Para lá de Israel

OPINIÃO10.06.202107:00

Israel mostrou que «há coisas a melhorar» e o que Portugal pode fazer com o treinador que tem

AO ouvir (sem espanto) Fernando Santos a falar do que Portugal pode ser no Euro que aí vem, o que me salta à cabeça é Jorge Valdano - o Jorge Valdano que sabendo muito de futebol e de vida (e sabendo ainda melhor como pôr uma coisa e a outra em poesia) contou que, tendo, certa vez, perguntado a técnico famoso (e arguto):
— O que é que um presidente quer quando contrata um treinador?
esse técnico famoso (e arguto) lhe respondeu:
Quer que lhe minta, lhes minta!
Claro: dizendo que os presidentes, quando contratam treinadores, querem que eles lhes mintam, Jorge Valdano estava a dizer que querem que os ponham (e aos adeptos) a viverem de sonhos (ou delírios) depois de desencantos (e vendavais) - e não, Fernando Santos, não é, nunca foi, nada (mesmo nada…) dessa estirpe - e por isso se percebe que ele diga o que diz:
… que Portugal é candidato, mas não é favorito.
Depois dos 4-0 a Israel, afirmou-o:
Há muitas coisas a melhorar...
Com isso, voltou a não mentir (naquele sentido do Valdano) - e a mostrar o treinador que é e, sobretudo, por que Portugal foi o que já foi, podendo continuar a sê-lo (graças a ele...)
Sim: Portugal pode continuar a sê-lo por Fernando Santos ser o que é: o treinador que não deixa a Seleção ter jogadores a jogarem com o coração a esfanicar-se e a cabeça a fugir-lhes dos pés a entortarem-se. O treinador que não deixa que os seus jogadores joguem a abrir nesgas por onde lhes entrem dúvidas e medos, desleixos e destrambelhos que os tornem mais pequenos. O treinador pragmático que com a sua argúcia tem a arte de tornar perfeitas as imperfeições (sobretudo as imperfeições dos outros) e o engenho de nunca permitir que a sua equipa se pareça apenas uma combinação de parafusos numa máquina. E é: é isso que é jogar bem sem jogar bonito (e ganhar tanto como ganhou, podendo ganhar ainda mais - e já agora...)