Portugal tem jovens futebolistas para dar e vender
Afastei, por pecado, a ideia de que há muita gente a ganhar dinheiro com as transferências, para me centrar na ideia de que um turista no Porto é a coisa mais parecida com um adepto
DE repente, uma seleção de miúdos cheia de Diogos, mais um Mota e um Vitinha, vai defrontar hoje Espanha nas meias-finais do Europeu de sub-21, após eliminar a Itália. Quem veja a constituição da equipa - Diogo Costa na baliza, Diogo Dalot à direita, Diogo Queirós e Diogo Leite como centrais - pensará que Diogo, na nossa terra, é um nome assim como… Manel em Portugal! Não fosse Tomás Tavares fazer de defesa esquerdo, poder-se-ia pensar que o treinador Rui Jorge só queria Diogos à defesa. Há ainda os Danis, um que assina Daniel Bragança, e outro que, por ter nascido no Luxemburgo, se chama Dany (um dos Diogo, o Costa, nasceu na Suíça, mas manteve o nome intocavelmente português - Diogo Meireles Costa). E há o Vitinha, que se chama Vítor Ferreira, rapaz de Faro a atuar no Wolverhampton, que joga a qualquer lugar no 11 (parece que salvo a guarda-redes). Os entendidos deram-lhe a melhor nota no jogo contra a Itália, mas para se ganhar à seleção transalpina por 5-3, na Eslovénia, não chega um Vitinha; nem sequer um pontapé de bicicleta do Dany Mota ou uma grande defesa do Diogo Costa. É preciso que todos joguem! E se não estão todos ao mesmo nível, o que é normal, é necessário que tenham todos muito empenho, o que se viu. Por exemplo, o golo de Francisco Conceição, o quinto, foi uma obra de arte que só a bicicleta de Dany ensombrece. Mas o toque de Jota, que não é o Diogo, a fazer o 4-3, foi de mestre. Enfim, todos viram, e reviram os golos. E nós olhamos para este onze, e que pensamos? Que apesar de muitos estarem em equipas portuguesas (a maioria no FC Porto), raramente jogam. Aliás, só Daniel Bragança, Diogo Leite, Fábio Vieira, Romário Baró e, mais recentemente, Francisco Conceição alinham com certa regularidade nos grandes. O Benfica emprestou ou vendeu os seus rapazes (Tavares foi parar a Faro, Gedson à Turquia, Florentino ao Mónaco, Jota ao Valladolid)… tendo ficado - mas no banco a maioria das vezes - Gonçalo Ramos. No Sporting, foram despachados dois indiscutíveis na sua formação principal, que ainda podiam estar entre os sub-21 - Pote e Nuno Mendes - para a seleção A. De resto, Diogo Queirós, do Famalicão, é o resistente de um clube da I Liga que não é dos chamados grandes. Wolverhampton, Milan, Mónaco, etc., também estão representados.
E surgem-me pensamentos pecaminosos como este: quantas comissões, que elevados valores são pagos por promessas e realidades vindas de outros países que são bem piores do que a prata da casa? A que vence a Itália com cinco golos e - espero - hoje bata Espanha, que fez um jogo deslavado contra a Croácia para aqui chegar.
Quanto à seleção A, onde ainda mais raros são os que jogam em Portugal, veremos. Temos já amanhã um jogo contra Espanha, em Madrid e quarta-feira contra Israel, em Alvalade. Depois, no dia 15, começa a doer o Euro-2020 em Budapeste, contra a Hungria.
A TURISTA DADO...
BEM podia ser o lema do Governo: «A turista dado não se olha o dente… nem a cerveja, nem a máscara, nem o ajuntamento.» Só isso pode explicar as cenas tristes a que assistimos no sábado, antes e depois da final da Champions.
Entendamo-nos, nem o jogo foi violento, nem no estádio houve cenas a lamentar. Cá fora, não passou do normal, escaramuças mais do que triviais entre adeptos ingleses, a milhas de distância do que se passava no tempo em que os hooligans não eram controlados. A questão é de ordem diversa. Portugal e o mundo vivem uma pandemia que origina respostas diferentes de poderes diferentes. Esta final, que seria em Istambul, foi deslocada devido ao vírus. Poder-se-ia ter realizado em Inglaterra, de onde são oriundas as duas equipas que a disputaram, Chelsea e Manchester City? Sim, se autorizassem público. Não sendo assim, vieram para o Porto. Seria uma boa notícia, acaso não se desse este aspeto ridículo: o Estádio do Dragão que está há mais de um ano sem público, abriu as portas, pela primeira vez, para os ingleses. Isto menos de uma semana depois de o público ser proibido no final da Taça de Portugal.
