Perguntem ao Carlos

OPINIÃO28.02.201903:00

JÁ não me lembro do nome do professor, apenas daquelas palavras no final da aula de Estudos Sociais em jeito de notícia de última hora. No seu estilo austero, de emoções contidas e enquanto arrumava os livros na pasta com movimentos vagarosos, ouviu o toque de saída, virou-se para os seus alunos e disse: «Estamos de parabéns. Somos campeões do mundo.» Recordo-me como se fosse ontem do rebuliço que a boa nova provocou entre os rapazes naquela tarde de 1989. E de como passámos a olhar para aqueles jovens um pouco mais velhos que nós como ídolos de cabeça aos pés (na rua e nos pátios da escola lutávamos para definir quem era o Amaral, o Filipe, o João Pinto ou o Bizarro) e da febre que foi o Mundial de 1991, em Lisboa, no qual tive a felicidade de ir a quase todos os jogos de Portugal, umas vezes com amigos, noutras sozinho, numa época em que um pré-adolescente saía de casa após o almoço e só voltava já de noite sem dar justificações aos pais e sem que daí decorressem alarmismos de qualquer espécie.


No domingo cumprem-se 30 anos da conquista de Riade e recordar esse momento é um exercício que faz bem à alma. Porque me recorda tempos de liberdade e de descoberta mas também desperta um sentimento de gratidão pelo trabalho de Carlos Queiroz, o grande mentor daquela geração de ouro, que transformou estruturas, pensamentos e práticas e cujos frutos ainda hoje estão vivos de uma forma cristalina. Independentemente das polémicas que alimentou numa fase posterior da carreira, na história do futebol português há muito poucos homens que tenham sido tão disruptivos quanto CQ. Temos, por vezes, a tendência de menosprezar a grandeza por causa de minudências. Não façamos mal a uma herança que tantos nos enriqueceu: foi a partir dali que Portugal começou verdadeiramente a ganhar.