelo menos) as meias finais na edição de estreia da Liga das Nações. Chama-se a isto consistência no topo. Aprecie-se ou não o estilo de Fernando Santos - com ele a Seleção joga um futebol tremendamente resultadista, pragmático, deixando muitas vezes a ideia que tem jogadores para não sofrer tanto e abordar os jogos com outra ousadia; a verdade é que nunca Portugal foi tão competitivo como agora. Nunca. Basta atentar na extraordinária estatística de Fernando Santos em jogos competitivos desde que se estreou a 14 outubro 2014 (vitória na Dinamarca por 1-0, com golo de Ronaldo aos 90+5…): depois do empate  com a Polónia, ganhou 25 e perdeu apenas dois (!) dos 37 jogos realizados. Um registo único no contexto europeu: vejam no quadro em anexo o comparativo com as outras grandes seleções europeias no mesmo período. São factos que nos enchem de orgulho e que, vamos lá, nos ajudam a aceitar melhor o patinho feio que muitas vezes o engenheiro nos serve à hora do jantar.

Quanto aos outros finalistas da Liga das Nações. A Holanda é um cliente muito bem vindo: ganhamos-lhes quase sempre. Os holandeses (e as holandesas) são vistosos e atrevidos, uma alegria para os olhos. Jogam bem e são divertidos. Vejam como Virgil, com um pontapé malicioso em cima da hora, deu cabo da manchete do L’Équipe e dos planos de milhões de franceses (e de alemães). A penca com que ficaram os franceses! Palmas para o trabalho do bonacheirão Ronald Koeman, um dos cinco magníficos artífices do título europeu de 1988 (os outros foram Marco van Basten, Ruud Gullit, Franklin Rijkaard e o imortal Marinus Jacobus Hendricus Michels, o treinador que inventou o futebol total). A Inglaterra também é muito bem vinda: ganhamos-lhes quase sempre nos penalties. Os ingleses são o que sempre foram: um arraial de festas, cânticos e bravatas antes da desilusão final - que neles é fatal como o destino. Trarão milhares de adeptos ruidosos com poder de compra e poderão travar uma batalha épica com a mancha laranja se for esse o resultado do sorteio de Dublin (dia 3 dezembro). Quanto à glacial Suíça, até tremo só de pensar no que podem vir cá fazer. Um perigo, uma Grécia de 2004 em potência. E não digo mais nada. 

Academia e e-toupeira: que fedor 

Como cheira mal tudo aquilo que se vai sabendo (e percebendo) sobre o ataque à Academia de Alcochete. Em causa: calculismo, dissimulação, gangsterismo, violência, canalhice, total falta de escrúpulos, soberba, arrogância, arreigada convicção de impunidade. Um fedor do princípio ao fim. O episódio mais negro da história do Sporting e de um presidente do Sporting. Mancha inapagável na história da Juve Leo fundada em 1976 pelos manos Rocha, que devem estar nauseados com o que tem vindo a público. Disse-o n’A BOLA TV, no próprio dia do ataque, que o Sporting nunca encontraria a paz enquanto não fossem identificados e exemplarmente punidos os autores morais e materiais desta pouca-vergonha. Há coisas com que não se pode transigir. Questão de dignidade institucional. Questão de honra.
Como cheira mal tudo aquilo que se vai sabendo (e percebendo) sobre o caso e-toupeira - uma consequência do caso dos e-mails -consumada que está a primeira arremetida formal da Justiça contra o Benfica. Em causa: total falta de escrúpulos e de respeito pelo funcionamento do Estado de Direito, soberba, arrogância, arreigada convicção de impunidade. Um fedor do princípio ao fim. Suborno, corrupção!, acusa o Ministério Público. «Paulo Gonçalves é Paulo Gonçalves, Benfica é  Benfica», responde Luís F. Vieira na televisão sem se escangalhar a rir. Apenas um episódio (há mais) da saga mais negra da história do Benfica, mancha inapagável na história deste grande clube fundado em 1904 por Cosme Damião. São tristes tempos para os dois grandes lisboetas - Martin Scorsese tinha aqui muito que filmar. Note-se que o Sporting já fez a necessária purga. O Benfica não.
P.S. - FC Porto: nem te atrevas. Temos memória.