Os desenhos nos jornais

OPINIÃO06.07.201904:00

O New York Times deixou de publicar cartunes na edição internacional na sequência de um feito pelo português António: um  Trump conduzido por um cão-guia com a cara de Netanyahu. Agora, o canadiano que pintou Trump a jogar golfe junto aos cadáveres de pai e filha na fronteira com o México foi despedido. Há uma diplomacia editorial a sujeitar-se aos moralismos das impreparadas e intransigentes redes sociais. «São desenhos, que falta fazem?», perguntarão.


Acontece que a importância dos cartunes no âmbito das publicações não pode ser desconsiderada. Um cartune não é jornalismo, é verdade, pois não tem de respeitar os princípios da verdade e da precisão; em todo o caso é marcadamente editorial, pois a mensagem de quem desenha é correntemente entendida como se da própria publicação. Tal ocorre com os desenhos até mais do que com os textos de opinião, estes por norma identificados com cara, nome e enquadrados numa secção própria, logo mais demarcados. Um cartune, o tal que não é jornalismo, é então quase paradoxalmente editorial.


Há, claro, termos a cumprir, que eu entendo estarem relacionados com as expectativas do leitor. Se alguém escolher ler o Charlie Hedbo, um jornal satírico, não deverá espantar-se com o desenho - como aconteceu numa capa  - de uma vagina com uma bola de futebol em referência ao Mundial feminino, opção que outros entendem insultuosa e sexista. Seria, então, este um desenho que nunca apareceria em A BOLA, por razões óbvias relacionadas com o meio e a tal expectativa.


Há espaços para tudo e os cartunes ajudam, justamente, a delimitá-los. Mesmo não sendo os desenhos jornalismo, persegui-los é pior do que parece para o jornalismo.