Pichardo e mais
O que Pichardo tem a ver com Wilde (e dois cubanos do Benfica podem ter a ver com ele)
Meu caro Pedro Pichardo:
V ENDO-O saltar em Eugene lembrei-me de Oscar Wilde. Vivia a vida como se fosse obra de arte numa mistura de anjo e diabo - e a sua (dele) tragédia foi a paixão que lhe atiçou Alfred Douglas, o filho do marquês de Queensberry (que entrara para a história por ter criado as regras do boxe). Ao saber da íntima ligação entre ambos, o marquês denunciou Wilde como sodomita - e, algures por 1895, tribunal de Londres condenou-o a dois anos de prisão por «imoralidade». Cumpriu a pena mas, para «fugir ao escândalo», exilou-se em Paris - mudando o nome para Sebastian Melmoth. Miserável caiu, depois, num hospital. Ao leito levaram-lhe o copo de champanhe que suplicara em agonia - e as últimas palavras que se lhe escaparam dos lábios, num murmúrio, foram:
- Morro como sempre vivi, acima das minhas possibilidades.
Antes Wilde escrevera-o, porém:
- Todos nós vivemos a vida no fundo de um poço, mas só alguns de nós são capazes de olhar de lá as estrelas
e nunca deixou de olhá-las, genial. Em tudo o resto obviamente não mas neste ponto sim - foi neste ponto que eu me lembrei do Wilde ao vê-lo, a si, a olhar para além das estrelas (e a voar para lá). Aliás, lembrei-me dele por outra razão: por ter sido Wilde a descobrir que a desgraça de D. Quixote não fora a sua fantasia - fora o ter sempre Sancho Pança em seu redor a roubar-lhe o sonho como um vampiro. E também me lembrei do Wilde (nesse ponto) por ver que ainda há, por cá, gente que, por causa duma obsessiva inveja xenófoba (ou de coisas piores...) não o trata a si, meu caro Pedro, como devia, na verdade, tratar: como um daqueles portugueses maiores que vão deixando (ou já deixaram) no seu destino o mundo a seus pés - por viverem sempre a matar o Sancho Pança e a olhar as estrelas às vezes para além delas (para lá voando em fulgor, de corpo e alma...)
PS: Agora só espero que se faça a Reyner Mena e Roger Iribarne o que lhe fizeram a si - no interesse de todos nós...