Pobres idiotas
1Até a mim, que não estive lá, que em nada fui afectado por aquilo e que nem sequer sou do Sporting, me custa e repugna rever as imagens daqueles valentões encapuzados a invadir Alcochete para irem agredir os jogadores, convencidos na sua fraca inteligência e nos seus nulos princípios morais, estarem a resgatar a honra do clube. Se algumas imagens podem ilustrar eloquentemente o que é a cobardia humana, aquelas valem por todas. Sim, «Alcochete sempre», como símbolo da degradação humana, que o futebol potencia em alguns pobres espíritos que, de facto, só têm lugar atrás das grades, onde se guardam os animais perigosos ou os homens que o não sabem ser. O futebol não tem culpa deles, mas o futebol tem de se livrar deles. Sem dó nem piedade.
2Fazia já tanto tempo que o FC Porto não apresentava um jogo minimamente decente, que Sérgio Conceição não resistiu, após uma exibição capaz frente ao Tondela, para provocar os que «diziam que não sabíamos jogar bonito». Eu fui um deles. Mas o treinador do FC Porto está ligeiramente equivocado: não dizíamos que o FC Porto não jogava bonito; dizíamos que não jogava nada, nem bonito nem feio, nem muito ou pouco. Nada. Sem uma ideia de jogo, excepto nas bolas paradas, sem um projecto capaz de tirar partido dos jogadores à sua disposição. E não reclamávamos que jogasse bonito, mas apenas que jogasse qualquer coisa que se visse. E, no meu caso concreto, fui insistindo num nome que, a meu ver, estava a travar toda a dinâmica de jogo da equipa e a ser o exemplo-vivo de um futebol sem imaginação, sem rasgo, sem futuro: Danilo. Mas, jogo após jogo, Danilo permanecia intocável para o treinador que, das duas uma: ou não via o que eu via, ou não cumpria a habitual promessa de «comigo jogam os que estão melhores em cada momento».
Pois bem, chamem-lhe coincidência, que eu não me importo, mas bastou que Danilo ficasse a descansar e que Sérgio Conceição desfizesse o absurdo duplo pivot defensivo a meio-campo para que todo o futebol portista se transformasse como da noite para o dia. Um meio-campo finalmente a jogar para a frente e não ao estilo Danilo (para trás e para os lados) fabricou dois golos de carrossel pelo meio como há muito não víamos. Quando se é mais forte que o adversário é preciso alinhar como tal e jogar como tal.
3Uns dias antes, um FC Porto a jogar como de costume viu-se e desejou-se para vencer um fraco Feyenoord, que até começou por nos oferecer gentilmente dois golos logo de entrada. Mas não fosse, uma vez mais, Marchesín e tínhamos ido à vida. Afinal e sem saber como, até acabámos por no último minuto e graças ao golo do Young Boys em Glasgow, por acabar em primeiro num grupo onde cheguei a ver tudo perdido.
Porém, ironia do destino: fomos, afinal, castigados por acabar em primeiro lugar no grupo, ao sair-nos no sorteio uns alemães vindos da Champions. É, aliás, notável constatar como o Sporting, a única das quatro equipas portuguesas que não era cabeça de série, acabou por ser a mais bafejada pela sorte.
4Por falar em sorte: Mourinho bem pode agradecer a todos os deuses a vitória sobre Nuno Espírito Santo na deslocação ao terreno dos lobos. Massacrado sem tréguas durante toda a segunda parte, escapando de inúmeras ocasiões de golo, o Tottenham ganhou um canto um minuto depois da hora e dali saiu o golo de uma tão improvável quanto injusta vitória. Para mim, que tenho bem presente o que foi o desastre da prestação de NES como treinador portista, ainda me custa a crer que ele tenha conseguido montar uma equipe com a categoria do Wolverhampton e o seu mini-exército de quatro portugueses.
5E, continuando no domínio da sorte (chamemos-lhe assim): depois de uma jornada em que nem o árbitro nem o VAR viram a evidente falta de Cervi no segundo golo ao Boavista, quando havia 1-1, seguiu-se nova jornada vitoriosa do Benfica em que outra vez, quer o árbitro quer o VAR, viram a evidente falta, que obrigaria a expulsão, de Vlachodimos, sobre um avançado do Famalicão isolado, quando havia 2-0. Como portista, desejo que este tipo de sorte não continue.
6Sorte ainda teve Jorge Jesus na meia-final do Mundial de Clubes, como já havia tido na final da Libertadores. Dominado em qualidade de jogo toda a primeira parte, deu a volta na segunda sem fazer quase nada por isso e graças à qualidade dos únicos três bons jogadores da equipa: o ex-portista Diego (sempre guardado para o final dos jogos) e Bruno Henrique e Gabriel Barbosa. Mas o resto do time é composto por jogadores banais ou mesmo maus, como Arão e os laterais Raphinha (apesar do bom cruzamento para o segundo golo), ou o inacreditável Filipe Luís. Mané e Salah vão estilhaçar aquilo tudo.
7 Se Sérgio Conceição deu um murro em Pedro Ribeiro, treinador do Belenenses, no túnel do Jamor, é um caso de arruaça grave, que merece ser punido. O problema é que parece que, à semelhança do que sucede com o processo Marquês, só há prova indirecta e a que poderia ser a testemunha principal - o suposto agredido - não quer falar. O que se compreende, já foi trabalhador do FC Porto e ninguém sabe o dia de amanhã...O caso contra Sérgio Conceição não se afigura assim muito promissor.
Registo, contudo, a diligência da Liga de Clubes, mandando instaurar um inquérito ao sucedido, após insistente especulação e gritaria da imprensa. E registo porque, de repente, vieram-me à cabeça coisas bem mais graves e a justificarem inquéritos bem mais urgentes e que, todavia, não mereceram à Liga, que eu saiba, o mais pequeno incómodo. Estou a pensar, por exemplo, nas acusações de tentativas de suborno dirigidas por jogadores do Rio Ave e do Marítimo a um dirigente do Benfica, há anos atrás, devidamente documentadas, gravadas e publicadas. Ah, dir-me-ão, a Liga nada fez porque esse caso está entre à Justiça comum e a Liga espera a suas conclusões. Pois, se espera, digo eu, bem pode esperar sentada, que é mais conveniente. Porém, nada obriga a Liga a esperar pelas conclusões da justiça comum - acaso agora esperou pelo relatório da PSP ou por uma queixa-crime para abrir o processo de inquérito a Sérgio Conceição? Não avançou contra o FC Porto no caso Apito Dourado, sem esperar pelas conclusões da Justiça - que viria a absolver ou não pronunciar sequer o clube de todas as acusações? E quer melhor exemplo do que o do Conselho Superior de Justiça, expulsando, por actos de corrupção, o juiz desembargador Rui Rangel, essa eminente figura benfiquista, sem esperar pelas conclusões do processo-crime? Alguém, explica qual é o critério?