Os 33 do homem do lanho

LA Palisse faleceu há quase 500 anos e, estando morto, não é possível estar vivo, habilito-me a herdar o espírito do antigo militar francês e aqui deixo, para terminar 2018, a minha frase marcante: não se ganham jogos sem marcar golos. Talvez fosse neste momento que o bom do Jacques, que se não estivesse morto estaria vivo, levantaria o dedo e dissesse: «Há quem ganhe através de autogolos de adversários.»

E é verdade. Mas dado que La Palisse, tendo falecido em Pavia, não pode estar vivo em Portugal, torna-se uma impossibilidade ele rebater a minha frase que abalará o final de 2018 e, estou crente, o início de 2019: não se ganham jogos sem marcar golos. Logo, é necessário que haja quem os marque. É aqui que entra os goleadores. Os artilheiros. Os strikers. Os bombardeiros.

E quem foi o melhor marcador em 2018 de equipas portuguesas? Mandaria a lógica apostar em Jonas, o brasileiro que, mesmo aplicando analgésico nas costas e Betadine nas feridas nascidas de batalhas a fio, continua a encantar os benfiquistas e quem gosta de futebol em Portugal. O 10 dos encarnados marcou nada menos de 34 golos no campeonato 2017/2018, pelo que, somando mais alguns na Liga dos Campeões, Taça da Liga, Taça de Portugal e Supertaça, seria pacífico dizer-se que Jonas é o melhor marcador de 2018. Acontece que não é. O problema de Jonas não é a liga, são as outras provas. Dos 34 golos marcados no campeonato 2017/2018, apenas 16 o foram em 2018. Número ao qual há que somar 6 em 2018/19. Logo, 22 golos de janeiro a dezembro na liga. Há depois que acrescentar 1 na Liga dos Campeões (Ajax) e 2 na Taça de Portugal (Sertanense e Arouca). Total: 25 golos em 2018. Os meses mais fortes foram janeiro e março com 6 golos em cada um. Os piores, por estar lesionado, logo (como la Palisse) não podendo jogar, foram abril, agosto e setembro: zero.
O melhor marcador de equipas portuguesas em 2018 foi, assim, o holandês Bas Dost: 33 golos. Sim, o homem do lanho na cabeça em Alcochete. Sim, o homem cabisbaixo na final do Jamor. Sim, o homem que rescindiu contrato com o Sporting. Sim, o homem que Sousa Cintra convenceu a regressar. Sim, o homem que agora aparece em campo de sorriso rasgado marcou 33 golos em 2018 e é o melhor marcador em Portugal: 17 de janeiro a maio, 16 de agosto a dezembro. Ou antes: de agosto a dezembro sem contar com setembro e outubro e ainda metade de agosto: 24 na liga, 5 na Taça de Portugal, 2 na Liga Europa e ainda 2 na Taça da Liga. O Sporting, sem Bas Dost, é algo bem diferente. Tal como diria La Palisse. Ou mesmo José Peseiro. Ele e Bruno Fernandes marcaram, juntos, nada menos de 55 golos em 2018. É muito golo.