«¿Por qué no te callas?»
Clubes sem estratégias de comunicação protetoras do valor do futebol português. Os casos de Javi García e Rúben Amorim…
Afórmula para a medição da grandeza de um clube, de um qualquer clube, não é mágica, muito menos secreta. Resumo-a, simplificadamente, à combinação de adeptos, história e títulos - neste caso, as variáveis da equação pouco importam. Os departamentos de propaganda dos clubes, todos os clubes, colocam lenha nas fogueiras das polémicas, mas preocupam-se pouco com a defesa da imagem das entidades que representam, sobretudo nos grandes. E têm de mimá-la e protegê-la! Dois exemplos de estratégias erradas…
Javi García fez toda a formação no Real Madrid, ganhou experiência no Osasuna para regressar aos blancos e tentar impor-se em clube grande do futebol espanhol, europeu e mundial. Foi malsucedido (nos merengues, em 5 temporadas, apenas 32 jogos pela equipa principal) e o Benfica, reconhecendo-lhe qualidade, contratou-o por 7 milhões de euros.
Nos encarnados, entre 2009/2010 e 2012/2013, Javi García somou 132 jogos, 14 golos, 1 Liga e 3 Taças da Liga. O sucesso desportivo no Benfica levou-o até ao Manchester City, que pagou 20,2 milhões de euros pela contratação de médio-defensivo que totalizou apenas 2 internacionalizações pela seleção de Espanha. Em Inglaterra, em duas épocas, primeiro sob o comando de Roberto Mancini, depois treinado por Manuel Pellegrini, 2 títulos importantes: 1 Liga e 1 Taça da Liga.
Depois, o City, por 16,8 milhões de euros, negociou-o com o Zenit. Na Rússia, com o clube de São Petersburgo, 3 temporadas e 5 títulos: 1 Liga, 2 Supertaças, 1 Taça e 1 Taça da Liga. Javi García voltou a Espanha em 2017/2018, com o Bétis a contratá-lo por valor quase simbólico: apenas 1,5 milhões de euros. Em agosto de 2020, notícia do adeus a Sevilha e, talvez surpreendentemente, do regresso a Portugal, como jogador livre, para representar o Boavista. O resto da história conhece-se bem.
Javi García colocou ponto final na carreira de jogador e está a estrear-se como treinador. Fá-lo no Benfica, como adjunto do alemão Roger Schmidt, integrando equipa técnica com mais estrangeiros do que portugueses. Sim, o espanhol tem pouca experiência nesta função, mas soma muitos anos no futebol e, sobretudo, conhece bem os cantos a uma casa que representou durante 4 temporadas.
Por tudo isto, percebo mal que coloque já Enzo Fernández, médio argentino recém-contratado pelas águias, no caminho de «grandes, grandes equipas», como se o ex-River Plate não representasse, atualmente, um colosso europeu! «Vai estar pouco tempo aqui», disse Javi García à Radio Marca.
Ou Javi García tem mais informação e, por isso, sabe aquilo que não sabemos, ou nunca percebeu a dimensão do Benfica, clube maior do que (quase!) todos os que representou como futebolista. O espanhol pouco diz em Portugal, mas a comunicação das águias admitiu-lhe entrevista para Espanha e arriscou esta diminuição da grandeza do emblema anotada pelos adeptos. Vejam as redes sociais. O comentário mais simpático inspirou-se numa frase histórica de Juan Carlos para Hugo Chávez numa Cimeira Ibero-Americana, em 2007: «¿Por qué no te callas?».
Também no Sporting, estratégia de comunicação bizarra… A direção do clube, depois de finalizada a venda de Matheus Nunes ao Wolverhampton , da Premier League, quase na véspera de visita ao Dragão, entregou ao técnico a responsabilidade de explicar o negócio. Se Rúben Amorim já não contava com a saída do melhor jogador da equipa, muito menos esperaria que tivesse de explicá-la na antevisão do jogo com o FC Porto!
Amorim, exposto à situação por Frederico Varandas e Hugo Viana, confrontou-se com contradições: poucos dias antes de «negócio impossível», pelo facto de o jogador ambicionar clube maior e melhor, o contrário do que disse nas boas-vindas a Inglaterra, o técnico leonino congratulou-se muito com a decisão de Matheus Nunes, de continuar em… Alvalade. Enfim...