Os desportistas da era da globalização

OPINIÃO15.04.201904:00

O italiano Francesco Molinari, 36 anos, decisivo na vitória da Europa sobre os Estados Unidos na última Ryder Cup, é um dos melhores golfistas da atualidade. E como joga Molinari? Como um vero italiano. Se Francesco fosse treinado por Trapattoni, nada no seu jogo seria alterado. Tecnicamente evoluído, expressa-se no campo com gelo nas veias, dificilmente concedendo bogeys, (ontem, em Augusta, a última volta foi exceção) com a racionalidade que é imagem de marca dos desportistas transalpinos, independentemente da modalidade que pratiquem.  

Nos antípodas, tomemos por exemplo o Liverpool. Os reds do alemão Jurgen Klopp são sinónimo de um futebol de matriz anglo-saxónica, apaixonado, vibrante e intenso. Mas quem são os jogadores que dão expressão a esta forma de estar? Mo Salah, um egípcio, Firmino, um brasileiro, e Sadio Mané, um senegalês. São eles os instrumentos de um treinador da escola anglo-saxónica, que materializam esse tipo de futebol!

Mas a 60 quilómetros de Liverpool, em Manchester, onde Pep Guardiola tem dado cartas à frente do City, o futebol praticado, igualmente apelativo e eficaz, nada tem a ver com a matriz de Klopp. Os intérpretes do jogo bonito, de escola escola sul-americana, quando têm a bola no pé, de Guardiola, são o inglês Sterling, o belga De Bruyne o alemão Sané, e até ibéricos, Bernardo e David Silva, e um turco, Gundogan. Com eles, na pátria do kick and rush, foi possível construir um tiki-taka sem fronteiras.

Qual a via, então?

A de Molinari, que se sente confortável na matriz calculista do desporto transalpino? Ou a de Klopp, que absorveu os elementos contraditórios dos melhores jogadores do Liverpool e lhes deu uma formatação anglo-saxónico? Ou ainda a de Guardiola, que recriou em Manchester o modelo de Barcelona?

Estou certo de que, se colocarmos todas estas variáveis num super-computador e lhe pedirmos uma conclusão, ele crashará de imediato. Há uns anos, parecia que a globalização ia alisar comportamentos, tornando-nos todos iguais. Mas a natureza humana não afina por esse diapasão e, mesmo num contexto de trocas culturais intensas à escala global, a especialidade de cada indivíduo e das suas circunstâncias acabará sempre por fazer a diferença e manter rica e pujante a diversidade.