Pensar verde e branco (10)

OPINIÃO11.07.202003:00

Não será o meu último artigo sobre pensar a verde e branco, porque será assim que se tem de pensar todos os dias independentemente de terem terminado as Jornadas Sporting com rumo - momentos de reflexão séria que alguns sportinguistas quiseram fazer relativamente ao futuro seu clube. Pena é que algumas pessoas tenham feito juízos de intenção sobre as pessoas participantes e os temas em debate, numa curta e redutora visão da essência desse debate. Quer se queira, quer não, esse debate vai ter se fazer com toda a gente, sob pena de o clube se desunir ainda mais e ter consequências que a sua história não merece. E a união é difícil, quando não se respeitam as outras opiniões.
Recordo o que há umas semanas, sob o título remar unidos, escrevi nestas colunas, que tanto enervam algumas pessoas: Não temos de continuar a bater-nos uns aos outros. Bater todos batem: batem os fortes quando ninguém lhes faz frente, e batem os fracos quando têm as costas quentes. Convencer é que é difícil, sobretudo, porque convencer sem razão ou autoridade, nem os fracos, nem os fortes. Temos, pois, de nos convencer uns aos outros do caminho comum a percorrer.
Foi um espírito positivo de debate aquilo a que se assistiu nessas jornadas que não foram contra ninguém, mas apenas uma humilde contribuição para o progresso do nosso clube. Aliás, a única nota dissonante, mas unânime, foi a atitude do Conselho Directivo que se recusou a participar na discussão para que foi convidado e onde a sua visão seria bem-vinda, porque útil seguramente. E mais notada ainda, entre a tristeza de uns e a indignação de outros, foi a ausência da Sporting TV que se revelou, ao contrário do que já foi, não um canal de todos os sportinguistas, mas apenas de alguns. Creio não ser este o caminho da união.
Contudo, o que importa é que alguns sportinguistas de preocupam com o Sporting e o seu futuro. E, bem ou mal, pensaram e falaram a verde e branco!
Um bem-haja para quem organizou a participou. Éramos, somos e continuaremos a ser todos do Sporting Clube de Portugal que é aquilo que nos une!

Pensar encarnado e branco!...

Razão tinha o meu querido amigo Toni Bessone de Bastos, um símbolo vivo de sportinguismo e ecletismo, quando há dias, nas jornadas Sporting com rumo, dizia que se podiam elaborar os projectos que se quisessem para o futebol do Sporting, mas todos cairiam porque o Sporting não tem poder nas instituições que controlam o futebol, designadamente, no Conselho de Arbitragem.
E, para não deixarem o Toni ficar mal, na segunda-feira imediata, logo a dupla Tiago Martins/Jorge Sousa veio interromper a carreira da equipa do Sporting após o desconfinamento da Liga NOS. Como diz - e bem -  o comunicado «bastou uma sequência de vitórias do Sporting Clube de Portugal para os árbitros começarem a ter erros inexplicáveis»!
São inexplicáveis, efectivamente, mas apenas para os que acompanham o futebol com ingenuidade ou romantismo. Aliás, penso que a alegada não explicação é apenas ironia do comunicado. Mas como a ironia só se pode usar com pessoas inteligentes, eu diria que a única explicação para erros inexplicáveis é a intenção e a consciência com que se cometem esses erros. Sou romântico, mas não sou ingénuo.
A sequência de vitórias do Sporting Clube de Portugal não constituiria em princípio qualquer problema porque o Sporting estava quase impossibilitado de chegar ao título, a não ser que se desse a hipótese curiosa posta há umas semanas, pelo meu caro consócio, amigo e companheiro neste jornal, Henrique Monteiro! O problema foram as derrotas do Benfica, que encurtaram o fosso classificativo, e as derrotas do Braga, que aumentaram o fosso para o terceiro lugar. Daí se começar a pensar a encarnado e branco entre os homens do apito!
E como estão na moda as providências cautelares, Tiago Martins e Jorge Sousa, cada um com o seu instrumento, viram, mas não assinalaram, duas grandes penalidades contra o Moreirense, assim fazendo o Sporting perder dois pontos, ou seja, este último foi objectivamente prejudicado, não merecendo um pedido de desculpas de ninguém, designadamente, da APAF que é sempre tão lesta a verberar as opiniões sobre a arbitragem.
Foram praticamente unânimes os comentadores da arbitragem - pelos menos aqueles que merecem credibilidade - quanto aos erros, embora a sua opinião sobre a natureza desses mesmos erros seja diferente da minha, o que eu compreendo porque o corporativismo não desapareceu só porque Salazar morreu. Nesse aspecto, ele deixou uma herança com muitos herdeiros!...
Errar pode ser humano, mas, nalguns casos, é verdadeiramente desumano que se estrague o trabalho de um treinador jovem e de jovens jogadores, em princípio de carreira, com erros clamorosos e que não prestigiam a arbitragem portuguesa. O Dr. Fernando Gomes que tem sido um excelente presidente da Federação Portuguesa de Futebol, porque se rodeou de gente competente, tem de obrigar o Conselho de Arbitragem a ser competente e exigir competência aos árbitros. E, aos que não são apenas incompetentes, não basta a jarra, é preciso afastá-los. Os magistrados também já começam a ser afastados!  Não é só castigar os clubes, os jogadores e os treinadores, e os senhores, que vivem à custa dos clubes, serem competentes para uns e incompetentes para outros e continuarem a sorrir sem dar explicações a quem quer que seja, refugiando-se num silêncio cobarde, no qual, de resto, também o Conselho de Arbitragem se esconde, excepto quando se trata de certos clubes. E é exactamente esse silêncio cúmplice que dá cobertura às providências cautelares de certos senhores. Fazem o que querem e ainda lhes sobra tempo!
Ninguém desconhece que sou muito crítico do Conselho Directivo do Sporting Clube de Portugal e da administração da SAD. Mas perante isto subscrevo sem qualquer hesitação o comunicado: «Já sabemos que quanto mais fortes estivermos, mais pedras vão colocar no nosso caminho. Hoje, foi um desses dias, mas continuaremos a trilhar o nosso rumo e cada vez mais fortes.»
Eu estarei sempre nessa luta quando mais não seja por solidariedade. Quando a casa de alguém é assaltada eu estou com as vítimas do assalto. Como não posso estar quando é a minha própria casa, que, mais uma vez, é a assaltada?

Nota -Já que estou em maré de notas positivas para o Conselho Directivo, e, designadamente, para o seu Presidente, quero louvar e aplaudir a sua recepção ao Fábio Paim que também conheci quando era uma promessa e uma esperança que, infelizmente, não se concretizaram. Dar a mão a quem precisa é sempre um gesto nobre. Também é uma forma de pensar a verde e branco, que como se vê, não custa nada!...