Pensar verde e branco

OPINIÃO20.06.202004:00

Antes de pensar verde e branco, hoje quero falar do meu olhar sobre a equipa que joga com essas cores. E faço-o com a satisfação que me causou a exibição da equipa no jogo com o Tondela. Há muito tempo que eu não via um jogo de futebol do primeiro ao último minuto sem me aborrecer. A única coisa que me aborreceu foi o árbitro e o homem do bar, porque não se pode chamar var ao incompetente que auxiliou aquele, e que só encontra paralelo no ex-arbitro Marco Ferreira, que deu mostras, na sua apreciação da arbitragem, no Record, de uma desonestidade intelectual de bradar aos céus!
Mas, tirando isto, acho que posso dizer que o Sporting está a jogar mais e melhor que o Porto ou o Benfica. E, para ser justo, acho que devo atribuir mérito ao treinador Rúben Amorim, que está a saber muito bem misturar jogadores experientes com jovens com muito talento. Deu-me muito gosto ver aqueles jogadores bem comandados, expor um futebol bonito, ao ponto de pensar que ainda tenho de pedir desculpa ao presidente ou ao Miguel Cal por tão criticada contratação. O que aliás farei com muita satisfação. Com a mesma satisfação com que louvo a sensatez de Rúben Amorim nas suas conferências de imprensa. Sensatez e lucidez, porque sabe bem qual é a capacidade necessária para jogar para o título. Ruben Amorim necessita que haja paciência para com ele e para com os jovens talentos que têm que crescer. Por mim, tem toda a minha paciência e penso que todos devem ter. Temos é de encontrar soluções para que este trabalho seja sustentável do ponto de vista desportivo e financeiro. E sobretudo vale a pena pensar que Rúben Amorim não está há 18 anos no Sporting, mas há três ou quatro meses e confinado.


É por isso que alguns sportinguistas se preocupam em opinar sobre o rumo a dar ao Sporting, que vive uma situação difícil, agravada pela pandemia. Sportinguistas que gostam de pensar verde e branco, debater ideias e não pessoas, e que não estão a favor de ninguém nem contra quem quer que seja. Só mentalidades tacanhas, mesquinhas, arrogantes e que medem os outros por si próprios é que podem duvidar das boas intenções que presidem às jornadas que se iniciaram na passada terça-feira e que tiveram continuidade na quarta.


E, na realidade, praticamente não se falou em pessoas, a não ser a propósito de factos objetivos. E que as ideias e um projecto deviam estar primeiro que as pessoas foi também uma ideia consensual em qualquer das sessões. O tema tratado - governance - tem antes de mais um objectivo que é encontrar o modelo que dê estabilidade, modernidade e eficácia à administração do clube e da SAD, o que não tem acontecido.


Foi apontada como uma das razões dessa instabilidade o facto de não haver uma segunda volta nas eleições quando nenhum dos candidatos tiver obtido maioria absoluta. Essa é uma razão importante, mas não é a única, nem talvez a principal.


Mas é muito importante, porque não é concebível que o presidente de uma instituição ou de um país tenha contra si a maioria absoluta dos votantes.
Nas últimas eleições para Presidente da República, se bem me lembro, apresentaram-se seis candidatos. Marcelo Rebelo de Sousa teve maioria absoluta na primeira volta. Contudo, vamos admitir que não tinha e que não havia segunda volta e, portanto, ganhava por maioria simples. Será que poderíamos considerar que era o presidente de todos os portugueses, quando aqueles que votaram nele eram menos que os que votaram nos outros candidatos? Claro que isto era um disparate, que julgo não haver em nenhum país minimamente democrático.


De resto, nas associações constituídas nos termos do Código Civil,  todas as deliberações são tomadas por maioria absoluta dos votos dos associados presentes, conforme se dispõe no número 2 do artigo 175.º.


Também nos termos dos estatutos do Sporting as deliberações que não exigem uma maioria qualificada são tomadas por maioria absoluta dos votos dos associados presentes, com excepção da deliberação que elege os órgãos sociais, que é por maioria simples, nos termos do artigo 49.º!
Eu acho isto um disparate sem nome, para não dizer que é uma disposição ilegal e que as deliberações tomadas de acordo com essa norma são anuláveis porque contrárias à lei.


Como é que alguém se pode sentir confortável numa qualquer presidência quando a maioria absoluta dos votantes nele não votaram? Só encontro a explicação na célebre frase de D. Luísa de Gusmão: mais vale ser rainha uma hora do que duquesa toda a vida!


Como disse, esta não é a questão mais importante da governance, mas não deixa de ser um mau princípio, denunciando um gosto pela instabilidade que se vem verificando há anos. Porque será o Sporting, entre os grandes clubes de Portugal e da Europa, o mais instável na sua governação? Será que a instabilidade é a consequência de não ganhar, ou será que não ganha porque não há estabilidade na governação?

José Cordeiro de Castro

O meu tempo acabou, é aquilo que ultimamente tenho dito, algumas vezes com saudade, outras com alívio. Mas não é mal. O mal é que os amigos e companheiros do meu tempo vão acabando, e esses deixam-me uma grande saudade, sem remédio.


Mais um companheiro Stromp que partiu. As duas últimas vezes que falei com ele foi por causa do Covid-19 que me atacou, e a outra no dia dos meus anos, de que ele nunca se esqueceu, nestes quase quarenta anos em que convivemos. Quando o conheci e nos tornámos amigos fiquei mais rico; hoje, sem dúvida que fiquei mais pobre. E o Sporting e o Grupo Stromp também.


O José de Castro fez-se sócio (n.º 462) do Sporting em 6 de Novembro de 1947 - meses depois de eu ter nascido - e foi admitido no Grupo Stromp em 1991. Antes, em 1987, já tinha sido Prémio Stromp, Dirigente do Ano. Foi membro da Federação Portuguesa de Badminton (1956/1959). Colaborador da Secção de Ginástica durante vários anos. Fundador dos Leões de Portugal (e foi nesta fundação que estreitámos a nossa amizade), foi Director Adjunto das Actividades Amadoras do SCP e Director do Departamento Cultural. Integrou várias comissões ad-hoc do SCP e colaborou no jornal Sporting.


Pois é, meu querido Amigo José de Castro: não verei mais o teu sorriso - e nunca te conheci uma cara mal disposta - nem ouvirei mais as anedotas que tanto gostavas de contar. Obrigado por teres sido tão meu amigo e descansa em paz porque bem o mereces!