Ponto de situação sobre o Benfica
Relativamente ao momento do Benfica, alguns considerandos: é verdade que, frente aos azuis do Jamor, a equipa de Rui Vitória não só teve oportunidades claras de se colocar na frente do marcador como, a seguir, já em desvantagem, foi muito perdulária. Mas, reduzir os problemas evidenciados pelo Benfica à falta de eficácia, como fez Rui Vitória, não é mais do que uma tentativa de tapar o sol com a peneira.
Se o treinador dos encarnados persistir na cruzada de vitimização que abraçou, mantendo um autismo militante face à realidade que o rodeia, dificilmente a época acabará bem não só para ele, mas, por arrasto, para o Benfica. Mesmo aceitando, por ser verdade, que em Amesterdão o clube da Luz teve bons momentos e merecia pelo menos o empate, há problemas estruturais no modelo de jogo dos encarnados, que explicam muito do que tem acontecido por cá, mas sobretudo as oito derrotas nos últimos nove jogos da Liga dos Campeões.
Ao contrário do que é feito pelas melhores equipas europeias da atualidade, o Benfica não pressiona alto, dá tempo à organização dos opositores e, como ficou claro como água no sábado, no Estádio Nacional, deixa um espaço entre setores que transforma em avenidas o caminho que os adversários percorrem rumo à baliza de Vlachodimos. A estes dois pecados capitais - falta de pressão alta e demasiado espaço entre setores - Rui Vitória ainda não conseguiu dar resposta e uma observação fria e objetiva diz-nos que o Benfica tem, neste particular, piorado de ano para ano. Mas há mais.
Quando se faz um plantel deve escolher-se o número certo de jogadores para cada setor. Por isso, só por algum exercício surrealista seria possível que um clube investisse fortemente em pontas de lança, e comprometesse neles uma boa parte da massa salarial, para depois optar por um sistema em que usa apenas 25 por cento dos efetivos. A verdade é que o 4x3x3 do Benfica não funciona bem e, tendo meios para uma alternativa mais ousada, Rui Vitória mantém-se renitente, como se precisasse - colocando em causa o interesse do clube que representa - de realizar uma afirmação pessoal de autoridade e saber, algo que devia ser desnecessário para um treinador que já venceu dois campeonatos e duas Taças. Dito isto, deve o Benfica mudar de treinador? Não creio. Rui Vitória tem saber para dar a volta ao texto. Assim não lhe falte capacidade para a autocrítica.