Pinto da Costa, protagonista incontornável
O fim físico de Pinto da Costa ultrapassou o final do seu consulado de 42 anos no FC Porto, que terminou num ato eleitoral humilhante. A História irá declarar, depois da poeira assentar, o veredito final sobre esta era, como dizia o L’Équipe, «sulfúrica»
O ciclo de Pinto da Costa no FC Porto, e a influência que teve no futebol português, terminou a 27 de abril de 2024, quando perdeu, por uma diferença esmagadora, de 80 para 20, as eleições para André Villas-Boas. O desaparecimento físico do antigo líder dos dragões, ocorrido no último sábado, vale como marco simbólico, mas não reflete o fim de uma maneira de estar no futebol, que tomou corpo há cerca de dez meses. Nessa altura, quando já não devia ter ido a votos, mas acabou por ceder à influência de terceiros para ser porta-estandarte de um mito, suscetível de atrasar o salto em frente inevitável, e a prestação de contas decorrente, Pinto da Costa sofreu do mesmo mal de tantos outros líderes, nas mais variadas áreas, que o precederam, e que olvidaram que o transitório, mesmo que durasse 42 anos, não era eterno. Amigo comum, por altura das eleições no FC Porto, alertou-me para o facto de Pinto da Costa já se confundir com a presidência do clube, circunstância que, ao desaparecer, podia acelerar o declínio físico daquele que foi o dragão-mor E assim aconteceu, 305 dias depois de deixar a presidência do emblema azul-e-branco, verificou-se o fim da existência terrena de Pinto da Costa.
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Quando Pinto da Costa celebrou 25 anos de presidência do FC Porto, tive oportunidade de escrever que estávamos perante o homem que tinha transformado o provinciano «Andrade», em temível «Dragão» de projeção europeia, o que significou uma alteração de paradigma, com consequências históricas. Porém, sem evoluir na teorização pedrotiana que fazia da regionalização um Alfa e Ómega, mobilizador contra o Terreiro do Paço, que à altura - Pedroto faleceu em 1985 - fazia sentido, Pinto da Costa manteve o FC Porto, apesar da expressão internacional que ganhou, dentro das baias desse raciocínio, o que limitou a expansão natural do clube.
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Entretanto, sendo o mais rápido a reagir às mudanças que Abril trouxe, quer no que respeita ao fim da lei da opção, quer quanto à correlação de forças no futebol nacional, Pinto da Costa acabou por criar um FC Poro hegemónico durante a sua presidência, independentemente de ter associado os Dragões ao Apito Final, que só não teve outras consequências por questões processuais, pela extração das escutas do processo, ou de ver os últimos dez anos da sua gestão ser posta em causa, pelo próprio FC Porto, na sequência de uma auditoria forense arrasadora.
Hoje, dia em que vão realizar-se as exéquias fúnebres daquele que liderou o FC Porto durante as presidências de Ramalho Eanes, Mário Soares, Cavaco Silva, Jorge Sampaio e Marcelo Rebelo de Sousa, as emoções estão à flor da pele, há muita poeira no ar que deve assentar, e não é hora de outro tipo de balanços, que não os que colocam Pinto da Costa como sinónimo do sucesso desportivo do FC Porto. Depois da poeira assentar, outro tipo de sintonia fina será executada, que se debruçará perante várias questões, nomeadamente a metodologia empregue, ou a forma como Pinto da Costa foi usado por terceiros nesta sua derradeira candidatura. Mas haverá um grande juiz, inigualável, insuperável e insuspeito, que avaliará, no conjunto, com a distância temporal que a história exige, o largo consulado de Pinto da Costa: a História. Será ela a colocar-nos em perspetiva perante prós e contras, e a ditar o veredito quanto ao lugar que Jorge Nuno Pinto da Costa nela irá ocupar.