Piratas dos nossos dias

OPINIÃO21.08.202206:30

Caberá a nós como pais, mas também a governos e tribunais, mostrar que também no mundo digital - ou virtual - existe o certo e o errado

CRIMINOSO. Relativo a crime. Culpado de um crime. Contrário às leis morais ou sociais. Há algumas semanas, durante um jantar de amigos, acusei alguns deles disso mesmo. De adotarem uma conduta criminosa. De serem, como tal, criminosos no seu dia a dia. Qual o crime? O crime de roubo.
Roubar.
Apropriar-se de bem alheio. Cometer fraude. Plagiar.
Consideramos como adquirido que roubar uma peça de roupa de uma loja ou entrar numa papelaria e levar uma revista sem pagar seriam comportamentos que jamais teríamos.
No entanto, a forma ofendida como nos afirmamos incapazes de sair da FNAC com um DVD debaixo do casaco é proporcional ao desdém com que a maioria da sociedade aborda o tema dos direitos de conteúdo digital ou outras áreas relacionadas com propriedades intelectuais.
Será que aquele que parte a vitrina para furtar um Rolex é tão mais criminoso que os piratas da internet que traficam bens imateriais a partir do conforto do seu sofá?
Ultrapassado o choque inicial daqueles a quem provoco com o rótulo de bandido, as discussões sobre o tema terminam, invariavelmente, com a perturbadora conclusão de que a maioria dos que acedem a links ilegais para verem um jogo fazem, downloads de música ou consomem e/ou partilham jornais e revistas pelo Whatsapp não sentem qualquer motivação para o deixarem de fazer. Primeiro que tudo, porque nem sequer entendem este facto como um crime!! E, sejamos francos, a escassíssima legislação penal a este respeito, em conjunto com uma ainda menor efetividade de controle destas práticas, suporta esta perceção de impunidade por parte dos utilizadores.
Por outro lado, não compreendem que o consumo ilegal de conteúdos monetizados - e sobre os quais uma qualquer entidade já investiu uma considerável quantia para os transmitir e/ou produzir - represente um ataque à criação de valor que suporta a própria existência desses mesmos conteúdos!
Será assim tão difícil de entender que se todos nós, sem exceção, optássemos por este atalho grátis para lermos o nosso jornal diário, o caminho seria, inevitavelmente, o fecho do referido jornal, pela sua incapacidade de suportar os custos, a começar nos salários dos profissionais que produzem o jornal?
Aceitando que todas as indústrias devem procurar estratégicas de produto para dissuadir os utilizadores a optarem pela pirataria - o Spotify é um bom exemplo da resposta dada pelo setor da música -, confesso que me choca que o preço possa ser usado como justificativo para que algo possa ser consumido por vias alternativas. Da mesma forma, será também o preço exorbitante da mala no expositor da Louis Vuitton o álibi para que a possam trazer sem pagar?
A pirataria rouba, em todo o mundo, milhares de milhões de euros a diversas indústrias, assumindo o futebol um indesejado lugar de destaque, num roubo à principal fonte de receita de muitos dos nossos clubes. Receita essa que será, a muito curto prazo, colocada em causa se quem investe nestes direitos não for devidamente protegido.
Um problema que tenderá a agravar-se quando a maioria dos consumidores forem os jovens nativos digitais, esses sim criados neste contexto em que tudo o que não é físico é grátis por defeito. Caberá a nós como pais, mas também aos governos e tribunais, fazer a demonstração que também no mundo digital - ou virtual - existe o certo e o errado, o legal… e o crime.
 

O MEU TOPO

OS atletas portugueses nos Europeus 2022. Não conheço nenhum setor de atividade que projete e dignifique tanto o nome e imagem de Portugal pelo mundo como o Desporto.
Um dia, tenho a certeza, os apoios serão proporcionais aos resultados dos nossos atletas.