Os quatro é que era
O Braga tentará a partir das cinco da tarde resolver o que devia ter arrumado em Ibrox Park no decurso dos 60 minutos mais brilhantes, autoritários e convincentes que uma equipa portuguesa assinou este ano em competições europeias. Mas não só o Braga não conseguiu segurar a vantagem, que era confortável, como ainda permitiu uma surpreendente reviravolta (0-2 para 3-2) a um Rangers que parecia aturdido e humilhado com a brutal superioridade futebolística do adversário. Sofrer três golos num quarto de hora de perfeito desvario foi duro, disparatado e, sobretudo, evitável. Fica como lição e prova de que o Braga, apesar de jogar o melhor futebol que se vê em Portugal, está longe de ser infalível. De qualquer maneira, tendo poupado oito jogadores no onze que venceu o V. Setúbal, Rúben Amorim tem tudo para confirmar o que se viu em Glasgow: que o Braga é francamente superior e que, em condições normais, passa a eliminatória. O contrário seria uma desilusão.
Relativamente aos outros três, deve dizer-se o seguinte: tal como o Braga, nenhum defrontou tubarões do futebol europeu, embora o Leverkusen tivesse confirmado que, não sendo um Bayern ou um Dortmund, é claramente o osso mais duro de roer dos quatro que nos calharam. A derrota portista, como a benfiquista na Ucrânia (1-2), até foi simpática para a superioridade demonstrada pelos adversários, mas só o FC Porto que se viu naquele quarto de hora final - rochoso, finalmente empertigado, controlador - tem hipótese de não ser surpreendido em casa por um Leverkusen naturalmente competitivo (está a seis pontos do Bayern) e de golo fácil. É verdade que basta 1-0, mas Sérgio Conceição sabe por que razão fez a analogia com o jogo da época passada na Champions com a Roma (1-2 para 3-1). Nem pensar em poupanças. Vai ser duro e renhido e espera-se que Marchesín repita a exibição da Alemanha.
O Benfica, precisado do mesmo resultado (1-0), também não pode inventar muito na Luz. O Shakhtar mostrou que tem jogadores capazes de atormentarem a defesa benfiquista, que vive tempos de ansiedade e precipitação. Mesmo assim, creio que um Benfica na sua melhor versão (e com Vlachodimos na versão Kharkiv), tem futebol q.b para eliminar o campeão ucraniano, apesar do contratempo Samaris. Mal seria se não fosse assim. E mal seria se o penálti inexistente que permitiu ao Istambul Basaksehir sair vivo de Alvalade - e não com um demolidor 0-3 na bagagem -, viesse a ser decisivo nas contas da eliminatória sportinguista. O que se viu há uma semana foi um Sporting profundamente diferente para melhor: solto, alegre, confiante e de uma contundência ofensiva que só lhe víramos na goleada ao Eindhoven (4-0). Pode ser que a Europa seja, definitivamente, a terra prometida deste leão ainda à procura de um rumo.
Termino com a melhor equipa quase portuguesa da atualidade a jogar numa liga estrangeira. Falo do Wolverhampton (4-0 ao Espanhol!), que merece todo o carinho dos nossos adeptos. Porque joga que se farta; porque se bate olhos nos olhos com os bastiões de Inglaterra; porque é o maior contribuinte líquido da nossa querida Seleção - Rui Patrício, Rúben Neves, João Moutinho e Diogo Jota; e porque o bom do Nuno Espírito Santo ainda usa a britânica alcateia sediada nas West Midlands para promover novos talentos lusitanos ignorados ou subaproveitados noutras paragens - Pedro Neto (sensacional!), Rúben Vinagre, Podence e Jordão também entram nestas contas. Wolverhampton, talvez o mais forte candidato entre as equipas portuguesas na Europa…
Bruno: craque à antiga
BRUNO FERNANDES precisou de três jogos para se tornar jogador referência num dos maiores clubes do Mundo - o Manchester United. Nenhuma surpresa relativamente à facilidade com que Bruno pegou de estaca numa equipa carente de um líder carismático. Percebia-se à distância que o ex-capitão do Sporting tinha qualidade e maturidade de sobra para chegar ali e pegar imediatamente de estaca. Foi o que aconteceu. Os adeptos do United e a Imprensa inglesa estão enfeitiçados com o internacional português e o próprio Solskjaer não pára de o elogiar. O Bruno mandão que vemos brilhar em Old Trafford é o mesmo que passeou classe, golos e assistências em Alvalade. A diferença é que tudo o que Bruno faz agora é visto, apreciado e comentado à escala global - o United e a Premier têm centenas de milhões de adeptos em todo o Mundo. Ele próprio já terá percebido a diferença brutal que há entre ser a estrela maior de um campeonato periférico como o nosso; e ser um dos jogadores mais excitantes da liga mais mediática e competitiva do Mundo. No futebol indústria do séc. XXI emergiram vários tipos de craques: craques das manchetes, craques de empresários, craques do potencial, craques das redes sociais, craques do transfermarkt, etc, etc. BF vai chegar ao Europeu como craque à antiga - dos relvados. Bom para ele.
Cristiano e Zidane: semana H
LYON-JUVENTUS, Real Madrid-City: Cristiano e Zidane no seu habitat natural: as quartas-feiras europeias. A dupla franco-portuguesa escreveu em Madrid a página mais brilhante da história da Champions League - com um recorde de três títulos consecutivos conquistados em Milão (2016), Cardiff (2017), Kiev (2018) - e são, cada um à sua maneira, emblemas vivos da competição. Ronaldo porque é o recordista de títulos (único com 5) e de golos (128). Zidane porque é o único treinador que ganhou três finais seguidas. Ambos têm uma semana com jogos decisivos tanto na Europa como nos campeonatos domésticos. O Real, novamente sem Hazard, acolhe o City de Guardiola numa batalha que se antevê magnífica sobretudo porque Pep pode não ter oportunidade nos tempos mais próximos de voltar a lutar pelo título europeu (que lhe foge há nove longos anos). Segue-se o superclássico com o Barcelona no Bernabéu, onde Messi costuma arrasar. Veremos como fica a posição de Zidane no final destes dois jogos.
O mesmo se diga de Maurizio Sarri, treinador da Juventus, cujo futebol espesso, confuso, pouco articulado e completamente falho de brilhantismo tem sido uma das maiores desilusões da época. Apetece dizer que o insaciável Ronaldo (35 anos, 36 golos em 36 jogos na época) merecia muito mais Juve, mas o Lyon, ainda assim, não parece adversário intransponível para o campeão italiano, que recebe domingo o Inter, provavelmente à porta fechada, num clássico com cheiro a título - sem esquecer obviamente a candidatura da Lazio. Este jogo pode trazer mais um recorde impressionante a CR7 (12 jogos seguidos a marcar na série A), mas não ficaria admirado se a Juventus se voltasse a enredar naquele futebol pesadão e entediante de Sarri e não resolvesse nada nesta semana.