Orgulho e preconceito
O jogo só pode ser defendido pelos jogadores e pelos árbitros
DEI por mim, ontem, a vibrar com o inigualável espírito e os dois golos de Cristiano Ronaldo, a dança de Messi, a magia de Mbappé e o toque artístico de Neymar e a desfrutar do verdadeiro do jogo de estrelas que A BOLA TV transmitiu, em direto e em exclusivo, a partir de Riade, Arábia Saudita. Bem sei que o jornalista não é, nem deve ser, notícia, mas desta vez permita-me o leitor a impossibilidade de revelar a emoção sentida por ver no canal de televisão desta casa o reencontro de Cristiano Ronaldo com Lionel Messi, dois anos e picos depois de se terem defrontado pela última vez.
A BOLA TV não tem, como todos sabem, a dimensão de outros canais de televisão, mas carrega a história de quase oito décadas de A BOLA e carrega, sobretudo, a paixão por fazer, diariamente, mais e melhor informação, mais e melhor comunicação, mais e melhor ligação com quem nos segue, há muito, um pouco por toda a diáspora portuguesa espalhada pelos quatro cantos do mundo.
Ao ver Cristiano Ronaldo e Lionel Messi entrar-me pelos olhos adentro através da transmissão direta e exclusiva com que A BOLA TV conseguiu mimar todos os seus mais fiéis seguidores, o leitor que me perdoe, de novo, mas não pude deixar de sentir especial orgulho nesta equipa de trabalho de A BOLA, que se dedica de alma e coração ao que faz, num tempo tão particularmente difícil como aquele que vivemos, sobretudo do ponto de vista económico, mas também social, e num país onde até a democracia, não estando, evidentemente, em causa, continua a sofrer muito as dores da ganância, da falta de integridade, ética, transparência e dignidade de uma parte das elites dirigentes, que tanto nos abalam a crença no futuro.
Momento talvez mais alto da história do nosso canal de televisão, seguramente com forte impacto na audiência das operadoras que distribuem o sinal de A BOLA TV, reunindo, de uma vez só, estrelas maiores do futebol atual como Cristiano Ronaldo, Messi, Mbappé, Neymar, mais os nossos Danilo, Renato Sanches, Vitinha e Nuno Mendes, bem pode toda a família profissional de A BOLA crer no mérito (e não na influência), no trabalho (e não no lóbi) e na dedicação (e não no poder do sistema) como única forma de preservar a liberdade e a independência e de tornar real o sonho de quem faz da vida verdadeira paixão por comunicar.
Bem sei que os jornalistas não são, nem devem, ser notícia, mas desta vez, sentimo-nos perdoados por esta pequena vaidade de nos olharmos com tanto orgulho, para toda uma equipa que coloca todos os dias nas bancas o diário desportivo de maior referência em Portugal, perto de chegar à proveta idade de 78 anos, que move no mundo digital abola.pt, unindo, por todo o mundo, os que falam a língua de Camões, Eça e Pessoa e faz chegar a casa de muitos de nós essa desafiante aventura de produzir, realizar e comunicar um canal de televisão, A BOLA TV, que poucos imaginariam de pé ao fim, já, de mais de dez anos de prova de amor pelo que se faz, a que devemos juntar uma especializada publicação sobre o mundo automóvel, a AUTOFOCO, que só igual dedicação e paixão impediram que a enxurrada da pandemia nos levasse. O bom da história não é apenas o de nos contar memórias. A história ajuda-nos a sentir o peso da responsabilidade.
Acredite, pois, o leitor que continuaremos a fazer o que nos for humanamente possível para honrar a história de A BOLA, defendendo o incontornável legado de independência e integridade que sempre elevaram as cinco letras mágicas de A BOLA, como lhe chamava o bom e velho Vítor Santos, inigualável chefe de redação deste jornal até ao início da década de 90 do último século, mesmo sujeitos, hoje, às circunstâncias de um mundo que podia e devia estar melhor e de um tempo que podia, e devia, ser já menos bem tormentoso e instável, num mundo ainda muito derrotado pela marcada e significativa ausência, nas relações sociais, de alguns dos mais nobres valores da vida.
Haja esperança!
CREIO que o futebol não precisará que continuemos a discutir penáltis como se estivéssemos a decidir o futuro de alguém. Mas também julgo que não fará bem ao futebol continuar a alimentar uma certa cultura de engano que tanta escola fez no futebol português, sobretudo durante as últimas décadas do século passado.
