Pelé e Eusébio no futebol e na vida
Nenhum deles, porém, teve, alguma vez, a doçura de vida e a “selvagem genuinidade” que Eusébio teve até ao fim da sua vida.
PODE o leitor ficar surpreendido se ler que Pelé e Eusébio eram quase da mesma idade. Apenas dois anos de diferença os separavam. O brasileiro nasceu em 1940 e Eusébio dois anos depois. Ambos de origens muito pobres e ambos quase nasceram a jogar futebol, formados em jogos de bola disputados em pelados sinuosos, que obrigavam a destreza e velocidade. Ambos, também, felinos, num jeito que só a natureza consegue explicar e ambos sedentos de baliza e de golo.
Apesar da idade próxima, quando Pelé, aos 17 anos, foi campeão do mundo, na Suécia, espantando o mundo do futebol que ainda estava longe de ser global, como é hoje, Eusébio nem nos seus melhores sonhos pensava em sair da moderna e bonita Lourenço Marques e abandonar a sua casa do bairro popular de Mafalala.
Foi o Mundial de 1966, mais do que a Taça dos Campeões Europeus, que trouxe Eusébio para as bocas do mundo e o tornou conhecido em todos os continentes. Conseguiu ser o melhor goleador desse Mundial e a sua imagem a chorar no campo, após a derrota com a Inglaterra, correu o mundo e abriu as portas a uma empatia generalizada, pela sua genuinidade e pela sua paixão pelo jogo.
Nesse Campeonato do Mundo, em que Portugal eliminou o Brasil numa surpresa verdadeiramente planetária, Pelé já tinha dos títulos de campeão mundial e era considerado o melhor jogador que alguma vez o mundo tinha visto.
Podiam, pois, ter sido rivais, como acontece com Messi e Cristiano, mas a única rivalidade verdadeiramente sentida foi aquela que, mais tarde, foi fomentada e alimentada por Maradona - outro dos maiores génios do futebol - e que tinha uma certa aversão, para não dizer pior, à personalidade colaborante e sempre politicamente correta que fez de Pelé o exemplo maior para a Fifa. Isso nunca aconteceu com Eusébio. Pode dizer-se que o moçambicano nunca teve, internacionalmente, a dimensão de Pelé e que esse facto ajudou a que Pelé nunca se tivesse sentido ameaçado, na sua fama, por Eusébio, mas também aconteceu muito porque, na vida, eram personalidades muito diferentes. Eusébio era genuino, humilde, verdadeiro nas suas virtudes e nos seus defeitos. Pelé construiu, a pouco e pouco, muito racionalmente, a sua imagem e fortaleceu, no mundo, a marca Pelé. Entrou na política e chegou a ministro, aproveitou a experiência no Cosmos, de Nova Iorque, para dominar a língua inglesa e se tornar embaixador de algumas das grandes marcas que ajudaram a financiar a Fifa e os seus campeonatos, ao mesmo tempo que se enriqueciam com as crescentes receitas criadas pelo futebol.
Pelé entendia de marketing e sempre encontrou meios para ganhar dinheiro, vingando-se de não o ter ganho nos tempos em que a sua estrela brilhava nos campos de futebol. Quando a Fifa comemorou o seu centenário, cometeu o erro colossal de deixar o povo decidir na comparação entre Pelé e Maradona. E o povo, sobretudo o mais jovem que nunca tinha visto jogar Pelé, usou as novas tecnologias para dar uma vitória esmagadora ao argentino. Foi então necessário a Fifa criar à pressa uma comissão de “sábios da bola” formada por alguns treinadores de renome mundial inventando, assim, uma razãopara oferecer, também, o título de melhor jogador do século a Pelé. Cada um ficou com o seu prémio. Um, pela vitória do povo do futebol; o outro pela vitória do sistema institucional que fez questão de premiar o jogador e o Homem com um comportamento social supostamente exemplar, coisa que Maradona odiaria.
Nenhum deles, porém, teve, alguma vez, a doçura de vida e a “selvagem genuinidade” que Eusébio teve até ao fim da sua vida.
UM RECOMEÇO DESASTRADO
Quando uma equipa caminha confiante e autoritária numa plataforma dinâmica de vitórias, quando é obrigada a parar o recomeço é sempre uma incógnita. Conseguirá manter a força psicológica e anímica que torna todos os jogos fáceis? Era essa a grande questão que se colocava ao Benfica e por isso o jogo de Braga era particularmente importante. A resposta, para os benfiquistas, é preocupante. A equipa falhou totalmente a reentrada. Teve um começo desastrado, uma exibição medíocre e o azar de apanhar um grande Braga.
A LÓGICA AMARGA DO PRESIDENTE
O Governo mudou de preparador físico, mas não mudou de treinador principal, até porque o Presidente lhe manteve a confiança. Diz que cada vez que a equipa tem uma derrota não pode resolver isso com uma “chicotada psicológica. Há uma lógica amarga nesta ideia, porque o Presidente admite que, se agisse de outra maneira, passaria a vida a mudar de treinador e isso, pelo que se percebeu, é também uma avaliação tristesobre a capacidade de todos os pretendentes, que não deixariam de acumular também estas e ainda outras derrotas.