Olga Tokarczuk
Os tempos, estranhos, apresentam-nos novos escritores. A polaca Olga Tokarczuk é uma das últimas, em mim. Diz ela: a tarefa de um escritor é nomear coisas, não apenas narrá-las. Admiro a coragem com que alguém assume esta responsabilidade, a minúcia de incidir no detalhe, não só na passada embalada da estrutura. Narrar é manter, nomear é destruir, acrescenta ela.
No futebol, Jorge Jesus vive uma aura de Nobel, merecida. Ele nunca diria isto como Tokarczuk, mas no trabalho dele é isso que faz: vai à profundidade do jogador e não apenas à superfície do jogo.
Só nas passagens marcantes por Benfica e Sporting é fácil desfilar futebolistas redimensionados pelo treinador, alguns com carreiras que não progrediram sob outros comandos. Foram, digamos, por ele elevados: Maxi Pereira, Jardel, Javi Garcia, Coentrão, David Luiz, Cardozo, Gaitán, Witsel, Matic, Enzo Pérez, Rodrigo, Garay, Lima, Lindelof, Fejsa, Markovic, Jonas, Gonçalo Guedes, André Gomes, William Carvalho, João Mário, Adrien, Gelson Martins, Slimani. Alguns seriam o que foram com outros técnicos, claro. Cada um destes permite uma discussão. Uns estão a mais, outros a menos - não estão aqui os desaproveitados, entre os quais Bernardo Silva.
Parece-me mais importante que a lista seja aqui usada para compreender a imagem coletiva que criámos de Jesus como um treinador também de jogadores e não apenas um treinador do jogo.
Um outro técnico que agora chegasse levantaria, sobretudo, debate sobre o estilo do jogo, se ofensivo, flexível, exigente, comunicador, caro...
O mistério num treinador com a idade e o currículo de Jorge Jesus, porém, não é, agora, sobre a forma como a equipa do Benfica se apresentará, pois isso já o esperamos todos, mas antes sobre o que será ele capaz de fazer deste ou daquele jogador que já julgamos conhecer.
Nomear, não apenas narrar.