Mais ridículo: penso não ter havido uma promessa que o Governo tenha feito a este respeito que fosse cumprida. Vinham em bolha, vacinados ou com testes negativos, mantinha-se em bolha, regressavam em bolha.
O primeiro-ministro veio dizer que assim aconteceu para quase todos… E que dos 12500 adeptos previstos só pouco mais de dois mil fugiram à dita bolha. Advertiu-nos, ainda, para não confundirmos adeptos com turistas (mais ridículo tinha sido o presidente da Câmara do Porto a avisar que aquilo que se passou em Lisboa, com o Sporting, não se passaria no Porto).
Pois bem, eu que não confundo turistas com adeptos (salvo quando os turistas são adeptos e os adeptos fazem turismo) percebo que uma série de gente bebesse na via pública (proibido para os portugueses), fizesse os bares, cafés e restaurantes fechar mais tarde (do que é permitido para os portugueses), e que, embora gritassem Chelsea e cantassem a canção dos The Queen We are the champions, eram turistas, ao contrário dos adeptos que, quietinhos na bolha, recolhiam a penates.
Quanto a Rui Moreira, percebo que o que se passou com o Sporting não se repetiu no Porto, sobretudo porque a Polícia decidiu, de acordo com as autoridades, que a turista dado não se disparam balas de borracha. Enfim, foi uma alegria!
Mas ficou gravada a falta de respeito que existe pelos adeptos portugueses. Esses, desde março do ano passado que não podem assistir a um jogo (salvo os que acompanharam Marcelo à Eslovénia e puderam ver os sub-21).
AINDA O LEITÃO
FALEI disto na semana passada (o que me valeu umas simpáticas palavras de concordância do diretor deste jornal). E claro que ainda não percebi o que foram aqueles 18 clubes fazer à Mealhada, além de comer leitão. Enfim, sempre é bom para o negócio da restauração, sem os riscos que se correram no Porto. Mas ontem, na Assembleia Geral da Liga, que teve lugar naquela cidade, ou foi distração minha, ou se trataram os mesmos assuntos - e com mais legitimidade - do que na Mealhada.
O essencial, é que não vai haver tão cedo diminuição substancial do número de clubes da I Liga, o que a meu ver retira dinamismo, competitividade e qualidade ao nosso futebol. Depois, que o Sporting (que não se fez representar pelo Presidente, mas por um membro da Direção) pretendia que fossem conhecidas as comunicações entre os árbitros, como no râguebi, o que acho muito bem. A proposta foi parcialmente aprovada, mas as comunicações não serão conhecidas em direto, e terão de ser requeridas. Aliás, defendo que nos estádios com possibilidade de projetar em ecrã gigante o que se vê na cidade do futebol, também se deveria poder ver, além de ouvir.
De resto, a Liga vai reforçar junto do Governo a ideia de que o futebol (e o desporto, no geral), tem sido alvo de discriminação em relação a outros espetáculos. É algo evidente, que entra pelos olhos do mais distraído. Impedir que num espaço ao ar livre, nem que seja com 10 ou 20% da lotação, se possa assistir a um jogo de futebol, mostra bem o desprezo que se lhe vota. Porque no râguebi e noutros desportos praticados ao ar livre o critério tem sido igual. Salvo se for a UEFA a pedir…
Só mais umas linhas para referir que Rúben Amorim foi absolvido de tudo o que foi acusado pela magna questão do nível de treinador. Mas o Sporting foi condenado no âmbito do mesmo processo, ficando o estádio de Alvalade interditado por um jogo. Quem achar piada que se ria, mas a mim o Conselho de Disciplina da FPF não me consegue fazer rir. E lá vai mais um recurso - e bem - para o TAD.
JOGAR FORA
Arouca — Obrigatoriamente tenho de dar os parabéns ao Arouca que chegou à I Liga com pés de lã (embora não seja a primeira vez, chegou mesmo uma época ao 5.º lugar). E sobretudo à forma perentória como, nas duas mãos, derrotou e relegou para a Liga 2 o Rio Ave… que não era propriamente pera doce; foi, aliás, uma das equipas que impôs um empate ao Sporting.
Villarreal — O chamado submarino amarelo, que ainda há poucos anos andava nos cafundos do futebol espanhol, proveniente de um município da província de Castelló, Valência, ganhou a Liga Europa. Mas que feito! Digamos que seria, para nós, uma façanha do tipo do V. Guimarães ganhar esse troféu… ou mesmo o Moreirense.
Manchester — Uma cidade colocar duas equipas nas duas finais europeias é obra. Mas obra maior é perdê-las ambas contra adversários teoricamente mais fracos. Foi o que aconteceu: o United com o já referido Villarreal (e que série de penáltis, 11-10); o City com o Chelsea, o quarto qualificado da Liga que os citizens venceram.