Para Marrocos

OPINIÃO16.06.201802:13

Perdi um tempinho a rever os grupos dos Mundiais, de 1930 a este, certo de que nenhum teria sido composto com três países cujas capitais fossem tão próximas, como acontece com este no qual estão Portugal, Espanha e Marrocos. Partindo de Lisboa, a mais central das três, são 502 km até Madrid e 562 até Rabat, totalizando 1064. Extraordinariamente pouco atendendo a que a tendência de organização dos grupos sempre olhou a confederações.  Encontrei caso parecido numa das primeiras edições, em 1954, um grupo com Suíça, Itália e Bélgica, pois partindo de Berna distam 489 km para Bruxelas e 691 para Roma, somando 1180 km. Ainda assim, ligeiramente mais distantes. Acabei, porém, a perceber que me enganara, pois já houve, sim, capitais mais próximas: em 1990 houve grupo com Itália, Checoslováquia e Áustria e, partindo de Viena, são 252 km para Praga e 765 para Roma, totalizando 1017. O triângulo Lisboa-Madrid-Rabat mantém, em todo o caso,  especificidades: Rabat é africana; Lisboa é a cidade mais ocidental do continente europeu, o que torna as vizinhanças improváveis.  


Tentei, porque ao trabalho me dera, perceber que importância teria isto e foi com tristeza que me pareceu, realmente, que nenhuma. Fez-me recordar, ainda assim, ideia do livro História de Portugal, coordenado por Rui Ramos, que há uns anos li como se a um romance: «Acantonado nesse finisterra, o reino vivia o impasse hispânico. O apelo do mar sentia-se. A opção seria Ceuta.» Foi o tapume de Espanha que nos encaminhou para o mar e a primeira parada da nossa epopeia seria, justamente, Marrocos. Foi lá, ainda, em Alcácer Quibir, que perdemos o mitológico D. Sebastião, que morrendo nos devolveu à Espanha que sempre tentáramos ladear. Com o empate de ontem parece-nos claro que Marrocos, tão próximo, é sempre o caminho em frente.