A propósito do último dérbi, por sinal tão efervescente, intenso, emotivo, não muito bem jogado, mas sempre imprevisível, que levou à Luz mais de 62 mil pessoas para verem o Benfica-Sporting, parece-me que valerá a pena manter o debate sobre essa determinada cultura de jogo que o impede, tantas vezes, de ser servido limpo aos adeptos e apenas favorece aqueles que só querem vencer, faça-se o que se fizer, custe o que custar, doa a quem doer.
Não discuto a qualificação para grande penalidade da falta do jovem António Silva sobre o menos jovem Paulinho, que valeu ao Sporting chegar, então, a 2-1 sobre o Benfica, domingo, na Luz. Mas, com todo o respeito pelos especialistas, parece-me legítimo que se discuta onde está, nesse lance, o erro claro e óbvio para que o árbitro fosse rever a primeira decisão de nada assinalar.
AINDA agora estou a ver se consigo descortinar onde terá tocado o defesa encarnado no seu adversário para lhe provocar aquela queda e, muito particularmente, aquele salto para a frente, tipo gato, que o avançado leonino promoveu com espetacular e exuberante aparato. Arriscando, como sempre, todo o tipo de críticas (quem emite, com respeito, mas sem preconceito, qualquer opinião é e deve ser escrutinado), a verdade é que, admitindo a existência de contacto, enfim, no pé direito de Paulinho, porventura um pouco, talvez, mais acima, admito, confesso que jamais deverei ver-me convencido, por mais especialistas que sejam os oradores, da naturalidade daquela queda do jogador do Sporting na sequência daquela ação do jovem defesa adversário. A meu ver, desculpem-me os mais ortodoxos, é esse o ponto, o espírito da coisa - tem que ver com a tentativa de ludibriar, a tal cultura do engano e da simulação, ou a já tantas vezes comentada estratégia de se conseguir por linhas tortas o que deveria ser apenas conquistado, em jogo, por linhas direitas.
No fundo, e apenas para exemplificar, aquele tipo de ação de um jogador que, sentindo um toque no peito, se agarra, com ar trágico e doloroso, à cara, como se os que seguem apaixonadamente o jogo devessem ser tratados como consumidores idiotas, apenas por quererem, tão obcecadamente, vencer.
O perigo de transformar o jogo num jogo menos decente é precisamente o de alimentarmos e aplaudirmos o engano e o de legitimarmos essa cultura de engano como modo de aniquilar o opositor.
Voltando à explicação dos especialistas, que consideraram claro e óbvio o erro cometido pelo árbitro no julgamento do lance entre Silva e Paulinho, que o levou (e bem, na opinião da maioria) para a revisão das imagens no tribunal do vídeo, pergunto se a clara (e, parece-me, óbvia) gravata que um jogador do Sporting, no caso o intenso e sempre muito competitivo Matheus Reis, fez ao rapidíssimo e, por isso, muito vulnerável jogador do Benfica, Rafa, no interior da área leonina, não teria sido, igualmente, caso para o julgamento do árbitro de campo ser considerado erro claro e óbvio, e encaminhá-lo também para o replay das imagens no vídeo?
A credibilidade do jogo só pode ser preservada pela coerência e transparência do critério dos árbitros (e das nomeações, já agora), de modo a que os adeptos compreendam as decisões e admitam os naturais erros. Só pode ser preservada pela atitude profissional e ética do comportamento dos jogadores. Lutar e competir não pode significar enganar ou ludibriar. Devemos exigir que, pelo menos dentro do campo, se jogue um jogo viril, mas leal, intenso, mas sem maldade, competitivo, mas correto, discutido e jogado em cada duelo como se fosse, porventura, o último. Um jogo limpo. Porque fora dele, Deus nos livre de ser, alguma vez, verdade o que, por vezes, imaginaremos!...
VOLTO ao grande dérbi de Lisboa, que deve ser considerado o melhor dérbi do mundo pelos adeptos dos dois grandes clubes, para colocar na mesa o modo como as equipas pareceram estar preparadas pelos dois treinadores para enfrentar o jogo. Uma ideia, de imdiato, me ficou: pareceu realmente o Sporting a equipa líder do campeonato com 12 pontos de vantagem sobre o Benfica e não o contrário. E o mérito não poderá ter sido apenas dos jogadores. E se não foi só dos jogadores, foi, muito, igualmente, do treinador leonino. Foi Amorim muito mais capaz de tirar pressão à equipa leonina e organizá-la, do que Schmidt foi capaz de libertar os jogadores da águia e orientá-los. Num dérbi, isso costuma fazer muita diferença. Como voltou a ver-se!
O jogo só pode ser defendido pelos jogadores e pelos árbitros