Pensar verde e branco (6)
Tenho-me interrogado sobre se é importante saber quem será o próximo presidente do Sporting ou se é muito mais importante discutir como deve ser o próximo presidente do Sporting?
Há quem responda a essa pergunta falando em carisma. Há quem diga que deve presidir ao clube, não à sociedade anónima desportiva; há quem defenda que devem ser duas pessoas diferentes. Há quem sustente que deve ser um gestor, mas há quem prefira que deve ser um entendido no futebol. Tudo é permitido alvitrar, como ser rico ou ser pobre, alto ou baixo, com currículo no Sporting ou completamente desconhecido, ser novo ou ser velho, ou nem novo nem velho.
Indispensável, quanto a mim, ter uma vida profissional, social e material independente, que não precise do futebol para ascender na vida social ou nos negócios; que defenda o negócio do clube e não o misture com os seus negócios; que exerça o cargo com transparência e não como forma de cobertura de uma personalidade de honestidade duvidosa. Numa palavra, que ponha os interesses do clube acima dos seus interesses pessoais.
Não será fácil reunir numa só pessoa as qualidades necessárias. Por isso mesmo, entendo que, farto de para-quedistas no futebol, como na política, nos devemos debruçar e focar sobre um projecto para depois escolher o líder desse projecto. É isso mesmo que estão a pensar: pôr o carro à frente dos bois!...
Normalmente, os candidatos preocupam-se em apresentar comissões de honra, jogadores, treinadores, directores desportivos, passear pelos núcleos que nunca conheceram, prometerem tudo e mais alguma coisa, incluindo nomes sonantes para o acompanhar, mas que batem em retirada à primeira dificuldade, seja pelo Covid 19, seja uma simples dor de barriga. Grande parte dos candidatos não olham sequer os seus ombros para observar se podem arcar com tamanha responsabilidade. Não têm cultura desportiva nem leonina. Não são inteligentes, mas apenas espertos!
Prometem a resolução de todos os problemas económicos, financeiros e desportivos, mas nunca dizem como, esperando que bons resultados desportivos escondam a insustentabilidade e ineficácia das suas politicas. Mudam tudo e mais alguma coisa, fazem asneiras umas atrás das outras, e a culpa é sempre daqueles a quem sucederam, é sempre a pesada herança do passado. E porquê? Porque o dinheiro não é deles, mas sim, como na politica, o dinheiro é dos que contribuem. Querem é chegar ao poder, que antes era uma razão para perder fortunas, e hoje um caminho para as iniciar, pouco importando os meios para atingir os fins!
Faz-se hoje um presidente como se vende um sabonete. Acontece que o sabonete, mal ou bem, lava as mãos. O problema é que os presidentes quando chegam ao poder esquecem-se de trazer as mãos lavadas.
Mas como eu digo o Sporting não precisa de um presidente construído pelo marketing com a ajuda das redes sociais, entre a verdade e a falsidade. O Sporting o que precisa é de um projecto de ruptura com o passado recente, de transformações estruturais e de fundo, que revolucione as mentalidades conservadoras de fidalgo falido e galvanize a massa associativa anónima.
Foi assim o Movimento dos Capitães que fez o 25 de Abril. Terá de ser assim o movimento de todos os sportinguistas rumo de novo á glória. Salgueiro de Maia apareceu no Largo do Carmo como um símbolo da revolução. Estou certo que os sportinguistas, perante um projecto e um rumo, saberão escolher então quem colocarão à frente do carro que transporta a história desta instituição e que com renovada dedicação, devoção e esforço nos conduzirá de novo à gloria!
Respeito pela notícia
Esta nota foi escrita propositadamente na quarta-feira passada, dia 27, porque fez dois meses que me foi diagnosticado o Covid 19 no Hospital de Santa Maria, confirmando aliás um teste efectuado na véspera No Hospital da CUF, Infante Santo. Era uma sexta-feira, e, portanto, após contactar a minha mulher para lhe comunicar a situação, liguei para os directores Vítor Serpa e José Manuel Delgado informando que tinha sido apanhado pelo vírus e estava num contentor sem condições de escrever a via verde do dia seguinte.
Fi-lo no cumprimento de uma obrigação natural dado o relacionamento com a Direcção do jornal, nem sequer me apercebendo de que acabara de dar uma notícia de interesse. Eu não acho, nem achei, que isso tivesse algum interesse, mas o que é certo é que quem sabe de comunicação social, entende que sim, que é noticia. E muitos se admiraram que A BOLA, tendo a informação de fonte fidedigna, e em primeira mão, o não fizesse. Acontece que entre a notícia e o meu direito à privacidade, o jornal optou por esta, e eu estou grato e não esquecerei. E não foi em A BOLA que saiu a notícia!
Algumas pessoas criticam-me, como se a minha vida fosse toda a verde, por eu escrever para este jornal e por participar na Quinta da Bola da BOLA TV. Os seus directores conheço-os há muito tempo, como conheci muitos jornalistas desta mesma casa, no antigamente e actualmente! No jornal escrevo com inteira liberdade. Na BOLA TV falo com essa mesma liberdade. E a Quinta da Bola, andando eu há mais de vinte anos em programas televisivos, é o que me tem dado mais gozo, tanto mais quanto se tem desvirtuado o formato destes. É um programa, numa pequena sala, antecedido de um convívio gastronómico muito agradável e que ajuda a distender para um programa onde se discutem os assuntos, passe a imodéstia no que me toca, de uma forma séria. E hoje tenho amigos, por exemplo, entre os treinadores que são convidados, alguns que eu apenas conhecia de vista. E tenho muitas vezes a companhia do meu rival de sempre Fernando Seara, pioneiro, como eu, deste tipo de programa.
Com o que acabo de escrever quis apenas explicar porque me sinto bem nesta casa, independentemente de linhas editoriais - respiro jornalismo e liberdade!
Juiz sem... juízo!
Ao registar o afastamento de Registo não posso deixar de ter uma palavra sobre a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa. Melhor fora que a decisão não fosse o afastamento e que não ficasse bem claro que nada tinha com o facto de ser do Benfica. Conheço, até por experiência própria e profissional, juízes de grande competência e independência, que não se deixam influenciar por essa situação, mesmo nos processos em que o Benfica é parte!
A questão não é ser do Benfica, mas sim andar pelas redes sociais com comentários que lhe são vedados ter em público. Este senhor juiz pode continuar a ser do Benfica e andar pelas redes sociais. Não tem é juízo para ser juiz, porque não tem capacidade para ajuizar do que é ser Juiz!!