Os elefantes no meio da sala
NESTA coluna vão caber vários elefantes, vai uma aposta? Só pela dificuldade em gerirem-se expectativas se percebem os elogios ao artigo/missiva/panfleto eleitoral que Fernando Gomes publicou em vários jornais, incluindo A BOLA, cheio de verdades de La Palice (obrigado, André Pipa) depois de refletir sobre o futebol português. Dois meses, mais coisa menos coisa, após a pandemia entrar em Portugal, o presidente da Federação chegou às mesmas conclusões que toda a gente.
Pudera! Estranho é ter gasto dez anos de liderança e, mesmo assim, sem encontrar o primeiro grande elefante, aborrecido, no meio da sala: o dirigismo que elogia - o que faz corresponder ainda mais o texto ao contexto eleitoral - e liga à solução quando é a maior razão do problema - ou a FPF não estaria a dar cursos para dirigentes em sede própria. Onde está a gestão de expectativa? O que antecedeu Gomes foi mau, tão mau, que lhe basta achar os melhores ângulos da fotografia, sem nunca sujar as mãos no meio do lixo que polui o futebol indígena, para parecer brilhante. Às palavras, falta algo raro no nosso tempo: coragem.
Na sequência, a Federação avançou para a reestruturação do Campeonato de Portugal. Se a priori, a engorda para 96 equipas antes do emagrecimento definitivo parece interessante, já que pode contornar falhas do sistema em encontrar as melhores equipas, há mais uma vez elogios precoces. Será preciso esperar para ver. E há um outro elefante, bastante visível para todos nós: uma Liga com 18 equipas, num país tão pequeno. Um campeonato pouco competitivo, incapaz de seduzir investidores, jogadores e treinadores. Há anos que penso nisto: e 12 clubes, quatro voltas, as últimas duas com os seis melhores? Mais clássicos, mais dinheiro das transmissões para cada um, melhor ainda se dividido por igual. Há coragem?